"Dom Bosco, mestre da interatividade!"

Sexta, 29 Abril 2022 16:09 Escrito por  Padre Gildásio Mendes dos Santos
O sexto artigo da série "Dom Bosco e a realidade digital e virtual", aborda o tema da interatividade e, em particular, a maneira peculir com a qual o santo dos jovens a incentivava e cultivava.


Confira a reflexão do padre Gildásio Mendes dos Santos, conselheiro geral para a Comunicação Social (CS), organizador da série, sobre o assunto.

Dom Bosco, mestre da interatividade

'Interatividade' é uma palavra-chave no contexto da comunicação digital e virtual! Uma palavra relativamente nova! Palavra forte! Palavra que veio para mudar nossas relações! De uma criança brincando a um idoso ouvindo música on-line, todos estamos interagindo! Reflita, por exemplo, sobre os encontros presenciais, nos telefonemas ou nas mensagens de texto das redes sociais.

Mas que significa interatividade?

O ‘Oxford Reference Dictionary’ define interatividade como "qualquer forma de comunicação entre dois ou mais indivíduos que é dinamicamente moldada pelos participantes daquele intercâmbio. Quando é considerada como sendo uma propriedade do processo de comunicação, a interatividade é caracterizada como ativa e intencional, e ocorre apenas quando os papéis de emissor e receptor são completamente equivalentes”.


Obviamente, a interatividade exige um feedback dos telespectadores/ouvintes, para que o processo de comunicação possa ser moldado pela participação e envolvimento de todas as partes envolvidas. Por exemplo, ocorre interação quando um grupo de pessoas, durante uma conversa por videoconferência, compartilham imagens, sons, textos e, portanto, interagem entre si.

Uma segunda questão importante a ser levantada: o que a interatividade estabelece?

A interatividade é feita, acima de tudo, por uma pessoa em relação a outra pessoa ou grupo, por meio de dispositivos ou gadgets. Por exemplo, quando participamos de uma conferência ao vivo, o que ela representa em termos de relacionamento humano? Ela representa, acima de tudo, emoções, gestos, atitudes, ações que expressam nossa maneira de ver e perceber a realidade.


A interatividade coloca a minha pessoa, o meu “eu”, em relação com os outros. De certa forma, minha inteligência emocional e social manifesta-se em meus relacionamentos com os outros. Num encontro on-line, por exemplo, isso ocorre quando me manifesto a favor de uma opinião, quando concordo ou discordo de algo, quando expresso preocupação, aprovação ou desaprovação, ou inclusive quando dou risada, em todas estas ocasiões estou expressando o que sinto e o que penso, além de revelar minhas intenções e ideias. No processo de escutar o outro, de procurar compreender seu ponto de vista, de expressar empatia ou de buscar, juntos, soluções para determinado problema - estou estabelecendo uma interatividade. Assim como ocorre nos jogos, a interatividade também requer regras de participação, escuta, diálogo e feedback.


Neste ponto, gostaria de abordar brevemente uma questão acerca da interatividade por meio do celular, computador ou outra mídia. Não entraremos nestes aspectos específicos, mas é preciso dizer que nós, humanos, interagimos com dispositivos, com aplicativos, com emojis, símbolos, sons, imagens. O grupo ‘Human-Technology Interaction’ (HTI) estuda a maneira como interagimos com a tecnologia para compreender melhor e aprimorar a maneira como as pessoas interagem com os diferentes tipos de mídia.


Quando usamos tecnologia, serviços de internet e mídias sociais - para promover relacionamentos em equipe, para realizar ações de marketing ou atendimento ao cliente, ou até mesmo para criar um grupo em determinada rede social - usamos uma tecnologia que influenciará as pessoas: cognitiva, emocional e neurologicamente.

É tudo uma questão de interatividade!

Compreender a nossa relação com a tecnologia nos permite comunicar-nos melhor e de maneira mais ampla com as pessoas no ambiente on-line, e nos ajuda a interagir com elas no contexto da educação, da pesquisa, da evangelização, dos negócios e do entretenimento.


Retomemos o conceito inicial de interação: ela está relacionada com a nossa capacidade humana de nos conectarmos com os outros. Ocorre interação, pois, entre duas pessoas, quando jogam pingue-pongue, tocam música juntas, ou se apresentam num show.


As interações exigem ‘feedback’ entre as pessoas!

