O Evangelho da Alegria de papa Francisco

Segunda, 15 Setembro 2014 21:02 Escrito por 
Em 2013, nosso papa Francisco escreveu uma Exortação Apostólica para toda a Igreja intitulada O Evangelho da Alegria. Corremos sempre o risco de nos deixarmos abater pelo medo, pelo sem sentido da vida, pela impotência diante da banalidade e da crueldade do mal... Como Bom Pastor, nosso papa levanta os ânimos abatidos, conforta os desesperados e se solidariza com os lutadores.

Linguagem simples e direta

A exortação de Francisco é um grito contra os profetas de desgraças (84), os prisioneiros da negatividade (159), a queixa, o lamento, a crítica, o remorso (159), as portas fechadas (47), a introversão eclesial (27), os espectadores duma estagnação estéril da Igreja (129), o excesso de diagnóstico (50), os esquemas enfadonhos (11), a globalização da indiferença (54), a psicologia do túmulo (83), o excessivo clericalismo (102). Estas são expressões utilizadas pelo próprio papa numa linguagem muito direta e contundente.

Ao mesmo tempo ela quer ser o anúncio do Evangelho da Alegria (Evangelii Gaudium), do caminho da beleza (24), da linguagem positiva, das portas abertas (47), do cheiro de ovelha (24), da humildade social (240), da multiformidade, complexidade e pluralismo.

Nosso papa usa também a linguagem do sonho e da utopia. “Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual do que à autopreservação” (27).

 

A centralidade da misericórdia

Na visão do papa, a misericórdia é a maior de todas as virtudes. “Compete-lhe debruçar-se sobre os outros e remediar as misérias alheias. Ora, isto é tarefa especialmente de quem é superior; é por isso que se diz que é próprio de Deus usar de misericórdia e é, sobretudo nisto, que se manifesta a sua onipotência” (37). As pessoas se comovem mais por um ponto positivo na Bolsa de Valores ou sua conta bancária do que com um ancião que passa frio e fome nas calçadas de nossa cidade. Globalizou-se a indiferença.

Neste sentido é importante uma reflexão de Francisco. Deus é onipotente, isto é, pode tudo. Só que a onipotência de Deus não se manifesta na prepotência, mas na misericórdia. Os fortes precisam manifestar e viver a misericórdia. Quem exerce autoridade também, a exemplo de Deus, deve exercê-la com atitudes de misericórdia. Ela se manifesta justamente em relação aos mais fracos. Há pessoas que são corajosas diante dos fracos e covardes diante dos poderosos. A misericórdia não aceita essas atitudes.

 

Universalidade com prioridades

Nem todas as pessoas, conteúdos e situações têm a mesma prioridade. O Evangelho de Jesus é dirigido a todos. O amor e a misericórdia de Deus dirigem-se a todos. No entanto, há prioridades no amor. “Hoje e sempre, os pobres são os destinatários privilegiados do Evangelho, e a evangelização dirigida gratuitamente a eles é sinal do Reino que Jesus veio trazer” (48). É a opção preferencial pelos pobres reafirmada pelo nosso papa Francisco.

O cristão, todo cristão, será julgado e será medido pelo amor que tiver para com os pobres. Eles se transformaram de excluídos e explorados em resíduos e sobras. Toda pessoa que nasce é um filho querido de Deus. Assim deve ser tratada e acolhida. Os bens do mundo devem servir a todos e não apenas a alguns. Esses bens não podem ser jogados ao mercado para ser desfrutados e acumulados pelos mais espertos e mais competentes. A maior competência de um ser humano é fazer com que os bens se multipliquem e sejam administrados para todos.

