Missão em curso

Sexta, 26 Abril 2013 21:51 Escrito por  Ana Cosenza e Sandra de Angelis
  “Para muitas milhares de pessoas, ao longo destes 130 anos, a importância da chegada dos salesianos ao Brasil foi incalculável: traçou o rumo de sua vida, e o de uma multidão de outras pessoas que se beneficiaram com a sua presença” (padre Wolfgang Gruen).   Em 2013, comemoram-se 130 anos da presença salesiana no Brasil. Para dimensionar a importância desse momento, alguns resgates históricos são ferramentas valiosas. As diretrizes políticas da nação, ainda monárquica, sofriam os efeitos das pressões políticas mundiais e das transformações pelas quais o mundo passava. O Brasil começava a fazer parte da economia internacional. Poucos anos mais tarde, o país se tornaria uma República e todas essas mudanças afetariam a sociedade. “Em 1877, o bispo do Rio de Janeiro, dom Pedro Maria de Lacerda, pediu a Dom Bosco que mandasse salesianos à sua diocese, para começar um trabalho com jovens necessitados de amparo. Dom Bosco só pôde atendê-lo em 1883, quando os primeiros salesianos se estabeleceram em Niterói, RJ”, relata o padre Wolfgang Gruen. Em 14 de julho daquele ano, chegava o primeiro grupo de salesianos, guiado por padre Luís Lasagna, personagem que foi essencial para o desenvolvimento da obra salesiana no Brasil (ver box).  

Lei do Ventre Livre

A premência enxergada por dom Lacerda no apelo a Dom Bosco, pouco antes, em 1871, tinha raízes na Lei do Ventre Livre, que fora promulgada dando liberdade aos filhos dos escravos. Esta teria sido a primeira etapa do processo abolicionista, mas, em 1883, por falta de planejamento e amparo social, uma geração de crianças e jovens “beneficiados” pela lei vivia à margem da sociedade. Foram esses meninos os primeiros amparados pela comunidade salesiana recém-chegada ao país.

Se o foco do trabalho salesiano é o cuidado com os jovens em situações de risco, não faltavam oportunidades de trabalho no Brasil daquele fim de século XIX. “Ao chegar, dom Lasagna se chocou muito com a escravidão. Em seus relatos, lhe estranhava o uso comum das liteiras como meios de transporte, nos quais as pessoas (os escravos) carregavam outras pessoas (senhores), naqueles artefatos que se assemelhavam a poltronas”, destaca Denise Taraciuk, do Memorial Histórico do Colégio Santa Rosa.

 

Educação e modernização

Na sociedade da época, o princípio norteador era a necessidade de modernizar o país. E já naquele tempo a Educação era vista como o grande motor, capaz de permitir esse desenvolvimento: data do final do século XIX a reforma do ensino primário no Brasil, que colocou em pauta o debate sobre a democratização e universalização da educação.

Segundo o historiador Riolando Azzi, naquele período os salesianos já eram vistos, especialmente nos meios católicos, como símbolo de renovação na educação. Porém, “se o nome de Dom Bosco facilitava a aceitação da obra salesiana entre os católicos, despertava a hostilidade dos liberais, em vista da colaboração que os seus discípulos vinham dar ao movimento de reforma da Igreja do Brasil” (Riolando Azzi, Os salesianos no Brasil à luz da história).

A campanha inicial contra a instalação dos salesianos foi intensa, como relata o primeiro diretor do Santa Rosa, padre Miguel Borghino, em carta ao vigário geral do reitor-mor, padre Miguel Rua, datada de 1884: “Começaram por falar mal de nós, depois a criticar o nosso método, e por último, a espalhar, por toda a parte, que os alunos passavam mal. Dos 10 que tínhamos, cinco se retiraram num só dia; dois no dia seguinte”. Padre Borghino ressalta, porém, que a fé em Maria Auxiliadora e a certeza de que era necessário perseverar, transpuseram todas as dificuldades. Após um ano, a escola contava com 30 alunos regulares, matriculados nos cursos de carpintaria, alfaiataria e sapataria (Fonte: A Obra Salesiana no Brasil em seu cincoentenário – Crônicas).

 

Ao longo da história...

Padre Gruen considera que a comunidade salesiana, a exemplo de Dom Bosco, não se deixou envolver pelas discussões políticas. À oposição inicial, os salesianos responderam com seu trabalho e a alegria com a qual o assumiam. “A estratégia funcionou. De fato, a vinda também das Filhas de Maria Auxiliadora (em 1892), a multiplicação dos oratórios e escolas profissionais, os cooperadores e amigos da obra, as vocações para manter vivo esse projeto – tudo isso, com a bênção de Deus, levou adiante e solidificou essa obra”. 

