Referenciais do estilo salesiano de educar

Quarta, 11 Junho 2014 12:58 Escrito por 
A experiência de Dom Bosco, desde a sua origem até os dias atuais, com algumas adequações aos tempos e lugares, possui uma vocação específica pela juventude como destinatária de sua práxis educativa.

Tal experiência conta com referenciais importantíssimos que sustentam suas múltiplas ações em prol de uma juventude cidadã e cristã. O primeiro referencial diz respeito ao “amor libertador”que deve estar presente em todos os processos (in)formativos que fazem parte da vida de uma instituição educacional. O amor libertador é o amor pelo ser da outra pessoa, desinteressado e altruísta, que facilita o crescimento e o desenvolvimento da personalidade. Este amor é impegnado de dois compromissos fundamentais, a saber:

- Com as relações interpessoais, estratégia fundamental para a consolidação de um ambiente educativo com um clima marcado pela confiança e pela partilha. Clima de vital importância para que educador e educando vivam sob a égide da amorevolezza, de um amor que transforma a relação educativa em relação fraterna e o espaço escolar em um espaço familiar, em casa de acolhida.

- Com a busca continuada do bem, do belo, da sensibilidade e da verdade, por meio de propostas concretas que estejam presentes nas intencionalidades e ações do educador e do Projeto Político Pedagógico Pastoral da instituição escolar.

 

Diálogo educativo

Outro referencial é aquele que “faz da vida o conteúdo mais importante do diálogo educativo”, das ações de ensino e aprendizagem. O diálogo educativo é o instrumento, por excelência, guardião das intencionalidades do estilo salesiano de educar, que permite uma conversa sobre o cotidiano (a realidade) e ajuda a pessoa a compreendê-lo para que possa dar uma resposta pessoal aos desafios da vida.

O fazer da vida cotidiana, peça fundamental dos processos educativos, formais ou não, existentes na escola, ajuda na compreensão de que o ser humano é capaz de responder a duas questões desafiadoras para o seu processo de conscientização: Por que eu sou o que sou? Por que aquilo que me rodeia é assim? Ao ter condições de responder a tais questionamentos, o aluno estará em processo de crescimento e superação das ingenuidades, das explicações mistificadas sobre a realidade.

Fazendo da vida o conteúdo mais significativo do diálogo educativo, o educador está ajudando, de forma incondicional, o jovem a descobri-la em sua totalidade, a vivê-la alegre e responsavelmente, enraizada nos valores evangélicos.

 

Protagonismo

O próximo referencial é aquele que diz respeito “à convicção de que o jovem deve ser o protagonista de seu crescimento humano e religioso”. Tal convicção não representa que o estilo salesiano de educar esteja defendendo o abandono do educando à sua própria sorte. Muito pelo contrário, significa que o educador tem a obrigação de descobrir, respeitar, valorizar e ajudar no enriquecimento da originalidade de cada educando. Tal obrigação contribui para que o jovem elabore e consolide o seu projeto de vida.

Outro referencial é aquele que aborda a questão da “educação para as virtudes cristãs”, aquelas que sustentam a formação do bom cristão e honesto cidadão. São virtudes que estão em oposição às principais características do que se convencionou chamar de pós-modernidade, a saber: o individualismo, o hedonismo e a fragmentação da pessoa. Revelam muito mais do que uma aptidão ou uma potencialidade para uma determinada ação considerada boa, elas refletem uma inclinação, uma disposição constante para o bem, quer pessoal ou coletivo.

Para Dom Bosco, seus seguidores e todo ser humano de boa vontade, as virtudes cristãs são sete. Três delas teologais (conexas com da relação do homem com Deus) e quatro cardeais que são diretamente ligadas aos costumes (ligam-se a Deus, de modo indireto). As virtudes teologais são a Fé, a Esperança e a Caridade. As cardeais são: Prudência, Justiça, Temperança e Fortaleza.

 

Pedagogia do trabalho

O penúltimo referencial está relacionado “à pedagogia do trabalho”. Para Dom Bosco, o trabalho foi uma obsessão sadia. Todo trabalho desenvolvido pelo educador traduzia “o amor responsável” para com os jovens, significando uma entrega sem medidas pela causa da juventude frente à urgência do Reino de Deus.

Segundo Dom Bosco, o trabalho era fator preponderante para o desenvolvimento de personalidades maduras estáveis, oportunizadoras da humanização e da salvação enquanto elementos constitutivos de um projeto histórico a ser coroado de êxitos na eternidade.

