A verdadeira ressurreição

Quarta, 31 Março 2021 12:16 Escrito por  Pe. Ángel Fernández Artime
A verdadeira ressurreição Imagem do Cristo Ressuscitado na Capela Pinardi - Valdocco, Itália ANS
Aquela que entra na vida das pessoas e as transforma: mensagem do Reitor-mor para os leitores do Boletim Salesiano nesta Páscoa.  

 

Queridos amigos, leitores do Boletim Salesiano, uma saudação com afeto através desta revista fundada pelo próprio Dom Bosco, que por meio dela quis dar a conhecer a realidade salesiana daquela jovem Congregação que ele havia fundado por desígnio de Deus e que crescia pouco a pouco. Como se lê no Boletim Salesiano de 1877, este “é publicado para dar conta do que se havia feito ou se ia fazer segundo o fim da missão salesiana que é o cuidado das almas e o bem da sociedade”.

 

Espero que o Boletim Salesiano os ajude a sentir que a Família Salesiana de Dom Bosco, passados 162 anos do início da Congregação Salesiana, continua a dar humildemente a sua contribuição para tornar este mundo mais humano, mais digno, mais cheio de vida autêntica, mais iluminado por aquela verdadeira luz que vem de Deus.

 

Domingo de Páscoa, 1846

Para a capa do Boletim Salesiano da Itália deste mês, escolhemos o quadro de Cristo Ressuscitado que se encontra na Capela Pinardi. O mísero barracão entregue a Dom Bosco em 1846 sofreu muitas transformações e hoje é um pequeno e belo lugar de serena adoração eucarística. Não era bonito nem se encontrava em bom estado aquele barracão quando Dom Bosco ali esteve! Mas Deus parece ter uma predileção pelos barracos e pelos estábulos para começar as suas realizações.

 

O padre Francesia, que era um dos rapazes do Oratório de então, testemunhou: “Quando Dom Bosco visitou pela primeira vez aquele local, que devia servir para o seu oratório, precisou ter cuidado para não bater a cabeça, porque de um lado não tinha mais de um metro de altura; o pavimento era de terra batida, e quando chovia a água entrava por todo o lado. Dom Bosco sentiu correr entre os pés grandes ratazanas, e por cima da cabeça morcegos a voar”.

 

Mas, para Dom Bosco, era o melhor lugar do mundo. “Corri logo a ter com os meus jovens; reuni-os à minha volta e com voz forte comecei a gritar: — Coragem, meus filhos, temos um Oratório mais estável do que no passado; teremos igreja, sacristia, salas para as aulas, lugar para o recreio. No domingo, iremos para o novo Oratório que é além na casa Pinardi. E apontava-lhes o lugar. Aquelas palavras foram acolhidas com o mais vivo entusiasmo. Uns corriam ou saltavam de alegria; outros ficavam como que imóveis; outros davam gritos e, diria mesmo, urros e berros”.

 

Domingo era a Páscoa.

 

Aquela humilde origem em que o carisma salesiano, inspirado pelo Espírito Santo, lançou raízes, hoje recorda-nos que a Ressurreição do Senhor transformou e transforma tudo. Compete a nós fazermos desta Humanidade uma realidade, como Deus a “sonhou” para nós.

 

A curiosidade me levou a procurar nos sites de busca da internet o significado que atribuíam à palavra “Ressurreição”. Encontrei referências à fé cristã, certamente, mas no mesmo “repositório digital” encontrei de tudo. Havia também filmes com este título e que, naturalmente, nada tinham a ver com a fé. Como 'The Mechanic: Resurrection', uma triste história de violência e vingança. Precisamente o contrário do mistério central da nossa fé.

 

Refiro isto porque quero sublinhar que vivemos em um mundo no qual, misturados, encontramos de tudo: fé e condenação da fé; liberdade e escravidão, promoção dos direitos das crianças e trabalho infantil, respeito pela dignidade da mulher e exploração da mulher, justiça social e injustiça e abuso, solidariedade e falta de tudo o que é necessário para viver com dignidade. E poderia continuar. Parece que o nosso mundo é um mercado das pulgas no qual podemos encontrar mercadorias de todo o tipo. Sem qualquer distinção, sem avaliações. Mas nem tudo é bom; nem tudo é bom para nós.