 

A força da atração

Há um elemento muito bonito proclamado fortemente pelo nosso papa. É o caminho da beleza (via pulchritudinis). As pessoas necessitam de pão e beleza, já dizia um poeta peruano. Pão para saciar a fome e beleza para dar sentido à vida. A Igreja cresce não por proselitismo, isto é, não pela força do arrastão, do convencimento, mas pela atração. Essa atração ela a exerce quanto mais humana ela for. O Evangelho de Jesus existe para nos tornar mais humanos. Deus assumiu a humanidade para que nós pudéssemos nos tornar divinos. Sem humanização não há evangelização.

Essa humanização se manifesta na fraqueza, na misericórdia, no despojamento, na fragilidade. Impressiona muito esta afirmação: “Repito aqui, para toda a Igreja, aquilo que muitas vezes disse aos sacerdotes e aos leigos de Buenos Aires: prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças” (49).

Até quando erramos, podemos acertar. Quem não se arrisca, não suja as mãos, não abre caminhos, nunca erra, mas também nunca acerta.

 

Uma Igreja que aprende com os outros

O Evangelho da Alegriaé um grito em favor da existência do outro. O outro existe, merece respeito, tem que viver e tem que ser ouvido. Em toda crítica ou sugestão do outro há sempre alguma razão e alguma verdade. Temos “o desafio de descobrir e transmitir a mística de viver juntos, misturar-nos, encontrar-nos, dar o braço, apoiar-nos, participar nesta maré um pouco caótica que pode transformar-nos numa verdadeira experiência de fraternidade, numa caravana solidária, numa peregrinação sagrada” (87).

Animo e estimulo você a ler esta exortação apostólica do papa Francisco. Nela você encontrará a razão e o fundamento de sua atratividade e de seu encantamento. Nela encontrará as atitudes e virtudes nas quais estão fundamentados seus atos. Este é um dos convites mais bonitos que fiz na minha vida até hoje. Quando Dom Bosco diz que devemos amar o papa, quer dizer que precisamos conhecer sua palavra e seus ensinamentos. Afinal, ninguém ama o que não conhece.

 

Padre Marcos Sandrini, SDB, é diretor da Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre, RS.

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Última modificação em Segunda, 15 Fevereiro 2021 12:58

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O Evangelho da Alegria de papa Francisco

Segunda, 15 Setembro 2014 21:02 Escrito por 
Em 2013, nosso papa Francisco escreveu uma Exortação Apostólica para toda a Igreja intitulada O Evangelho da Alegria. Corremos sempre o risco de nos deixarmos abater pelo medo, pelo sem sentido da vida, pela impotência diante da banalidade e da crueldade do mal... Como Bom Pastor, nosso papa levanta os ânimos abatidos, conforta os desesperados e se solidariza com os lutadores.

Linguagem simples e direta

A exortação de Francisco é um grito contra os profetas de desgraças (84), os prisioneiros da negatividade (159), a queixa, o lamento, a crítica, o remorso (159), as portas fechadas (47), a introversão eclesial (27), os espectadores duma estagnação estéril da Igreja (129), o excesso de diagnóstico (50), os esquemas enfadonhos (11), a globalização da indiferença (54), a psicologia do túmulo (83), o excessivo clericalismo (102). Estas são expressões utilizadas pelo próprio papa numa linguagem muito direta e contundente.

Ao mesmo tempo ela quer ser o anúncio do Evangelho da Alegria (Evangelii Gaudium), do caminho da beleza (24), da linguagem positiva, das portas abertas (47), do cheiro de ovelha (24), da humildade social (240), da multiformidade, complexidade e pluralismo.

Nosso papa usa também a linguagem do sonho e da utopia. “Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual do que à autopreservação” (27).

 

A centralidade da misericórdia

Na visão do papa, a misericórdia é a maior de todas as virtudes. “Compete-lhe debruçar-se sobre os outros e remediar as misérias alheias. Ora, isto é tarefa especialmente de quem é superior; é por isso que se diz que é próprio de Deus usar de misericórdia e é, sobretudo nisto, que se manifesta a sua onipotência” (37). As pessoas se comovem mais por um ponto positivo na Bolsa de Valores ou sua conta bancária do que com um ancião que passa frio e fome nas calçadas de nossa cidade. Globalizou-se a indiferença.

