A inteligência pastoral e a cultura da reflexão

Terça, 25 Julho 2017 18:45 Escrito por  Pe. Antônio de Assis Ribeiro, SDB
A inteligência pastoral e a cultura da reflexão iStock.com
Um dos temas mais significativos apresentado e debatido no Encontro Mundial dos Delegados de Pastoral Juvenil Salesiana foi a necessidade do cultivo da “inteligência pastoral” no processo de animação e governo da missão salesiana que nos pede “evangelizar educando e educar evangelizando”.   A expressão “inteligência pastoral” aparece na nova edição do Quadro Referencial da Pastoral Juvenil Salesiana (QRPJS, 2014, p. 124 e 258). A primeira vez, quando se fala dos desafios e atitudes fundamentais do educador salesiano no processo de dinamizar o PEPS da obra.  

Pela segunda vez a expressão “inteligência pastoral” aparece no contexto da promoção de uma pastoral juvenil orgânica e articulada. Para que seja tal, a pastoral deve ser consequência de “orientações e opções que derivam da avaliação atenta das situações a respondida com ‘caridade ardente e inteligência pastoral’ considerando seus desafios e as expectativas dos jovens” (QRPJS, 258).

 

A inteligência em questão

Uma das mais tristes ideias “pós-modernas” é aquela da “crise da razão”. Mas qual racionalidade está em crise, qual razão? É aquela que concebe a inteligência como puro instrumento de dominação, como meio de exploração da natureza e do outro! Muito mais que “instrumento”, a razão ou inteligência é a condição fundamental da nossa subjetividade, da nossa consciência a “ser” e “existir”.

Viver inteligentemente é saber estar em relação, conviver! O verdadeiro “mestre”, “doutor”, “phd”, “professor”... não é aquele que tem títulos ou cargos, mas quem sabe estar em relação com os outros. Essa atitude é muito importante do ponto de vista pastoral. Ela brota do dinamismo do “bom pastor” que tudo faz para preservar e promover a vida do seu rebanho. O amor é inteligente!

 

Fonte de recursos humanos

O distintivo do ser humano é a racionalidade. É do exercício da razão que tudo depende. A inteligência (intus+legere) é capacidade de leitura, de fazer hermenêutica (interpretar), de percepção, de identificar sentimentos, de fazer equações sem números, de fazer jogos mentais; é inquietude consciente.

Da inteligência dependem os nossos pensamentos, discernimentos, escolhas e visão da realidade.  Depende nossa capacidade de amar, querer, cuidar, promover, servir... Também a qualidade das nossas relações, que é a inteligência moral! Da inteligência depende o educar e nossa educação pessoal, pois quem é inteligente se cuida e assim pode cuidar os outros.

Da inteligência dependem nossas propostas e metas; nossos esforços, nossas virtudes, nossa bondade. O dinamismo contrário é deixar-se levar pelos impulsos desenfreados. Da nossa inteligência dependem os nossos atos, hábitos, atitudes e cultura!

 

A virtude da reflexibilidade

A evangelização não é uma atividade alienada das grandes dimensões da pessoa humana, muito pelo contrário. Ela nos compromete por inteiro tocando todas as dimensões da vida do evangelizador: sua inteligência, afetividade, vontade, sexualidade, consciência, espiritualidade etc. Uma das necessidades da inteligência pastoral é a promoção da “cultura da reflexão”, pois a pastoral não é uma ação impulsiva.

A cultura da reflexão pressupõe a aquisição do hábito e da virtude da reflexibilidade. O hábito da reflexão nos livra da mediocridade (pastoral e profissional), do pragmatismo, do cansaço patológico (síndrome de bournout), do agir por impulsividade.

A virtude da reflexibilidade é a meta da “inteligência pastoral” ou profissional. A reflexibilidade é evidente sinal de zelo, cuidado e atenção consigo mesmo e com aquilo que estamos fazendo... O ativismo (ação desenfreada) é um inimigo fatal da qualidade de vida e de ação.Ao contrário, a reflexibilidade nos coloca em contínua atitude de discernimento, de escuta, de prudência, de busca de compreensão da realidade com suas novas demandas. A pastoral (como toda vida profissional) deve ser propositiva.

A reflexibilidade é uma atitude de contínuo repensar e de aprofundamento daquilo que estamos fazendo: por quê, a quem, como, para quê...!? Levando em consideração princípios e exigências fundamentais. A ausência da cultura da reflexão promove a superficialidade e a rotina estéril que nos levam a perder o sentido mais profundo daquilo que fazemos e somos.

Atitudes fundamentais consequentes da reflexibilidade são, por exemplo: a capacidade de fazer memória, visão aberta, serenidade, fundamentação, sensibilidade interdisciplinar, escuta, capacidade de confronto crítico, senso de responsabilidade, proteção contra de atitudes extremistas (ideológicas) negativas, sensibilidade avaliativa, fidelidade ao essencial, visão de futuro e vontade de estar sempre aprendendo...

 

Padre Antônio de Assis Ribeiro, SDB, é coordenador da Comissão Nacional da PJS.

