Um grito pela vida!

Quinta, 06 Março 2014 17:01 Escrito por  Ir. Maria Rita Zampiroli
Aceitei o Convite do Boletim Salesiano para partilhar minha experiência na Rede Um Grito Pala Vida, apesar de não gostar de escrever artigos ou dar entrevistas. Me senti na obrigação de contribuir com o que sei e vivo... Tive de pegar minhas anotações, pendrives, recorrer aos relatórios da equipe nacional de coordenação da Rede. Sou Rede, e falar da Campanha da Fraternidade é falar da Rede um Grito pela Vida.

A Rede um Grito pela Vida teve seu início na Casa de Encontros das Irmãs Oblatas do Santíssimo Redentor, em São Paulo, de 2 a 7 de outubro de 2006, contando com a presença de 34 religiosas de 20 Institutos, vindas de 14 estados do País. Esse encontro de formação sobre o tráfico de seres humanos foi preparado pela Organização Internacional para as Migrações (OIM), financiado pela Embaixada dos Estados Unidos junto à Santa Sé, em colaboração com a União Internacional das Superioras Maiores. Irmã Bernadette Sangma, FMA, coordenadora do projeto da UISG,entrou em contato com irmã Maris Bolzan, então presidente da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), solicitando a realização desse evento, que contou com a presença de quatro Filhas de Maria Auxiliadora.

No curso tomamos consciência dessa trágica chaga no cenário mundial, acarretada pelo processo de globalização econômica. O tráfico de seres humanos, que cresce cada vez mais, é uma rede altamente lucrativa que ocupa o terceiro lugar na economia mercadológica do crime organizado, perdendo apenas para os tráficos de drogas e de armas. É uma violação dos direitos humanos, que coisifica principalmente mulheres e crianças. Atinge cerca de 2,5 milhões de vítimas, movimentando aproximadamente 32 bilhões de dólares por ano. Estima-se que 700 mil mulheres e crianças passam todos os anos pelas fronteiras internacionais. Isto sem contabilizar o tráfico interno, que no nosso país é alarmante.

Frente a este clamor, nós, religiosas presentes, fomos desafiadas a encontrar luzes para resgatar de forma criativa a presença solidária e profética da vida religiosa no meio dos pobres como caminho de fidelidade ao Reino; de modo articulado, em rede, em parceria com outros organismos, movimentos e pastorais. Este foi o primeiro passo para a formação da rede intercongregacional que responderia com eficácia à problemática em questão. Saímos com o compromisso de buscar informações,criar grupos de estudo sobre o tema, repassar para nossas Congregações o que vimos e ouvimos, mapear o que existe em nossa realidade local e conhecer instituições que atuam no combate ao tráfico de pessoas. E nós, salesianas na preventividade, vimos ser este o nosso lugar.

 

Articuladas em Rede

O segundo encontro foi realizado já no ano seguinte, em 28 de março a 1 de abril de 2007, em Salvador, BA. Nesse encontro surge o nome: Rede Um Grito Pela Vida, e um termo de compromisso, que transcrevo na íntegra: “Interpeladas pela realidade gritante do TP e motivadas pelo seguimento de Jesus Cristo e respondendo aos apelos desta desafiante realidade, como Vida Consagrada Inserida, assumimos o compromisso de atuar na erradicação do tráfico de seres humanos articuladas em Rede: socializando informações; partilhando e fortalecendo ações de prevenção; articulando e integrando ações de apoio às vítimas, motivadas pela mística da Vida Consagrada e pelo seguimento de Jesus Cristo na Defesa da Vida”.

Respeitando a intercongregacionalidade, a equipe articuladora não parou mais de pensar na formação, na estrutura e em ações, sempre com os pés no chão da realidade e visão de futuro. Os regionais da CRB foram se organizando... Surgiu um subsídio, um roteiro para os grupos de reflexão e ação; realizou-se uma oficina no Fórum Social Mundial; a Rede marcou presença no Seminário Nacional da Vida Religiosa Inserida e Solidária em Recife; propôs-se a realização da Campanha da Fraternidade sobre o TSH; houve a articulação com outros grupos e organizações e o acompanhamento nos Estados para a formação dos Comitês de Enfrentamento ao TSH, entre outras ações.

