Se Dom Bosco vivesse hoje...

Quarta, 16 Agosto 2017 10:25 Escrito por 
Fui provocado a refletir sobre uma utopia em tempos de apagão das luzes. Pensar Dom Bosco atuando hoje nas realidades complexas das grandes cidades com os desafios da idade da mídia. Como seria esse homem?  

Dom Bosco foi um migrante que aprendeu no cotidiano a se equilibrar entre duas realidades: aquela da fome, do analfabetismo, da mudança de época e a do surgimento de uma nova sociedade liberal, da crise religiosa e, porque não dizer, de uma nova ordem social. Ele armou a corda da vida entre essas duas utopias e soube manter o equilíbrio, dando origem a um vasto movimento de admiradores e seguidores.

Hoje, Dom Bosco certamente continuaria equilibrando-se em meio à mudança de época (DAP, 44) que sacode o século XXI. Ele teria o olhar fixo no grande horizonte juvenil e, somente assim, manteria o equilíbrio de suas escolhas e ações. A utopia de Dom Bosco era muito clara: ver os jovens alegres, educar apara a cidadania, introduzir os adolescentes e jovens no Mistério de Jesus Cristo, ir ao poço da genialidade juvenil para saciar a fome e a sede de Deus, convocar pessoas para a ação evangelizadora educativa, crer nas possibilidades e habilidades dos jovens. Como um bom equilibrista ele ousaria inovar, romper os interditos da mesmice e do egocentrismo, chamaria a atenção de todos e manteria em suspense os indiferentes revelando que é possível seguir quando se acredita no outro; porque Dom Bosco foi o homem da pedagogia do encontro. Ele descia aos pátios das ruas da cidade de Turim, aos canteiros de obras, às praças para dialogar com os adolescentes e jovens abandonados pela sociedade, pela Igreja e pelas famílias.

Na época em que a Sociologia e a Psicologia começavam a despontar, Dom Bosco soube intuir que algo novo estava nascendo na sociedade. Hoje, Dom Bosco estaria mergulhado nas informações, nos debates sobre questões juvenis e sociais, conheceria as pesquisas e, sempre conectado aos sinais, não ficaria à margem da revolução midiática. Com certeza Dom Bosco ousaria e implementaria com senso crítico o melhor da tecnologia disponível para chegar à meta de suas utopias. Ele não foi um homem acomodado, indiferente às novidades. Pelo contrário, sabia discernir o joio do trigo.

Hoje, ele não perderia tempo nem oportunidades para responder prontamente aos apelos de Francisco: “Quero uma Igreja em saída”. Certamente Dom Bosco construiria uma grande e ousada rede de ações, com parcerias engenhosas para criar novos pátios de educação e evangelização, trabalho, experiência religiosa, presença em ambientes existências dos jovens, ou seja, não descansaria enquanto não tivesse além do possível; porque Dom Bosco vivia “como se visse o invisível”.

 

Um projeto com os jovens

No rol dos grandes fundadores, Dom Bosco teria um “projeto político” para realizar com os jovens em parceira com as forças vivas da sociedade. Nestes tempos em que a cidadania está em crise, ele recriaria o modelo de honesto cidadão como ação política de homens e mulheres com clara visão de sociedade em mudança, porém, com a capacidade de intervir como sal, luz e fermento no mundo.

Dom Bosco não aceitaria ex-alunos e ex-alunas apenas agarrados ao passado, mas incentivaria pessoas com responsabilidade social, prontas a devolver com generosidade o que receberam em ações voluntárias e permanentes na sociedade com novas formas de juízo, de ver a realidade, de gerar políticas públicas de qualidade e, sobretudo, formaria uma Família Salesiana num único projeto de missão.

Assim como ele chegou a propor uma única Constituição e Regulamentos para os salesianos internos (consagrados) e salesianos externos (leigos e leigas), hoje Dom Bosco retomaria este projeto para reacender a chama da expansão carismática salesiana. Penso que Dom Bosco não se contentaria com o que somos hoje. Ele nos convocaria a redesenhar nossas presenças, e nos envolveria num empreendimento compacto, marchando unidos sem nostalgias do passado, mas com metas claras, objetivos eficazes e resultados significativos.

Acredito que, na Amazônia, Dom Bosco teria o dedo no mapa para continuar a linha imaginária de novas presenças, unindo numa rede solidária os SDB e as FMA em ações conjuntas, rompendo o isolamento em vista da salvação das juventudes, tendo como parceiros os leigos e as leigas da Família Salesiana. Ele era um homem de utopias, um grande fundador, um sonhador movido pelo Espírito Santo, pelo discernimento e gradualidade das opções.

 

Olhar profético

Dom Bosco encantaria os jovens não apenas com a música e o esporte, mas com o engajamento em ações de grande significado, sobretudo com seu olhar profético.