Em pouco tempo, a obra salesiana cresceu, e não só no Rio de Janeiro. Com o objetivo de amparar os jovens imigrantes italianos, que já então começavam a chegar ao país, os salesianos abriram uma nova escola em São Paulo, o Liceu Coração de Jesus, fundado em 1885. Outro ponto importante eram as missões, e o Liceu São Gonçalo, em Cuiabá, MT, fundado em 1894, foi a porta de entrada para o trabalho junto aos povos indígenas. No mesmo ano, é iniciada a obra salesiana no Nordeste, com o Colégio do Sagrado Coração, em Recife, PE.

Atualmente, há mais de 100 escolas salesianas no país, com cerca de 100 mil alunos e mais de cinco mil educadores que seguem a pedagogia de Dom Bosco. Também são mais de uma centena as obras sociais e instituições, mantidas pelos Salesianos de Dom Bosco e pelas Filhas de Maria Auxiliadora. Fazem parte da obra salesiana no Brasil, ainda, o trabalho realizado em cerca de 80 paróquias; os cursos profissionalizantes; as universidades e faculdades e a missão junto aos povos indígenas.

 

Agradecimentos - A produção desta reportagem foi possível graças à inestimável colaboração de: Denise Taraciuk (Memorial Histórico do Colégio Santa Rosa), Pe. Wolfgang Gruen, Ailton Luiz Costa Moreira (Assessoria do RSE Dados), Marli Meleti (Arquivo da Inspetoria Salesiana Nossa Senhora Auxiliadora) e Willian Petelincar (Liceu Coração de Jesus).

 

 

Dom Luís Lasagna

Luís Lasagna teve um papel fundamental na implantação e desenvolvimento da obra salesiana no Brasil. Ele esteve à frente da segunda expedição missionária para o Uruguai, em 1876. Já inspetor, em 1883, fundou o Colégio Santa Rosa, em Niterói; em 1885, o Liceu Coração de Jesus, em São Paulo; e em 1891, o Colégio São Joaquim, em Lorena, SP. Em 1894, foi o fundador do Liceu Salesiano São Gonçalo, em Cuiabá, início das missões entre os indígenas. O Papa Leão XIII, em 17 de março de 1893, o fez bispo missionário. Dom Lasagna iniciou também a obra salesiana em Minas Gerais, em 1895. Na viagem em que iria fundar as casas salesianas no estado, foi vítima de um acidente do trem que levava a comitiva. Faleceu aos 45 anos.

Fonte: Memorial Histórico do Colégio Santa Rosa - Pe. Josué Francisco da Natividade e Denise Taraciuk.

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Última modificação em Segunda, 08 Julho 2013 11:49

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Sexta, 26 Abril 2013 21:51 Escrito por  Ana Cosenza e Sandra de Angelis
  “Para muitas milhares de pessoas, ao longo destes 130 anos, a importância da chegada dos salesianos ao Brasil foi incalculável: traçou o rumo de sua vida, e o de uma multidão de outras pessoas que se beneficiaram com a sua presença” (padre Wolfgang Gruen).   Em 2013, comemoram-se 130 anos da presença salesiana no Brasil. Para dimensionar a importância desse momento, alguns resgates históricos são ferramentas valiosas. As diretrizes políticas da nação, ainda monárquica, sofriam os efeitos das pressões políticas mundiais e das transformações pelas quais o mundo passava. O Brasil começava a fazer parte da economia internacional. Poucos anos mais tarde, o país se tornaria uma República e todas essas mudanças afetariam a sociedade. “Em 1877, o bispo do Rio de Janeiro, dom Pedro Maria de Lacerda, pediu a Dom Bosco que mandasse salesianos à sua diocese, para começar um trabalho com jovens necessitados de amparo. Dom Bosco só pôde atendê-lo em 1883, quando os primeiros salesianos se estabeleceram em Niterói, RJ”, relata o padre Wolfgang Gruen. Em 14 de julho daquele ano, chegava o primeiro grupo de salesianos, guiado por padre Luís Lasagna, personagem que foi essencial para o desenvolvimento da obra salesiana no Brasil (ver box).  

Lei do Ventre Livre

A premência enxergada por dom Lacerda no apelo a Dom Bosco, pouco antes, em 1871, tinha raízes na Lei do Ventre Livre, que fora promulgada dando liberdade aos filhos dos escravos. Esta teria sido a primeira etapa do processo abolicionista, mas, em 1883, por falta de planejamento e amparo social, uma geração de crianças e jovens “beneficiados” pela lei vivia à margem da sociedade. Foram esses meninos os primeiros amparados pela comunidade salesiana recém-chegada ao país.

Se o foco do trabalho salesiano é o cuidado com os jovens em situações de risco, não faltavam oportunidades de trabalho no Brasil daquele fim de século XIX. “Ao chegar, dom Lasagna se chocou muito com a escravidão. Em seus relatos, lhe estranhava o uso comum das liteiras como meios de transporte, nos quais as pessoas (os escravos) carregavam outras pessoas (senhores), naqueles artefatos que se assemelhavam a poltronas”, destaca Denise Taraciuk, do Memorial Histórico do Colégio Santa Rosa.