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Última modificação em Quarta, 09 Agosto 2017 21:21

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A inteligência pastoral e a cultura da reflexão

Terça, 25 Julho 2017 18:45 Escrito por  Pe. Antônio de Assis Ribeiro, SDB
A inteligência pastoral e a cultura da reflexão iStock.com
Um dos temas mais significativos apresentado e debatido no Encontro Mundial dos Delegados de Pastoral Juvenil Salesiana foi a necessidade do cultivo da “inteligência pastoral” no processo de animação e governo da missão salesiana que nos pede “evangelizar educando e educar evangelizando”.   A expressão “inteligência pastoral” aparece na nova edição do Quadro Referencial da Pastoral Juvenil Salesiana (QRPJS, 2014, p. 124 e 258). A primeira vez, quando se fala dos desafios e atitudes fundamentais do educador salesiano no processo de dinamizar o PEPS da obra.  

Pela segunda vez a expressão “inteligência pastoral” aparece no contexto da promoção de uma pastoral juvenil orgânica e articulada. Para que seja tal, a pastoral deve ser consequência de “orientações e opções que derivam da avaliação atenta das situações a respondida com ‘caridade ardente e inteligência pastoral’ considerando seus desafios e as expectativas dos jovens” (QRPJS, 258).

 

A inteligência em questão

Uma das mais tristes ideias “pós-modernas” é aquela da “crise da razão”. Mas qual racionalidade está em crise, qual razão? É aquela que concebe a inteligência como puro instrumento de dominação, como meio de exploração da natureza e do outro! Muito mais que “instrumento”, a razão ou inteligência é a condição fundamental da nossa subjetividade, da nossa consciência a “ser” e “existir”.

Viver inteligentemente é saber estar em relação, conviver! O verdadeiro “mestre”, “doutor”, “phd”, “professor”... não é aquele que tem títulos ou cargos, mas quem sabe estar em relação com os outros. Essa atitude é muito importante do ponto de vista pastoral. Ela brota do dinamismo do “bom pastor” que tudo faz para preservar e promover a vida do seu rebanho. O amor é inteligente!

 

Fonte de recursos humanos

O distintivo do ser humano é a racionalidade. É do exercício da razão que tudo depende. A inteligência (intus+legere) é capacidade de leitura, de fazer hermenêutica (interpretar), de percepção, de identificar sentimentos, de fazer equações sem números, de fazer jogos mentais; é inquietude consciente.

Da inteligência dependem os nossos pensamentos, discernimentos, escolhas e visão da realidade.  Depende nossa capacidade de amar, querer, cuidar, promover, servir... Também a qualidade das nossas relações, que é a inteligência moral! Da inteligência depende o educar e nossa educação pessoal, pois quem é inteligente se cuida e assim pode cuidar os outros.

Da inteligência dependem nossas propostas e metas; nossos esforços, nossas virtudes, nossa bondade. O dinamismo contrário é deixar-se levar pelos impulsos desenfreados. Da nossa inteligência dependem os nossos atos, hábitos, atitudes e cultura!

 

A virtude da reflexibilidade

A evangelização não é uma atividade alienada das grandes dimensões da pessoa humana, muito pelo contrário. Ela nos compromete por inteiro tocando todas as dimensões da vida do evangelizador: sua inteligência, afetividade, vontade, sexualidade, consciência, espiritualidade etc. Uma das necessidades da inteligência pastoral é a promoção da “cultura da reflexão”, pois a pastoral não é uma ação impulsiva.

A cultura da reflexão pressupõe a aquisição do hábito e da virtude da reflexibilidade. O hábito da reflexão nos livra da mediocridade (pastoral e profissional), do pragmatismo, do cansaço patológico (síndrome de bournout), do agir por impulsividade.

A virtude da reflexibilidade é a meta da “inteligência pastoral” ou profissional. A reflexibilidade é evidente sinal de zelo, cuidado e atenção consigo mesmo e com aquilo que estamos fazendo... O ativismo (ação desenfreada) é um inimigo fatal da qualidade de vida e de ação.Ao contrário, a reflexibilidade nos coloca em contínua atitude de discernimento, de escuta, de prudência, de busca de compreensão da realidade com suas novas demandas. A pastoral (como toda vida profissional) deve ser propositiva.

A reflexibilidade é uma atitude de contínuo repensar e de aprofundamento daquilo que estamos fazendo: por quê, a quem, como, para quê...!? Levando em consideração princípios e exigências fundamentais. A ausência da cultura da reflexão promove a superficialidade e a rotina estéril que nos levam a perder o sentido mais profundo daquilo que fazemos e somos.

Atitudes fundamentais consequentes da reflexibilidade são, por exemplo: a capacidade de fazer memória, visão aberta, serenidade, fundamentação, sensibilidade interdisciplinar, escuta, capacidade de confronto crítico, senso de responsabilidade, proteção contra de atitudes extremistas (ideológicas) negativas, sensibilidade avaliativa, fidelidade ao essencial, visão de futuro e vontade de estar sempre aprendendo...

 

Padre Antônio de Assis Ribeiro, SDB, é coordenador da Comissão Nacional da PJS.

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