Dom Bosco não gostava de ver os jovens desocupados. Para ele, estar em atividade era fundamental. Tanto que na sua vida em prol da juventude, desde a origem do Oratório de Valdoco até sua morte, ele pregou a necessidade de se desenvolver atividades esportivas, artísticas, manuais, técnicas, profissionais, escolares, apostólicas e litúrgicas em suas obras. Dom Bosco acreditava que o jovem e sua ação consciente, ação co-criadora, divinizaria o tempo histórico, preparando-o para a Glória.

 

Espírito de família

Por fim, não significando que os referencias terminaram, abordo a questão do “espírito de família”,da “familiaridade”. No Projeto Operativo de Dom Bosco, na sua essência, o sistema familiar é, com certeza, um dos referenciais mais significativos.

O desejo de Dom Bosco para suas obras era o de transformá-las em um espaço onde todos pudessem viver a experiência de “um só coração e uma só alma”; um espaço de caridade pastoral que constituiria família, comunidade de segurança, serenidade e de formação dos jovens frente aos desafios do mundo.

O Espírito de Família presente nas obras salesianas possuía e ainda possui duas funções bem definidas que estão voltadas para a formação “do honesto cidadão e do bom cristão”. Elas dizem respeito às questões relacionadas à cidadania e à espiritualidade. Importante frisar que as referidas funções não existem separadas uma da outra, elas se complementam na busca da formação integral do jovem, onde corpo e alma possuem uma realidade única, indissociável.

O espírito de família cria um ambiente compatível com o “da casa, do lar”, com o espaço, por excelência, onde curar as feridas, resgatar a autoestima e superar as carências dos jovens constituem o cerne da missão salesiana.

 

Novas ações

E é com os referenciais refletidos até agora e outros que não foram objeto de meu artigo, que devemos estabelecer nossas ações educativo-pastorais, oferecendo aos jovens todas as condições necessárias para que, iluminados pelo Espírito Santo, caminhem na estrada de Jesus, experimentando a presença de Deus e assumindo um compromisso mais radical consigo mesmos e, mais do que tudo, um serviço responsável em prol de todas as pessoas, em especial daquelas que estejam marcadas por situações que firam o Projeto do Reino para a humanidade.

Com tais referenciais será possível realizar o desejo de Dom Bosco com relação aos jovens: humanizá-los, santificá-los e salvá-los.

Avalie este item
(0 votos)
Última modificação em Quarta, 11 Junho 2014 14:36

Deixe um comentário

Certifique-se de preencher os campos indicados com (*). Não é permitido código HTML.


Referenciais do estilo salesiano de educar

Quarta, 11 Junho 2014 12:58 Escrito por 
A experiência de Dom Bosco, desde a sua origem até os dias atuais, com algumas adequações aos tempos e lugares, possui uma vocação específica pela juventude como destinatária de sua práxis educativa.

Tal experiência conta com referenciais importantíssimos que sustentam suas múltiplas ações em prol de uma juventude cidadã e cristã. O primeiro referencial diz respeito ao “amor libertador”que deve estar presente em todos os processos (in)formativos que fazem parte da vida de uma instituição educacional. O amor libertador é o amor pelo ser da outra pessoa, desinteressado e altruísta, que facilita o crescimento e o desenvolvimento da personalidade. Este amor é impegnado de dois compromissos fundamentais, a saber:

- Com as relações interpessoais, estratégia fundamental para a consolidação de um ambiente educativo com um clima marcado pela confiança e pela partilha. Clima de vital importância para que educador e educando vivam sob a égide da amorevolezza, de um amor que transforma a relação educativa em relação fraterna e o espaço escolar em um espaço familiar, em casa de acolhida.

- Com a busca continuada do bem, do belo, da sensibilidade e da verdade, por meio de propostas concretas que estejam presentes nas intencionalidades e ações do educador e do Projeto Político Pedagógico Pastoral da instituição escolar.

 

Diálogo educativo

Outro referencial é aquele que “faz da vida o conteúdo mais importante do diálogo educativo”, das ações de ensino e aprendizagem. O diálogo educativo é o instrumento, por excelência, guardião das intencionalidades do estilo salesiano de educar, que permite uma conversa sobre o cotidiano (a realidade) e ajuda a pessoa a compreendê-lo para que possa dar uma resposta pessoal aos desafios da vida.

O fazer da vida cotidiana, peça fundamental dos processos educativos, formais ou não, existentes na escola, ajuda na compreensão de que o ser humano é capaz de responder a duas questões desafiadoras para o seu processo de conscientização: Por que eu sou o que sou? Por que aquilo que me rodeia é assim? Ao ter condições de responder a tais questionamentos, o aluno estará em processo de crescimento e superação das ingenuidades, das explicações mistificadas sobre a realidade.

Fazendo da vida o conteúdo mais significativo do diálogo educativo, o educador está ajudando, de forma incondicional, o jovem a descobri-la em sua totalidade, a vivê-la alegre e responsavelmente, enraizada nos valores evangélicos.