Em 2009, criou-se a Rede Internacional da Vida Consagrada Contra o Tráfico de Seres Humanos “Talitakum” - uma rede de redes, que tem a finalidade de articular as forças e iniciativas existentes, otimizar os recursos com que conta a vida religiosa para a prevenção, a proteção/assistência, a sensibilização e a denúncia do trafico de seres humanos em favor de um maior impacto social e político, expressão de profecia conjunta.

 

Contexto e espiritualidade

Todos os encontros da Rede são marcados profundamente pela temática do tráfico de pessoas no contexto sociopolítico e econômico, mas o ponto alto é sempre o momento da mística e espiritualidade, onde a vida e a Palavra se entrelaçam, nos convidando a sair das beiradas e avançar para águas mais profundas. Nessa perspectiva, em dezembro de 2012 iniciamos o “tecimento” da Rede em Cachoeiro de Itapemirim, e durante o ano de 2013 participamos de diversas ações concretas, para a prevenção dessa prática ilegal.

Em Brasília, de 15 a 17 de novembro, realizou-se o VI encontro da Rede Um Grito pela Vida: éramos mais de 60 religiosas e religiosos, em um evento que ganhou caráter internacional pela participação de outras redes da vida religiosa contra o tráfico de seres humanos na América Latina, América Central e Europa. Nessa ocasião, lançamos umacampanha informativa e preventiva sobre o tráfico de pessoas antes e durante a Copa do Mundo de 2014: “Jogue a Favor da Vida”.

É por isso que entramos de cheio na Campanha da Fraternidade e, à luz da Estreia 2014, “colocamo-nos entre os jovens para salvá-los”, preveni-los da violência institucionalizada, das redes criminosas do tráfico humano, pois as crianças, os adolescentes e jovens são as vítimas em potencial deste negócio ilícito. “Somos chamadas/os a colaborar com Deus na sua missão, respondendo com dedicação, coragem, fidelidade, confiança e atuação com disponibilidade total” (Estreia 2014). Fomos ungidas pelo Batismo, para proclamar a liberdade e colocar-nos em defesa da dignidade humana!Eis-me aqui, Senhor, como discípula e agente de libertação!

 

Ir. Maria Rita Zampiroli, FMA, integra a comunidade das Irmãs Salesianas em Cachoeiro de Itapemirim, ES (Inspetoria Nossa Senhora da Penha).

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Um grito pela vida!

Quinta, 06 Março 2014 17:01 Escrito por  Ir. Maria Rita Zampiroli
Aceitei o Convite do Boletim Salesiano para partilhar minha experiência na Rede Um Grito Pala Vida, apesar de não gostar de escrever artigos ou dar entrevistas. Me senti na obrigação de contribuir com o que sei e vivo... Tive de pegar minhas anotações, pendrives, recorrer aos relatórios da equipe nacional de coordenação da Rede. Sou Rede, e falar da Campanha da Fraternidade é falar da Rede um Grito pela Vida.

A Rede um Grito pela Vida teve seu início na Casa de Encontros das Irmãs Oblatas do Santíssimo Redentor, em São Paulo, de 2 a 7 de outubro de 2006, contando com a presença de 34 religiosas de 20 Institutos, vindas de 14 estados do País. Esse encontro de formação sobre o tráfico de seres humanos foi preparado pela Organização Internacional para as Migrações (OIM), financiado pela Embaixada dos Estados Unidos junto à Santa Sé, em colaboração com a União Internacional das Superioras Maiores. Irmã Bernadette Sangma, FMA, coordenadora do projeto da UISG,entrou em contato com irmã Maris Bolzan, então presidente da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), solicitando a realização desse evento, que contou com a presença de quatro Filhas de Maria Auxiliadora.

No curso tomamos consciência dessa trágica chaga no cenário mundial, acarretada pelo processo de globalização econômica. O tráfico de seres humanos, que cresce cada vez mais, é uma rede altamente lucrativa que ocupa o terceiro lugar na economia mercadológica do crime organizado, perdendo apenas para os tráficos de drogas e de armas. É uma violação dos direitos humanos, que coisifica principalmente mulheres e crianças. Atinge cerca de 2,5 milhões de vítimas, movimentando aproximadamente 32 bilhões de dólares por ano. Estima-se que 700 mil mulheres e crianças passam todos os anos pelas fronteiras internacionais. Isto sem contabilizar o tráfico interno, que no nosso país é alarmante.

