“Não coarctemos nem pretendamos controlar esta força missionária”

Quarta, 20 Abril 2016 10:46 Escrito por 
Continuo a reflexão relacionada ao projeto pessoal de vida a partir da expressão do Papa Francisco na Evangelii Gaudium n. 124, convocando-nos a não limitar nem perder a força do Evangelho.

 

O Papa Francisco nos recorda que a “Evangelização é dever da Igreja” (EG, 111). Trata-se de um povo que peregrina pela terra e anuncia o que recebeu no Batismo, o que celebra na Eucaristia e o que compreende na reflexão sobre a Revelação de Deus na história.

Somos atraídos pela misericórdia de Deus (EG, 112) e enviados a colaborar na ação salvífica desde a iniciativa de Deus. Portanto, não é possível ser cristão e ser omisso. Ter olhos e não enxergar, ter ouvidos e não ouvir, ter boca e não falar das maravilhas de Deus. Somente a indiferença pode corroer nosso agir evangelizador e nos acomodar numa atitude egoísta autodestruidora (Mensagem para o Dia Mundial da Paz 2016), porém Deus sempre nos chama a participar (EG, 113).

 

Cultura

A Igreja, por sua natureza, é Povo de Deus em marcha, fermento, luz e sal que não deixa a humanidade caminhar nas trevas e não a deixa apodrecer com o ódio, a violência, as guerras, a fome (EG, 114). O desafio é saber viver a graça do chamado de Deus na cultura e nas diferenças culturas onde a Igreja - e nela, cada um de nós - se insere como filho e filha.

A cultura é o lugar onde Deus se encarna, por isto a ação evangelizadora não se sente ameaçada pela cultura e muito menos limitada (EG, 115-117). Isto graças à ação livre e rica do Espírito Santo que tudo renova, dobra o que é duro, aquece o frio e o coração do ser humano. Portanto, nenhuma cultura esgota o agir cristão e a misericórdia de Deus (EG, 118).

 

Batismo

Consequentemente, todos somos discípulos missionários desta força do Evangelho que cai como uma cascata em nossa cultura e vai moldando a dureza de nossas vidas a tal ponto de construir nossas realidades, novo céu e nova terra. É no Batismo que esta força se torna evidente e mais fecunda (EG, 119); por isso, precisamos, na práxis pastoral, revalorizar o sentido do Batismo. Sair de uma mera tradição, hábito ou costume de batizar, para uma consciência nova que nos faça captar o desejo salvífico de Deus (EG, 120).

Desta realidade fecunda do Batismo brota em nós a necessária compreensão do ser cristão discípulo missionário com o testemunho de fé ardente (EG, 121), que encontra na piedade popular um campo de enormes possibilidades para a evangelização. As romarias, as novenas, o uso correto dos sacramentais, os lugares e os tempos sagrados e a diversidade das expressões de devoções aos santos e a Maria brotam da sede de Deus (EG, 123-124); uma verdadeira mística popular.

 

A força do Evangelho

Esta força evangelizadora é um lugar teológico (EG, 126), fecundo e repleto da misericórdia de Deus que sustenta a caminhada do povo, sobretudo dos mais pobres (EG, 125) que muitas vezes nada têm a não ser a singeleza da oração em suas expressões culturais mais profundas. Nela se ajustam o conhecimento e o sentimento, atitudes necessárias para que, em um projeto de vida, a pessoa saiba crescer no amor a Deus e ao próximo.

Não é possível seguir o Mestre sem chegar ao outro, sem criar relações, sem romper os interditos do individualismo. É por isso que Francisco nos convoca a não coarctar, quer dizer, impor limites ao nosso agir, temer e passar adiante sem perceber o outro. Tampouco, podemos tentar impedir a força missionária que nos invade, faz arder o coração e abre os olhos para ver o ressuscitado.

Em um projeto de vida de discípulo missionário, a força do Evangelho é como um pequeno afluente que corre em direção ao rio e depois ao mar. É impossível impedir esse percurso, a não ser que se opte pelo egoísmo.