O Servo de Deus Luís Variara narra como o olhar de Dom Bosco o encantou. Ele entrou no Oratório de Valdocco adolescente, nos últimos anos de vida de Dom Bosco. Era cada vez mais difícil ver o fundador, devido aos problemas de saúde, contudo, num dia de sol brilhante, o enfermeiro resolveu levar Dom Bosco para passear. Espalhou-se pelos pátios a notícia. Era a chance de ver o santo dos jovens. Variara conseguiu subir numa coluna e ficou na expectativa. De repente desceram Dom Bosco numa cadeira, todos gritavam: Dom Bosco! Dom Bosco! Naquela confusão, o olhar de Dom Bosco cruzou com o de Variara. Os dois se olharam por alguns instantes. O adolescente encantado gritou: “Dom Bosco olhou pra mim”!

Esse olhar encantou e encanta ainda hoje. Por isto, ele, Dom Bosco, aproveitaria da sedução que muitos sentem pelo novo, pela aventura, pelo risco social, religioso e político, para envolvê-los em ações radicais. Para tanto, seria exigente e radical, como sempre foi, mas sem perder a doçura e a alegria. Com certeza, não aceitaria um estilo de vida cristã e consagrada sedentária, mas provocaria a todos, sobretudo os jovens a sair da mesmice, das pequenas ações, dos projetos intimistas, sempre mantendo o equilíbrio entre o presente e o futuro. Foi desse olhar que surgiu um Variara fundador de congregação religiosa e grande missionário na Colômbia.

A formação de salesianos e salesianas, a partir desse olhar, daria um salto de qualidade entre o intelectual e o pastoral. Faz-se urgente formar novos pastores e pastoras segundo o coração de Deus, isto requer pessoas ousadas, livres, responsáveis, protagonistas, fraternas e solidárias, capazes de alimentar os famintos, saciar os sedentos, proteger os fracos, socorrer os caídos, ouvir, ver, contemplar e tocar a presença misericordiosa de Jesus Cristo. Certamente, mais sensível à genialidade feminina, Dom Bosco daria maior protagonismo às mulheres. Trabalharia para convocar e formar leigos e leigas profetas de um mundo carente de Deus.

Essa utopia é a que me faz imaginar como seria se Dom Bosco vivesse hoje, para os jovens de hoje.

 

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Última modificação em Quarta, 27 Setembro 2017 11:37

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Se Dom Bosco vivesse hoje...

Quarta, 16 Agosto 2017 10:25 Escrito por 
Fui provocado a refletir sobre uma utopia em tempos de apagão das luzes. Pensar Dom Bosco atuando hoje nas realidades complexas das grandes cidades com os desafios da idade da mídia. Como seria esse homem?  

Dom Bosco foi um migrante que aprendeu no cotidiano a se equilibrar entre duas realidades: aquela da fome, do analfabetismo, da mudança de época e a do surgimento de uma nova sociedade liberal, da crise religiosa e, porque não dizer, de uma nova ordem social. Ele armou a corda da vida entre essas duas utopias e soube manter o equilíbrio, dando origem a um vasto movimento de admiradores e seguidores.

Hoje, Dom Bosco certamente continuaria equilibrando-se em meio à mudança de época (DAP, 44) que sacode o século XXI. Ele teria o olhar fixo no grande horizonte juvenil e, somente assim, manteria o equilíbrio de suas escolhas e ações. A utopia de Dom Bosco era muito clara: ver os jovens alegres, educar apara a cidadania, introduzir os adolescentes e jovens no Mistério de Jesus Cristo, ir ao poço da genialidade juvenil para saciar a fome e a sede de Deus, convocar pessoas para a ação evangelizadora educativa, crer nas possibilidades e habilidades dos jovens. Como um bom equilibrista ele ousaria inovar, romper os interditos da mesmice e do egocentrismo, chamaria a atenção de todos e manteria em suspense os indiferentes revelando que é possível seguir quando se acredita no outro; porque Dom Bosco foi o homem da pedagogia do encontro. Ele descia aos pátios das ruas da cidade de Turim, aos canteiros de obras, às praças para dialogar com os adolescentes e jovens abandonados pela sociedade, pela Igreja e pelas famílias.

Na época em que a Sociologia e a Psicologia começavam a despontar, Dom Bosco soube intuir que algo novo estava nascendo na sociedade. Hoje, Dom Bosco estaria mergulhado nas informações, nos debates sobre questões juvenis e sociais, conheceria as pesquisas e, sempre conectado aos sinais, não ficaria à margem da revolução midiática. Com certeza Dom Bosco ousaria e implementaria com senso crítico o melhor da tecnologia disponível para chegar à meta de suas utopias. Ele não foi um homem acomodado, indiferente às novidades. Pelo contrário, sabia discernir o joio do trigo.