 

Não posso permitir-me viver sem esperança

O tempo pascal que estamos celebrando e o grande evento da Páscoa do Senhor, da sua morte e ressurreição, nos falam de vida, de vida-Outra; falam de esperança, de humanidade em caminho, de presente e futuro em Deus, de realidades simples nas quais diariamente é evidente a presença do Deus que é Amor.

 

No momento em que escrevo estas linhas, o Santo Padre está a caminho do Iraque, numa viagem pastoral que quer anunciar a paz, a reconciliação e a justiça. Todos vemos nele o homem de profunda fé que vive em Deus e O implora para que as feridas provocadas pelos erros humanos cicatrizem e deem lugar a encontros fraternos.

 

É pedir muito? É ilusório ou utópico?

 

Não creio. Creio que é possível porque, como disse muitas vezes, todos os dias no mundo acontecem aqueles “milagres” que mudam a vida e o coração das pessoas graças a outros que acreditaram, tiveram confiança, estenderam a mão perante as necessidades dos outros.

 

Cristo Ressuscitado na Capela Pinardi de Valdocco nos recorda o que significa deixar-se guiar por Deus, o que significa viver de Fé, como fazia Dom Bosco, com a cabeça no Céu e os pés bem firmes na terra, atento às necessidades e ao choro de quem está próximo.

 

Eu sou um daqueles que, talvez como muitos de vocês, querem continuar a ter esperança, uma esperança profunda que se alimenta da força que vem de Deus. E sabem por quê? Porque não posso permitir-me viver sem esperança, porque então não saberia como viver, porque esse modo de viver para mim já não seria vida, ou pelo menos não seria “vida plena”.

 

Desejo-lhes uma boa Páscoa e um belo tempo repleto da presença de Deus.

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A verdadeira ressurreição

Quarta, 31 Março 2021 12:16 Escrito por  Pe. Ángel Fernández Artime
A verdadeira ressurreição Imagem do Cristo Ressuscitado na Capela Pinardi - Valdocco, Itália ANS
Aquela que entra na vida das pessoas e as transforma: mensagem do Reitor-mor para os leitores do Boletim Salesiano nesta Páscoa.  

 

Queridos amigos, leitores do Boletim Salesiano, uma saudação com afeto através desta revista fundada pelo próprio Dom Bosco, que por meio dela quis dar a conhecer a realidade salesiana daquela jovem Congregação que ele havia fundado por desígnio de Deus e que crescia pouco a pouco. Como se lê no Boletim Salesiano de 1877, este “é publicado para dar conta do que se havia feito ou se ia fazer segundo o fim da missão salesiana que é o cuidado das almas e o bem da sociedade”.

 

Espero que o Boletim Salesiano os ajude a sentir que a Família Salesiana de Dom Bosco, passados 162 anos do início da Congregação Salesiana, continua a dar humildemente a sua contribuição para tornar este mundo mais humano, mais digno, mais cheio de vida autêntica, mais iluminado por aquela verdadeira luz que vem de Deus.

 

Domingo de Páscoa, 1846

Para a capa do Boletim Salesiano da Itália deste mês, escolhemos o quadro de Cristo Ressuscitado que se encontra na Capela Pinardi. O mísero barracão entregue a Dom Bosco em 1846 sofreu muitas transformações e hoje é um pequeno e belo lugar de serena adoração eucarística. Não era bonito nem se encontrava em bom estado aquele barracão quando Dom Bosco ali esteve! Mas Deus parece ter uma predileção pelos barracos e pelos estábulos para começar as suas realizações.