No caso da música, por exemplo, qual seria o meio? Os instrumentos musicais, a canção, o som... E quem está interagindo? Os músicos, o cantor, o cantor com o público, e assim por diante. A relação entre os cantores e o público também é interação. Portanto, a interação é uma forma pessoal e social de se relacionar com as pessoas em determinado ambiente.

Gostaria de mostrar, agora, como Dom Bosco interagiu com os jovens e criou excelentes instrumentos fazendo excelente uso da mídia de sua época (bandas de música, teatro [‘teatrinho’], brincadeiras, liturgia) para promover a interação!

Em primeiro lugar, Dom Bosco costumava interagir com seus jovens a partir de sua profunda maneira cognitiva e emocional de se relacionar com eles. Sua interação nascia de sua facilidade de compreendê-los, de interessar-se por eles, de motivar, abraçar e amar os jovens. Falando em termos psicológicos atuais (termos como afetividade, inteligência múltipla, inteligência emocional e social ou neurociências) poderíamos dizer que Dom Bosco tinha uma forte inteligência emocional, social e artística.


Dom Bosco possuía um nível de consciência particular e apresentava, por exemplo, uma grande capacidade de reconhecer emoções e sentimentos, de manifestar empatia com os talentos e habilidades das pessoas, assim como com suas fraquezas ou pontos em que elas precisavam melhorar, com seu grau de flexibilidade ou seu senso de responsabilidade. Ele apreciava a capacidade e a necessidade que as pessoas tinham de colaborar num grupo e de demonstrar compromisso e lealdade.


A partir desta capacidade como pessoa, educador e sacerdote, Dom Bosco aprendeu a identificar e a compreender quem era cada pessoa, o que cada uma podia fazer e quanto ele podia delas exigir para que pudessem crescer, criar e se comprometer no processo educativo; e também como elas poderiam transmitir os valores salesianos com os quais ele as havia impregnado.


Em sua época, Dom Bosco criou um sistema forte e eficaz, caracterizado por uma presença viva e amigável como educador: o envolvimento dos jovens nas atividades escolares, educativas, artísticas e religiosas, com liberdade para expressar suas motivações interiores em todas as atividades e, consequentemente, dar o melhor de si ao participar das atividades conjuntas. Desta forma, ele promovia a interatividade criativa sob forma de redes de relacionamentos sócio-afetivos.


O centro dessa referência afetiva, social e espiritual é a figura de Dom Bosco, que se tornou referência para todos sobre como interagir para educar, a partir de sua rica e profunda experiência de interatividade afetiva.


Alguns estudos sobre Dom Bosco (Stella, 1969) expressam com clareza e simplicidade como Dom Bosco amava: “o coração de Dom Bosco nunca deixou de amar, até o fim. A pedagogia de Dom Bosco identifica-se com toda a sua ação e toda a sua ação com a sua personalidade. A interioridade de Dom Bosco se concentra, em última análise, em seu coração. O coração como ele o percebia, "não apenas como órgão de amor, mas como parte central do nosso ser", no nível da natureza e da graça: o coração quer, o coração deseja, compreende e une, escuta o que se diz, inflama-se de amor, reflete, comove”.


Diversos estudos sobre a espiritualidade e o sistema educativo de Dom Bosco revelam que ele possuía uma enorme capacidade de estabelecer relações humanas (Stella, 1969; Braido, 2004; Afonso, 2002), de fascinar as pessoas, de exercer uma influência educativa sobre os jovens, de motivar, formar líderes, de criar redes de relacionamentos, de valer-se das artes para educar... de promover a interatividade!

Dom Bosco desenvolveu uma escola de educação ímpar, na qual a interatividade desempenha um papel muito importante. Ele intuitivamente compreendeu o que é o ser humano e como oferecer, aos indivíduos, o melhor, para que possam crescer e se desenvolver como bons seres humanos, abertos a si mesmos, aos outros, a Deus.
Uma vez que ele compreendia profundamente a realidade humana, ele sabia propor, a cada jovem, um caminho de crescimento espiritual. Era um educador que utilizava a música, o teatro e a própria liturgia como meio de interação com seus filhos, envolvendo-os criativamente como autores interativos.


Os jovens de ontem e de hoje são intrinsecamente interativos. Atualmente o mundo digital, virtual e de inteligência artificial, está exigindo cada vez mais interatividade.


Com Dom Bosco, há que caminhar com os jovens de acordo com os tempos!


Fonte: Padre Gildásio Mendes dos Santos

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Última modificação em Sexta, 06 Mai 2022 17:06

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"Dom Bosco, mestre da interatividade!"

