Um grande jogo de amor

Sexta, 22 Julho 2016 15:42 Escrito por 
Além da homenagem que queremos prestar a Francisco de Sales, é importante lembrarmos, neste mês em que realizam-se as Olimpíadas Mundiais no Brasil, do grande jogo de amor que acontece na história da humanidade entre Deus e a pessoa humana.

Em agosto de 1616, foi publicado em Lyon, na França, o Tratado do Amor de Deus, escrito por São Francisco de Sales. Estamos, portanto, celebrando 400 anos do lançamento desta obra que é considerada por muitos como “a Carta Magna do humanismo cristão”. Como Família Salesiana de Dom Bosco e humanistas, estamos também ligados à espiritualidade do Bispo de Genebra. Por isso, além da homenagem que queremos prestar a Francisco de Sales, é importante lembrarmos, neste mês em que acontecem as Olimpíadas Mundiais no Brasil, do grande jogo de amor que acontece na história da humanidade entre Deus e a pessoa humana, e que foi narrado no Tratado do Amor de Deus.

Francisco de Sales tinha em mente escrever “A Vida da Santa Caridade”. Mas, ao longo de quase dez anos, o trabalho foi evoluindo para uma obra teológica, uma “espécie de catecismo da vida de união a Deus”, como diz André Ravier. É uma obra pastoral. Francisco escreveu sobre o amor para que seus diocesanos pudessem vivenciar e praticar melhor o primeiro mandamento (amar a Deus). Ele pretendia escrever outro volume para tratar do amor ao próximo. Infelizmente morreu antes disso.

Também nesse livro, como já o fizera no outro (Introdução à Vida Devota - Filoteia), ele cria um personagem fictício, que chama de “Teótimo”, “o cristão adulto, espiritualmente maduro”. Francisco diz que Teótimo “é o próprio espírito humano, que deseja fazer progressos no amor de Deus, espírito que está igualmente nas mulheres como nos homens.” Quando, em 15 de agosto de 1616, enviou uma das primeiras cópias ao Duque de Bellegarde, assim se expressou: “peço-lhe, já que o seu afeto por mim às vezes o faz desejar uma carta minha, que tome este Tratado e leia um capítulo dele, imaginando-se que não há outro Teótimo no mundo a quem dirijo as minhas palavras e que o senhor é, entre todas as criaturas, o meu Teótimo mais querido”.

 

Os atletas do jogo

Ao longo da história da humanidade, sempre se escreveu sobre o amor. Jesus o viveu de modo integral e o Evangelho condensa toda essa história de amor. Francisco diz que escreveu o que aprendeu dos outros. Mas seu trabalho é original.

Deus é Amor. Tem o desejo de Se “comunicar”, de dar e de Se dar. Este é o verbo usado ao longo de todo o Tratado para mostrar como Deus entra em contato com a pessoa humana e esta com Deus. Desta “comunicação”, Deus cria o mundo, os seres e finalmente a sua última “obra”: o homem e a mulher. Baseando-se no salmo que diz “Fizeste-o pouco menos que um deus”, Francisco escreve: “o homem é a perfeição do universo”. “Tendo criado o homem à Sua imagem e semelhança, Deus quer que tudo nele seja orientado pelo amor e para o amor, como acontece em Si próprio”. Como diz Ravier, “um amor que comete loucuras para se fazer amar e um amor que é livre em relação aos seus amores. Que desafio! O jogo começa para todo o homem logo que nasce, e prolonga-se por toda a eternidade”.

 

A praça esportiva

Assim como temos estádios e locais para a prática dos esportes, também temos um lugar onde se joga o jogo do amor. Para Francisco de Sales, é no íntimo mais íntimo de cada ser humano. Seria na nossa consciência. Ou, como gostamos de usar simbolicamente, no nosso coração. É no coração que Deus chama cada pessoa humana para amá-Lo e para amar o próximo. Ali, no coração, a pessoa aceita ou recusa, com toda a liberdade.