Frente a este clamor, nós, religiosas presentes, fomos desafiadas a encontrar luzes para resgatar de forma criativa a presença solidária e profética da vida religiosa no meio dos pobres como caminho de fidelidade ao Reino; de modo articulado, em rede, em parceria com outros organismos, movimentos e pastorais. Este foi o primeiro passo para a formação da rede intercongregacional que responderia com eficácia à problemática em questão. Saímos com o compromisso de buscar informações,criar grupos de estudo sobre o tema, repassar para nossas Congregações o que vimos e ouvimos, mapear o que existe em nossa realidade local e conhecer instituições que atuam no combate ao tráfico de pessoas. E nós, salesianas na preventividade, vimos ser este o nosso lugar.

 

Articuladas em Rede

O segundo encontro foi realizado já no ano seguinte, em 28 de março a 1 de abril de 2007, em Salvador, BA. Nesse encontro surge o nome: Rede Um Grito Pela Vida, e um termo de compromisso, que transcrevo na íntegra: “Interpeladas pela realidade gritante do TP e motivadas pelo seguimento de Jesus Cristo e respondendo aos apelos desta desafiante realidade, como Vida Consagrada Inserida, assumimos o compromisso de atuar na erradicação do tráfico de seres humanos articuladas em Rede: socializando informações; partilhando e fortalecendo ações de prevenção; articulando e integrando ações de apoio às vítimas, motivadas pela mística da Vida Consagrada e pelo seguimento de Jesus Cristo na Defesa da Vida”.

Respeitando a intercongregacionalidade, a equipe articuladora não parou mais de pensar na formação, na estrutura e em ações, sempre com os pés no chão da realidade e visão de futuro. Os regionais da CRB foram se organizando... Surgiu um subsídio, um roteiro para os grupos de reflexão e ação; realizou-se uma oficina no Fórum Social Mundial; a Rede marcou presença no Seminário Nacional da Vida Religiosa Inserida e Solidária em Recife; propôs-se a realização da Campanha da Fraternidade sobre o TSH; houve a articulação com outros grupos e organizações e o acompanhamento nos Estados para a formação dos Comitês de Enfrentamento ao TSH, entre outras ações.

Em 2009, criou-se a Rede Internacional da Vida Consagrada Contra o Tráfico de Seres Humanos “Talitakum” - uma rede de redes, que tem a finalidade de articular as forças e iniciativas existentes, otimizar os recursos com que conta a vida religiosa para a prevenção, a proteção/assistência, a sensibilização e a denúncia do trafico de seres humanos em favor de um maior impacto social e político, expressão de profecia conjunta.

 

Contexto e espiritualidade

Todos os encontros da Rede são marcados profundamente pela temática do tráfico de pessoas no contexto sociopolítico e econômico, mas o ponto alto é sempre o momento da mística e espiritualidade, onde a vida e a Palavra se entrelaçam, nos convidando a sair das beiradas e avançar para águas mais profundas. Nessa perspectiva, em dezembro de 2012 iniciamos o “tecimento” da Rede em Cachoeiro de Itapemirim, e durante o ano de 2013 participamos de diversas ações concretas, para a prevenção dessa prática ilegal.

Em Brasília, de 15 a 17 de novembro, realizou-se o VI encontro da Rede Um Grito pela Vida: éramos mais de 60 religiosas e religiosos, em um evento que ganhou caráter internacional pela participação de outras redes da vida religiosa contra o tráfico de seres humanos na América Latina, América Central e Europa. Nessa ocasião, lançamos umacampanha informativa e preventiva sobre o tráfico de pessoas antes e durante a Copa do Mundo de 2014: “Jogue a Favor da Vida”.

É por isso que entramos de cheio na Campanha da Fraternidade e, à luz da Estreia 2014, “colocamo-nos entre os jovens para salvá-los”, preveni-los da violência institucionalizada, das redes criminosas do tráfico humano, pois as crianças, os adolescentes e jovens são as vítimas em potencial deste negócio ilícito. “Somos chamadas/os a colaborar com Deus na sua missão, respondendo com dedicação, coragem, fidelidade, confiança e atuação com disponibilidade total” (Estreia 2014). Fomos ungidas pelo Batismo, para proclamar a liberdade e colocar-nos em defesa da dignidade humana!Eis-me aqui, Senhor, como discípula e agente de libertação!

 

Ir. Maria Rita Zampiroli, FMA, integra a comunidade das Irmãs Salesianas em Cachoeiro de Itapemirim, ES (Inspetoria Nossa Senhora da Penha).

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