Neste sentido é importante uma reflexão de Francisco. Deus é onipotente, isto é, pode tudo. Só que a onipotência de Deus não se manifesta na prepotência, mas na misericórdia. Os fortes precisam manifestar e viver a misericórdia. Quem exerce autoridade também, a exemplo de Deus, deve exercê-la com atitudes de misericórdia. Ela se manifesta justamente em relação aos mais fracos. Há pessoas que são corajosas diante dos fracos e covardes diante dos poderosos. A misericórdia não aceita essas atitudes.

 

Universalidade com prioridades

Nem todas as pessoas, conteúdos e situações têm a mesma prioridade. O Evangelho de Jesus é dirigido a todos. O amor e a misericórdia de Deus dirigem-se a todos. No entanto, há prioridades no amor. “Hoje e sempre, os pobres são os destinatários privilegiados do Evangelho, e a evangelização dirigida gratuitamente a eles é sinal do Reino que Jesus veio trazer” (48). É a opção preferencial pelos pobres reafirmada pelo nosso papa Francisco.

O cristão, todo cristão, será julgado e será medido pelo amor que tiver para com os pobres. Eles se transformaram de excluídos e explorados em resíduos e sobras. Toda pessoa que nasce é um filho querido de Deus. Assim deve ser tratada e acolhida. Os bens do mundo devem servir a todos e não apenas a alguns. Esses bens não podem ser jogados ao mercado para ser desfrutados e acumulados pelos mais espertos e mais competentes. A maior competência de um ser humano é fazer com que os bens se multipliquem e sejam administrados para todos.

 

A força da atração

Há um elemento muito bonito proclamado fortemente pelo nosso papa. É o caminho da beleza (via pulchritudinis). As pessoas necessitam de pão e beleza, já dizia um poeta peruano. Pão para saciar a fome e beleza para dar sentido à vida. A Igreja cresce não por proselitismo, isto é, não pela força do arrastão, do convencimento, mas pela atração. Essa atração ela a exerce quanto mais humana ela for. O Evangelho de Jesus existe para nos tornar mais humanos. Deus assumiu a humanidade para que nós pudéssemos nos tornar divinos. Sem humanização não há evangelização.

Essa humanização se manifesta na fraqueza, na misericórdia, no despojamento, na fragilidade. Impressiona muito esta afirmação: “Repito aqui, para toda a Igreja, aquilo que muitas vezes disse aos sacerdotes e aos leigos de Buenos Aires: prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças” (49).

Até quando erramos, podemos acertar. Quem não se arrisca, não suja as mãos, não abre caminhos, nunca erra, mas também nunca acerta.

 

Uma Igreja que aprende com os outros

O Evangelho da Alegriaé um grito em favor da existência do outro. O outro existe, merece respeito, tem que viver e tem que ser ouvido. Em toda crítica ou sugestão do outro há sempre alguma razão e alguma verdade. Temos “o desafio de descobrir e transmitir a mística de viver juntos, misturar-nos, encontrar-nos, dar o braço, apoiar-nos, participar nesta maré um pouco caótica que pode transformar-nos numa verdadeira experiência de fraternidade, numa caravana solidária, numa peregrinação sagrada” (87).

Animo e estimulo você a ler esta exortação apostólica do papa Francisco. Nela você encontrará a razão e o fundamento de sua atratividade e de seu encantamento. Nela encontrará as atitudes e virtudes nas quais estão fundamentados seus atos. Este é um dos convites mais bonitos que fiz na minha vida até hoje. Quando Dom Bosco diz que devemos amar o papa, quer dizer que precisamos conhecer sua palavra e seus ensinamentos. Afinal, ninguém ama o que não conhece.

 

Padre Marcos Sandrini, SDB, é diretor da Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre, RS.

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