 

Protagonismo

O próximo referencial é aquele que diz respeito “à convicção de que o jovem deve ser o protagonista de seu crescimento humano e religioso”. Tal convicção não representa que o estilo salesiano de educar esteja defendendo o abandono do educando à sua própria sorte. Muito pelo contrário, significa que o educador tem a obrigação de descobrir, respeitar, valorizar e ajudar no enriquecimento da originalidade de cada educando. Tal obrigação contribui para que o jovem elabore e consolide o seu projeto de vida.

Outro referencial é aquele que aborda a questão da “educação para as virtudes cristãs”, aquelas que sustentam a formação do bom cristão e honesto cidadão. São virtudes que estão em oposição às principais características do que se convencionou chamar de pós-modernidade, a saber: o individualismo, o hedonismo e a fragmentação da pessoa. Revelam muito mais do que uma aptidão ou uma potencialidade para uma determinada ação considerada boa, elas refletem uma inclinação, uma disposição constante para o bem, quer pessoal ou coletivo.

Para Dom Bosco, seus seguidores e todo ser humano de boa vontade, as virtudes cristãs são sete. Três delas teologais (conexas com da relação do homem com Deus) e quatro cardeais que são diretamente ligadas aos costumes (ligam-se a Deus, de modo indireto). As virtudes teologais são a Fé, a Esperança e a Caridade. As cardeais são: Prudência, Justiça, Temperança e Fortaleza.

 

Pedagogia do trabalho

O penúltimo referencial está relacionado “à pedagogia do trabalho”. Para Dom Bosco, o trabalho foi uma obsessão sadia. Todo trabalho desenvolvido pelo educador traduzia “o amor responsável” para com os jovens, significando uma entrega sem medidas pela causa da juventude frente à urgência do Reino de Deus.

Segundo Dom Bosco, o trabalho era fator preponderante para o desenvolvimento de personalidades maduras estáveis, oportunizadoras da humanização e da salvação enquanto elementos constitutivos de um projeto histórico a ser coroado de êxitos na eternidade.

Dom Bosco não gostava de ver os jovens desocupados. Para ele, estar em atividade era fundamental. Tanto que na sua vida em prol da juventude, desde a origem do Oratório de Valdoco até sua morte, ele pregou a necessidade de se desenvolver atividades esportivas, artísticas, manuais, técnicas, profissionais, escolares, apostólicas e litúrgicas em suas obras. Dom Bosco acreditava que o jovem e sua ação consciente, ação co-criadora, divinizaria o tempo histórico, preparando-o para a Glória.

 

Espírito de família

Por fim, não significando que os referencias terminaram, abordo a questão do “espírito de família”,da “familiaridade”. No Projeto Operativo de Dom Bosco, na sua essência, o sistema familiar é, com certeza, um dos referenciais mais significativos.

O desejo de Dom Bosco para suas obras era o de transformá-las em um espaço onde todos pudessem viver a experiência de “um só coração e uma só alma”; um espaço de caridade pastoral que constituiria família, comunidade de segurança, serenidade e de formação dos jovens frente aos desafios do mundo.

O Espírito de Família presente nas obras salesianas possuía e ainda possui duas funções bem definidas que estão voltadas para a formação “do honesto cidadão e do bom cristão”. Elas dizem respeito às questões relacionadas à cidadania e à espiritualidade. Importante frisar que as referidas funções não existem separadas uma da outra, elas se complementam na busca da formação integral do jovem, onde corpo e alma possuem uma realidade única, indissociável.

O espírito de família cria um ambiente compatível com o “da casa, do lar”, com o espaço, por excelência, onde curar as feridas, resgatar a autoestima e superar as carências dos jovens constituem o cerne da missão salesiana.

 

Novas ações

E é com os referenciais refletidos até agora e outros que não foram objeto de meu artigo, que devemos estabelecer nossas ações educativo-pastorais, oferecendo aos jovens todas as condições necessárias para que, iluminados pelo Espírito Santo, caminhem na estrada de Jesus, experimentando a presença de Deus e assumindo um compromisso mais radical consigo mesmos e, mais do que tudo, um serviço responsável em prol de todas as pessoas, em especial daquelas que estejam marcadas por situações que firam o Projeto do Reino para a humanidade.

Com tais referenciais será possível realizar o desejo de Dom Bosco com relação aos jovens: humanizá-los, santificá-los e salvá-los.

Avalie este item
(0 votos)
Última modificação em Quarta, 11 Junho 2014 14:36

Deixe um comentário

Certifique-se de preencher os campos indicados com (*). Não é permitido código HTML.