 

A regra do jogo

O jogo do amor acontece em cada coração, em cada instante e em qualquer situação. Percebemos dentro de nós a voz de Deus que nos impele a “fazer o bem”. Quando aceitamos, vamos fazendo progressos na fé e no amor. Francisco diz que os “bons crescem como a aurora do dia, de esplendor em esplendor”. Pode ser que “durante o jogo” alguém se esquive ou recuse. O que faz então Deus, segundo Sales? Na sua misericórdia recomeça tudo, do zero! Tenta impelir a pessoa e, se esta aceita, recomeça tudo, como antes da falta. É interessante observar esta regra do jogo. É uma regra de amor incondicional.

 

A final do jogo do amor divino

Quando jogamos, pretendemos sempre ganhar. O que Deus pretende neste jogo divino do amor? Ele procura fazer com que as pessoas se unam a Ele, fazer de nós, em Jesus Cristo, seus “filhos”. É um jogo que nunca termina aqui na terra. Francisco descreve este “jogo” no livro VI do Tratado. Aos olhos de Francisco existe, porém, alguém que já saiu vitoriosa deste jogo divino: foi Maria. Ela só poderia “morrer de amor pelo seu Filho”, pois ela “viveu da vida do seu Filho”.

Nós, Família Salesiana de Dom Bosco, também temos o nosso tratado do amor, vivenciado e escrito por Dom Bosco: o Sistema Preventivo. Talvez, depois de ler o Tratado do Amor de Deus, de São Francisco de Sales, poderíamos dizer que Dom Bosco o traduziu de forma magistral no seu Sistema Preventivo. Sim, porque o essencial é o amor, que Dom Bosco traduz por “amorevolezza”. Amor que se comunica. Amor manifestado. A este respeito, o Papa Bento XVI, comentando o Tratado do Amor de Deus, assim se manifestou: “No ápice da união com Deus, além dos repentes de êxtase contemplativo, coloca-se aquele refluir de caridade concreta, que atenta para todas as necessidades dos outros e que ele chama de ‘êxtase da vida e das obras’”.

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Última modificação em Segunda, 25 Julho 2016 16:24

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Um grande jogo de amor

Sexta, 22 Julho 2016 15:42 Escrito por 
Além da homenagem que queremos prestar a Francisco de Sales, é importante lembrarmos, neste mês em que realizam-se as Olimpíadas Mundiais no Brasil, do grande jogo de amor que acontece na história da humanidade entre Deus e a pessoa humana.

Em agosto de 1616, foi publicado em Lyon, na França, o Tratado do Amor de Deus, escrito por São Francisco de Sales. Estamos, portanto, celebrando 400 anos do lançamento desta obra que é considerada por muitos como “a Carta Magna do humanismo cristão”. Como Família Salesiana de Dom Bosco e humanistas, estamos também ligados à espiritualidade do Bispo de Genebra. Por isso, além da homenagem que queremos prestar a Francisco de Sales, é importante lembrarmos, neste mês em que acontecem as Olimpíadas Mundiais no Brasil, do grande jogo de amor que acontece na história da humanidade entre Deus e a pessoa humana, e que foi narrado no Tratado do Amor de Deus.

Francisco de Sales tinha em mente escrever “A Vida da Santa Caridade”. Mas, ao longo de quase dez anos, o trabalho foi evoluindo para uma obra teológica, uma “espécie de catecismo da vida de união a Deus”, como diz André Ravier. É uma obra pastoral. Francisco escreveu sobre o amor para que seus diocesanos pudessem vivenciar e praticar melhor o primeiro mandamento (amar a Deus). Ele pretendia escrever outro volume para tratar do amor ao próximo. Infelizmente morreu antes disso.

Também nesse livro, como já o fizera no outro (Introdução à Vida Devota - Filoteia), ele cria um personagem fictício, que chama de “Teótimo”, “o cristão adulto, espiritualmente maduro”. Francisco diz que Teótimo “é o próprio espírito humano, que deseja fazer progressos no amor de Deus, espírito que está igualmente nas mulheres como nos homens.” Quando, em 15 de agosto de 1616, enviou uma das primeiras cópias ao Duque de Bellegarde, assim se expressou: “peço-lhe, já que o seu afeto por mim às vezes o faz desejar uma carta minha, que tome este Tratado e leia um capítulo dele, imaginando-se que não há outro Teótimo no mundo a quem dirijo as minhas palavras e que o senhor é, entre todas as criaturas, o meu Teótimo mais querido”.