 

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“Não coarctemos nem pretendamos controlar esta força missionária”

Quarta, 20 Abril 2016 10:46 Escrito por 
Continuo a reflexão relacionada ao projeto pessoal de vida a partir da expressão do Papa Francisco na Evangelii Gaudium n. 124, convocando-nos a não limitar nem perder a força do Evangelho.

 

O Papa Francisco nos recorda que a “Evangelização é dever da Igreja” (EG, 111). Trata-se de um povo que peregrina pela terra e anuncia o que recebeu no Batismo, o que celebra na Eucaristia e o que compreende na reflexão sobre a Revelação de Deus na história.

Somos atraídos pela misericórdia de Deus (EG, 112) e enviados a colaborar na ação salvífica desde a iniciativa de Deus. Portanto, não é possível ser cristão e ser omisso. Ter olhos e não enxergar, ter ouvidos e não ouvir, ter boca e não falar das maravilhas de Deus. Somente a indiferença pode corroer nosso agir evangelizador e nos acomodar numa atitude egoísta autodestruidora (Mensagem para o Dia Mundial da Paz 2016), porém Deus sempre nos chama a participar (EG, 113).

 

Cultura

A Igreja, por sua natureza, é Povo de Deus em marcha, fermento, luz e sal que não deixa a humanidade caminhar nas trevas e não a deixa apodrecer com o ódio, a violência, as guerras, a fome (EG, 114). O desafio é saber viver a graça do chamado de Deus na cultura e nas diferenças culturas onde a Igreja - e nela, cada um de nós - se insere como filho e filha.

A cultura é o lugar onde Deus se encarna, por isto a ação evangelizadora não se sente ameaçada pela cultura e muito menos limitada (EG, 115-117). Isto graças à ação livre e rica do Espírito Santo que tudo renova, dobra o que é duro, aquece o frio e o coração do ser humano. Portanto, nenhuma cultura esgota o agir cristão e a misericórdia de Deus (EG, 118).

 

Batismo

Consequentemente, todos somos discípulos missionários desta força do Evangelho que cai como uma cascata em nossa cultura e vai moldando a dureza de nossas vidas a tal ponto de construir nossas realidades, novo céu e nova terra. É no Batismo que esta força se torna evidente e mais fecunda (EG, 119); por isso, precisamos, na práxis pastoral, revalorizar o sentido do Batismo. Sair de uma mera tradição, hábito ou costume de batizar, para uma consciência nova que nos faça captar o desejo salvífico de Deus (EG, 120).

Desta realidade fecunda do Batismo brota em nós a necessária compreensão do ser cristão discípulo missionário com o testemunho de fé ardente (EG, 121), que encontra na piedade popular um campo de enormes possibilidades para a evangelização. As romarias, as novenas, o uso correto dos sacramentais, os lugares e os tempos sagrados e a diversidade das expressões de devoções aos santos e a Maria brotam da sede de Deus (EG, 123-124); uma verdadeira mística popular.

 

A força do Evangelho

Esta força evangelizadora é um lugar teológico (EG, 126), fecundo e repleto da misericórdia de Deus que sustenta a caminhada do povo, sobretudo dos mais pobres (EG, 125) que muitas vezes nada têm a não ser a singeleza da oração em suas expressões culturais mais profundas. Nela se ajustam o conhecimento e o sentimento, atitudes necessárias para que, em um projeto de vida, a pessoa saiba crescer no amor a Deus e ao próximo.

Não é possível seguir o Mestre sem chegar ao outro, sem criar relações, sem romper os interditos do individualismo. É por isso que Francisco nos convoca a não coarctar, quer dizer, impor limites ao nosso agir, temer e passar adiante sem perceber o outro. Tampouco, podemos tentar impedir a força missionária que nos invade, faz arder o coração e abre os olhos para ver o ressuscitado.

Em um projeto de vida de discípulo missionário, a força do Evangelho é como um pequeno afluente que corre em direção ao rio e depois ao mar. É impossível impedir esse percurso, a não ser que se opte pelo egoísmo.

 

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