Sexta, 29 Abril 2022 16:09 Escrito por  Padre Gildásio Mendes dos Santos
O sexto artigo da série "Dom Bosco e a realidade digital e virtual", aborda o tema da interatividade e, em particular, a maneira peculir com a qual o santo dos jovens a incentivava e cultivava.


Confira a reflexão do padre Gildásio Mendes dos Santos, conselheiro geral para a Comunicação Social (CS), organizador da série, sobre o assunto.

Dom Bosco, mestre da interatividade

'Interatividade' é uma palavra-chave no contexto da comunicação digital e virtual! Uma palavra relativamente nova! Palavra forte! Palavra que veio para mudar nossas relações! De uma criança brincando a um idoso ouvindo música on-line, todos estamos interagindo! Reflita, por exemplo, sobre os encontros presenciais, nos telefonemas ou nas mensagens de texto das redes sociais.

Mas que significa interatividade?

O ‘Oxford Reference Dictionary’ define interatividade como "qualquer forma de comunicação entre dois ou mais indivíduos que é dinamicamente moldada pelos participantes daquele intercâmbio. Quando é considerada como sendo uma propriedade do processo de comunicação, a interatividade é caracterizada como ativa e intencional, e ocorre apenas quando os papéis de emissor e receptor são completamente equivalentes”.


Obviamente, a interatividade exige um feedback dos telespectadores/ouvintes, para que o processo de comunicação possa ser moldado pela participação e envolvimento de todas as partes envolvidas. Por exemplo, ocorre interação quando um grupo de pessoas, durante uma conversa por videoconferência, compartilham imagens, sons, textos e, portanto, interagem entre si.

Uma segunda questão importante a ser levantada: o que a interatividade estabelece?

A interatividade é feita, acima de tudo, por uma pessoa em relação a outra pessoa ou grupo, por meio de dispositivos ou gadgets. Por exemplo, quando participamos de uma conferência ao vivo, o que ela representa em termos de relacionamento humano? Ela representa, acima de tudo, emoções, gestos, atitudes, ações que expressam nossa maneira de ver e perceber a realidade.


A interatividade coloca a minha pessoa, o meu “eu”, em relação com os outros. De certa forma, minha inteligência emocional e social manifesta-se em meus relacionamentos com os outros. Num encontro on-line, por exemplo, isso ocorre quando me manifesto a favor de uma opinião, quando concordo ou discordo de algo, quando expresso preocupação, aprovação ou desaprovação, ou inclusive quando dou risada, em todas estas ocasiões estou expressando o que sinto e o que penso, além de revelar minhas intenções e ideias. No processo de escutar o outro, de procurar compreender seu ponto de vista, de expressar empatia ou de buscar, juntos, soluções para determinado problema - estou estabelecendo uma interatividade. Assim como ocorre nos jogos, a interatividade também requer regras de participação, escuta, diálogo e feedback.


Neste ponto, gostaria de abordar brevemente uma questão acerca da interatividade por meio do celular, computador ou outra mídia. Não entraremos nestes aspectos específicos, mas é preciso dizer que nós, humanos, interagimos com dispositivos, com aplicativos, com emojis, símbolos, sons, imagens. O grupo ‘Human-Technology Interaction’ (HTI) estuda a maneira como interagimos com a tecnologia para compreender melhor e aprimorar a maneira como as pessoas interagem com os diferentes tipos de mídia.


Quando usamos tecnologia, serviços de internet e mídias sociais - para promover relacionamentos em equipe, para realizar ações de marketing ou atendimento ao cliente, ou até mesmo para criar um grupo em determinada rede social - usamos uma tecnologia que influenciará as pessoas: cognitiva, emocional e neurologicamente.

É tudo uma questão de interatividade!

Compreender a nossa relação com a tecnologia nos permite comunicar-nos melhor e de maneira mais ampla com as pessoas no ambiente on-line, e nos ajuda a interagir com elas no contexto da educação, da pesquisa, da evangelização, dos negócios e do entretenimento.


Retomemos o conceito inicial de interação: ela está relacionada com a nossa capacidade humana de nos conectarmos com os outros. Ocorre interação, pois, entre duas pessoas, quando jogam pingue-pongue, tocam música juntas, ou se apresentam num show.


As interações exigem ‘feedback’ entre as pessoas!