 

Os atletas do jogo

Ao longo da história da humanidade, sempre se escreveu sobre o amor. Jesus o viveu de modo integral e o Evangelho condensa toda essa história de amor. Francisco diz que escreveu o que aprendeu dos outros. Mas seu trabalho é original.

Deus é Amor. Tem o desejo de Se “comunicar”, de dar e de Se dar. Este é o verbo usado ao longo de todo o Tratado para mostrar como Deus entra em contato com a pessoa humana e esta com Deus. Desta “comunicação”, Deus cria o mundo, os seres e finalmente a sua última “obra”: o homem e a mulher. Baseando-se no salmo que diz “Fizeste-o pouco menos que um deus”, Francisco escreve: “o homem é a perfeição do universo”. “Tendo criado o homem à Sua imagem e semelhança, Deus quer que tudo nele seja orientado pelo amor e para o amor, como acontece em Si próprio”. Como diz Ravier, “um amor que comete loucuras para se fazer amar e um amor que é livre em relação aos seus amores. Que desafio! O jogo começa para todo o homem logo que nasce, e prolonga-se por toda a eternidade”.

 

A praça esportiva

Assim como temos estádios e locais para a prática dos esportes, também temos um lugar onde se joga o jogo do amor. Para Francisco de Sales, é no íntimo mais íntimo de cada ser humano. Seria na nossa consciência. Ou, como gostamos de usar simbolicamente, no nosso coração. É no coração que Deus chama cada pessoa humana para amá-Lo e para amar o próximo. Ali, no coração, a pessoa aceita ou recusa, com toda a liberdade.

 

A regra do jogo

O jogo do amor acontece em cada coração, em cada instante e em qualquer situação. Percebemos dentro de nós a voz de Deus que nos impele a “fazer o bem”. Quando aceitamos, vamos fazendo progressos na fé e no amor. Francisco diz que os “bons crescem como a aurora do dia, de esplendor em esplendor”. Pode ser que “durante o jogo” alguém se esquive ou recuse. O que faz então Deus, segundo Sales? Na sua misericórdia recomeça tudo, do zero! Tenta impelir a pessoa e, se esta aceita, recomeça tudo, como antes da falta. É interessante observar esta regra do jogo. É uma regra de amor incondicional.

 

A final do jogo do amor divino

Quando jogamos, pretendemos sempre ganhar. O que Deus pretende neste jogo divino do amor? Ele procura fazer com que as pessoas se unam a Ele, fazer de nós, em Jesus Cristo, seus “filhos”. É um jogo que nunca termina aqui na terra. Francisco descreve este “jogo” no livro VI do Tratado. Aos olhos de Francisco existe, porém, alguém que já saiu vitoriosa deste jogo divino: foi Maria. Ela só poderia “morrer de amor pelo seu Filho”, pois ela “viveu da vida do seu Filho”.

Nós, Família Salesiana de Dom Bosco, também temos o nosso tratado do amor, vivenciado e escrito por Dom Bosco: o Sistema Preventivo. Talvez, depois de ler o Tratado do Amor de Deus, de São Francisco de Sales, poderíamos dizer que Dom Bosco o traduziu de forma magistral no seu Sistema Preventivo. Sim, porque o essencial é o amor, que Dom Bosco traduz por “amorevolezza”. Amor que se comunica. Amor manifestado. A este respeito, o Papa Bento XVI, comentando o Tratado do Amor de Deus, assim se manifestou: “No ápice da união com Deus, além dos repentes de êxtase contemplativo, coloca-se aquele refluir de caridade concreta, que atenta para todas as necessidades dos outros e que ele chama de ‘êxtase da vida e das obras’”.

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