 

Educação e modernização

Na sociedade da época, o princípio norteador era a necessidade de modernizar o país. E já naquele tempo a Educação era vista como o grande motor, capaz de permitir esse desenvolvimento: data do final do século XIX a reforma do ensino primário no Brasil, que colocou em pauta o debate sobre a democratização e universalização da educação.

Segundo o historiador Riolando Azzi, naquele período os salesianos já eram vistos, especialmente nos meios católicos, como símbolo de renovação na educação. Porém, “se o nome de Dom Bosco facilitava a aceitação da obra salesiana entre os católicos, despertava a hostilidade dos liberais, em vista da colaboração que os seus discípulos vinham dar ao movimento de reforma da Igreja do Brasil” (Riolando Azzi, Os salesianos no Brasil à luz da história).

A campanha inicial contra a instalação dos salesianos foi intensa, como relata o primeiro diretor do Santa Rosa, padre Miguel Borghino, em carta ao vigário geral do reitor-mor, padre Miguel Rua, datada de 1884: “Começaram por falar mal de nós, depois a criticar o nosso método, e por último, a espalhar, por toda a parte, que os alunos passavam mal. Dos 10 que tínhamos, cinco se retiraram num só dia; dois no dia seguinte”. Padre Borghino ressalta, porém, que a fé em Maria Auxiliadora e a certeza de que era necessário perseverar, transpuseram todas as dificuldades. Após um ano, a escola contava com 30 alunos regulares, matriculados nos cursos de carpintaria, alfaiataria e sapataria (Fonte: A Obra Salesiana no Brasil em seu cincoentenário – Crônicas).

 

Ao longo da história...

Padre Gruen considera que a comunidade salesiana, a exemplo de Dom Bosco, não se deixou envolver pelas discussões políticas. À oposição inicial, os salesianos responderam com seu trabalho e a alegria com a qual o assumiam. “A estratégia funcionou. De fato, a vinda também das Filhas de Maria Auxiliadora (em 1892), a multiplicação dos oratórios e escolas profissionais, os cooperadores e amigos da obra, as vocações para manter vivo esse projeto – tudo isso, com a bênção de Deus, levou adiante e solidificou essa obra”. 

Em pouco tempo, a obra salesiana cresceu, e não só no Rio de Janeiro. Com o objetivo de amparar os jovens imigrantes italianos, que já então começavam a chegar ao país, os salesianos abriram uma nova escola em São Paulo, o Liceu Coração de Jesus, fundado em 1885. Outro ponto importante eram as missões, e o Liceu São Gonçalo, em Cuiabá, MT, fundado em 1894, foi a porta de entrada para o trabalho junto aos povos indígenas. No mesmo ano, é iniciada a obra salesiana no Nordeste, com o Colégio do Sagrado Coração, em Recife, PE.

Atualmente, há mais de 100 escolas salesianas no país, com cerca de 100 mil alunos e mais de cinco mil educadores que seguem a pedagogia de Dom Bosco. Também são mais de uma centena as obras sociais e instituições, mantidas pelos Salesianos de Dom Bosco e pelas Filhas de Maria Auxiliadora. Fazem parte da obra salesiana no Brasil, ainda, o trabalho realizado em cerca de 80 paróquias; os cursos profissionalizantes; as universidades e faculdades e a missão junto aos povos indígenas.

 

Agradecimentos - A produção desta reportagem foi possível graças à inestimável colaboração de: Denise Taraciuk (Memorial Histórico do Colégio Santa Rosa), Pe. Wolfgang Gruen, Ailton Luiz Costa Moreira (Assessoria do RSE Dados), Marli Meleti (Arquivo da Inspetoria Salesiana Nossa Senhora Auxiliadora) e Willian Petelincar (Liceu Coração de Jesus).

 

 

Dom Luís Lasagna

Luís Lasagna teve um papel fundamental na implantação e desenvolvimento da obra salesiana no Brasil. Ele esteve à frente da segunda expedição missionária para o Uruguai, em 1876. Já inspetor, em 1883, fundou o Colégio Santa Rosa, em Niterói; em 1885, o Liceu Coração de Jesus, em São Paulo; e em 1891, o Colégio São Joaquim, em Lorena, SP. Em 1894, foi o fundador do Liceu Salesiano São Gonçalo, em Cuiabá, início das missões entre os indígenas. O Papa Leão XIII, em 17 de março de 1893, o fez bispo missionário. Dom Lasagna iniciou também a obra salesiana em Minas Gerais, em 1895. Na viagem em que iria fundar as casas salesianas no estado, foi vítima de um acidente do trem que levava a comitiva. Faleceu aos 45 anos.

Fonte: Memorial Histórico do Colégio Santa Rosa - Pe. Josué Francisco da Natividade e Denise Taraciuk.

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