No caso da música, por exemplo, qual seria o meio? Os instrumentos musicais, a canção, o som... E quem está interagindo? Os músicos, o cantor, o cantor com o público, e assim por diante. A relação entre os cantores e o público também é interação. Portanto, a interação é uma forma pessoal e social de se relacionar com as pessoas em determinado ambiente.

Gostaria de mostrar, agora, como Dom Bosco interagiu com os jovens e criou excelentes instrumentos fazendo excelente uso da mídia de sua época (bandas de música, teatro [‘teatrinho’], brincadeiras, liturgia) para promover a interação!

Em primeiro lugar, Dom Bosco costumava interagir com seus jovens a partir de sua profunda maneira cognitiva e emocional de se relacionar com eles. Sua interação nascia de sua facilidade de compreendê-los, de interessar-se por eles, de motivar, abraçar e amar os jovens. Falando em termos psicológicos atuais (termos como afetividade, inteligência múltipla, inteligência emocional e social ou neurociências) poderíamos dizer que Dom Bosco tinha uma forte inteligência emocional, social e artística.


Dom Bosco possuía um nível de consciência particular e apresentava, por exemplo, uma grande capacidade de reconhecer emoções e sentimentos, de manifestar empatia com os talentos e habilidades das pessoas, assim como com suas fraquezas ou pontos em que elas precisavam melhorar, com seu grau de flexibilidade ou seu senso de responsabilidade. Ele apreciava a capacidade e a necessidade que as pessoas tinham de colaborar num grupo e de demonstrar compromisso e lealdade.


A partir desta capacidade como pessoa, educador e sacerdote, Dom Bosco aprendeu a identificar e a compreender quem era cada pessoa, o que cada uma podia fazer e quanto ele podia delas exigir para que pudessem crescer, criar e se comprometer no processo educativo; e também como elas poderiam transmitir os valores salesianos com os quais ele as havia impregnado.


Em sua época, Dom Bosco criou um sistema forte e eficaz, caracterizado por uma presença viva e amigável como educador: o envolvimento dos jovens nas atividades escolares, educativas, artísticas e religiosas, com liberdade para expressar suas motivações interiores em todas as atividades e, consequentemente, dar o melhor de si ao participar das atividades conjuntas. Desta forma, ele promovia a interatividade criativa sob forma de redes de relacionamentos sócio-afetivos.


O centro dessa referência afetiva, social e espiritual é a figura de Dom Bosco, que se tornou referência para todos sobre como interagir para educar, a partir de sua rica e profunda experiência de interatividade afetiva.


Alguns estudos sobre Dom Bosco (Stella, 1969) expressam com clareza e simplicidade como Dom Bosco amava: “o coração de Dom Bosco nunca deixou de amar, até o fim. A pedagogia de Dom Bosco identifica-se com toda a sua ação e toda a sua ação com a sua personalidade. A interioridade de Dom Bosco se concentra, em última análise, em seu coração. O coração como ele o percebia, "não apenas como órgão de amor, mas como parte central do nosso ser", no nível da natureza e da graça: o coração quer, o coração deseja, compreende e une, escuta o que se diz, inflama-se de amor, reflete, comove”.


Diversos estudos sobre a espiritualidade e o sistema educativo de Dom Bosco revelam que ele possuía uma enorme capacidade de estabelecer relações humanas (Stella, 1969; Braido, 2004; Afonso, 2002), de fascinar as pessoas, de exercer uma influência educativa sobre os jovens, de motivar, formar líderes, de criar redes de relacionamentos, de valer-se das artes para educar... de promover a interatividade!

Dom Bosco desenvolveu uma escola de educação ímpar, na qual a interatividade desempenha um papel muito importante. Ele intuitivamente compreendeu o que é o ser humano e como oferecer, aos indivíduos, o melhor, para que possam crescer e se desenvolver como bons seres humanos, abertos a si mesmos, aos outros, a Deus.
Uma vez que ele compreendia profundamente a realidade humana, ele sabia propor, a cada jovem, um caminho de crescimento espiritual. Era um educador que utilizava a música, o teatro e a própria liturgia como meio de interação com seus filhos, envolvendo-os criativamente como autores interativos.


Os jovens de ontem e de hoje são intrinsecamente interativos. Atualmente o mundo digital, virtual e de inteligência artificial, está exigindo cada vez mais interatividade.


Com Dom Bosco, há que caminhar com os jovens de acordo com os tempos!


Fonte: Padre Gildásio Mendes dos Santos

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Última modificação em Sexta, 06 Mai 2022 17:06

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