Hoje, ele não perderia tempo nem oportunidades para responder prontamente aos apelos de Francisco: “Quero uma Igreja em saída”. Certamente Dom Bosco construiria uma grande e ousada rede de ações, com parcerias engenhosas para criar novos pátios de educação e evangelização, trabalho, experiência religiosa, presença em ambientes existências dos jovens, ou seja, não descansaria enquanto não tivesse além do possível; porque Dom Bosco vivia “como se visse o invisível”.

 

Um projeto com os jovens

No rol dos grandes fundadores, Dom Bosco teria um “projeto político” para realizar com os jovens em parceira com as forças vivas da sociedade. Nestes tempos em que a cidadania está em crise, ele recriaria o modelo de honesto cidadão como ação política de homens e mulheres com clara visão de sociedade em mudança, porém, com a capacidade de intervir como sal, luz e fermento no mundo.

Dom Bosco não aceitaria ex-alunos e ex-alunas apenas agarrados ao passado, mas incentivaria pessoas com responsabilidade social, prontas a devolver com generosidade o que receberam em ações voluntárias e permanentes na sociedade com novas formas de juízo, de ver a realidade, de gerar políticas públicas de qualidade e, sobretudo, formaria uma Família Salesiana num único projeto de missão.

Assim como ele chegou a propor uma única Constituição e Regulamentos para os salesianos internos (consagrados) e salesianos externos (leigos e leigas), hoje Dom Bosco retomaria este projeto para reacender a chama da expansão carismática salesiana. Penso que Dom Bosco não se contentaria com o que somos hoje. Ele nos convocaria a redesenhar nossas presenças, e nos envolveria num empreendimento compacto, marchando unidos sem nostalgias do passado, mas com metas claras, objetivos eficazes e resultados significativos.

Acredito que, na Amazônia, Dom Bosco teria o dedo no mapa para continuar a linha imaginária de novas presenças, unindo numa rede solidária os SDB e as FMA em ações conjuntas, rompendo o isolamento em vista da salvação das juventudes, tendo como parceiros os leigos e as leigas da Família Salesiana. Ele era um homem de utopias, um grande fundador, um sonhador movido pelo Espírito Santo, pelo discernimento e gradualidade das opções.

 

Olhar profético

Dom Bosco encantaria os jovens não apenas com a música e o esporte, mas com o engajamento em ações de grande significado, sobretudo com seu olhar profético.

O Servo de Deus Luís Variara narra como o olhar de Dom Bosco o encantou. Ele entrou no Oratório de Valdocco adolescente, nos últimos anos de vida de Dom Bosco. Era cada vez mais difícil ver o fundador, devido aos problemas de saúde, contudo, num dia de sol brilhante, o enfermeiro resolveu levar Dom Bosco para passear. Espalhou-se pelos pátios a notícia. Era a chance de ver o santo dos jovens. Variara conseguiu subir numa coluna e ficou na expectativa. De repente desceram Dom Bosco numa cadeira, todos gritavam: Dom Bosco! Dom Bosco! Naquela confusão, o olhar de Dom Bosco cruzou com o de Variara. Os dois se olharam por alguns instantes. O adolescente encantado gritou: “Dom Bosco olhou pra mim”!

Esse olhar encantou e encanta ainda hoje. Por isto, ele, Dom Bosco, aproveitaria da sedução que muitos sentem pelo novo, pela aventura, pelo risco social, religioso e político, para envolvê-los em ações radicais. Para tanto, seria exigente e radical, como sempre foi, mas sem perder a doçura e a alegria. Com certeza, não aceitaria um estilo de vida cristã e consagrada sedentária, mas provocaria a todos, sobretudo os jovens a sair da mesmice, das pequenas ações, dos projetos intimistas, sempre mantendo o equilíbrio entre o presente e o futuro. Foi desse olhar que surgiu um Variara fundador de congregação religiosa e grande missionário na Colômbia.

A formação de salesianos e salesianas, a partir desse olhar, daria um salto de qualidade entre o intelectual e o pastoral. Faz-se urgente formar novos pastores e pastoras segundo o coração de Deus, isto requer pessoas ousadas, livres, responsáveis, protagonistas, fraternas e solidárias, capazes de alimentar os famintos, saciar os sedentos, proteger os fracos, socorrer os caídos, ouvir, ver, contemplar e tocar a presença misericordiosa de Jesus Cristo. Certamente, mais sensível à genialidade feminina, Dom Bosco daria maior protagonismo às mulheres. Trabalharia para convocar e formar leigos e leigas profetas de um mundo carente de Deus.

Essa utopia é a que me faz imaginar como seria se Dom Bosco vivesse hoje, para os jovens de hoje.

 

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