 

O padre Francesia, que era um dos rapazes do Oratório de então, testemunhou: “Quando Dom Bosco visitou pela primeira vez aquele local, que devia servir para o seu oratório, precisou ter cuidado para não bater a cabeça, porque de um lado não tinha mais de um metro de altura; o pavimento era de terra batida, e quando chovia a água entrava por todo o lado. Dom Bosco sentiu correr entre os pés grandes ratazanas, e por cima da cabeça morcegos a voar”.

 

Mas, para Dom Bosco, era o melhor lugar do mundo. “Corri logo a ter com os meus jovens; reuni-os à minha volta e com voz forte comecei a gritar: — Coragem, meus filhos, temos um Oratório mais estável do que no passado; teremos igreja, sacristia, salas para as aulas, lugar para o recreio. No domingo, iremos para o novo Oratório que é além na casa Pinardi. E apontava-lhes o lugar. Aquelas palavras foram acolhidas com o mais vivo entusiasmo. Uns corriam ou saltavam de alegria; outros ficavam como que imóveis; outros davam gritos e, diria mesmo, urros e berros”.

 

Domingo era a Páscoa.

 

Aquela humilde origem em que o carisma salesiano, inspirado pelo Espírito Santo, lançou raízes, hoje recorda-nos que a Ressurreição do Senhor transformou e transforma tudo. Compete a nós fazermos desta Humanidade uma realidade, como Deus a “sonhou” para nós.

 

A curiosidade me levou a procurar nos sites de busca da internet o significado que atribuíam à palavra “Ressurreição”. Encontrei referências à fé cristã, certamente, mas no mesmo “repositório digital” encontrei de tudo. Havia também filmes com este título e que, naturalmente, nada tinham a ver com a fé. Como 'The Mechanic: Resurrection', uma triste história de violência e vingança. Precisamente o contrário do mistério central da nossa fé.

 

Refiro isto porque quero sublinhar que vivemos em um mundo no qual, misturados, encontramos de tudo: fé e condenação da fé; liberdade e escravidão, promoção dos direitos das crianças e trabalho infantil, respeito pela dignidade da mulher e exploração da mulher, justiça social e injustiça e abuso, solidariedade e falta de tudo o que é necessário para viver com dignidade. E poderia continuar. Parece que o nosso mundo é um mercado das pulgas no qual podemos encontrar mercadorias de todo o tipo. Sem qualquer distinção, sem avaliações. Mas nem tudo é bom; nem tudo é bom para nós.

 

Não posso permitir-me viver sem esperança

O tempo pascal que estamos celebrando e o grande evento da Páscoa do Senhor, da sua morte e ressurreição, nos falam de vida, de vida-Outra; falam de esperança, de humanidade em caminho, de presente e futuro em Deus, de realidades simples nas quais diariamente é evidente a presença do Deus que é Amor.

 

No momento em que escrevo estas linhas, o Santo Padre está a caminho do Iraque, numa viagem pastoral que quer anunciar a paz, a reconciliação e a justiça. Todos vemos nele o homem de profunda fé que vive em Deus e O implora para que as feridas provocadas pelos erros humanos cicatrizem e deem lugar a encontros fraternos.

 

É pedir muito? É ilusório ou utópico?

 

Não creio. Creio que é possível porque, como disse muitas vezes, todos os dias no mundo acontecem aqueles “milagres” que mudam a vida e o coração das pessoas graças a outros que acreditaram, tiveram confiança, estenderam a mão perante as necessidades dos outros.

 

Cristo Ressuscitado na Capela Pinardi de Valdocco nos recorda o que significa deixar-se guiar por Deus, o que significa viver de Fé, como fazia Dom Bosco, com a cabeça no Céu e os pés bem firmes na terra, atento às necessidades e ao choro de quem está próximo.

 

Eu sou um daqueles que, talvez como muitos de vocês, querem continuar a ter esperança, uma esperança profunda que se alimenta da força que vem de Deus. E sabem por quê? Porque não posso permitir-me viver sem esperança, porque então não saberia como viver, porque esse modo de viver para mim já não seria vida, ou pelo menos não seria “vida plena”.

 

Desejo-lhes uma boa Páscoa e um belo tempo repleto da presença de Deus.

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