Pensando em Jerusalém...

Sábado, 04 Julho 2015 17:21 Escrito por  Pe. Ivo Coelho, SDB
O conselheiro geral para a Formação dos Salesianos, padre Ivo Coelho, oferece uma tocante reflexão sobre a Terra Santa, onde reside.

Quando penso na Semana Santa, não posso deixar de pensar em Jerusalém e na Terra Santa.

Não é que eu tenha participado em todas as cerimônias da Semana. Apenas da procissão do Domingo de Ramos, que acontece na antiga cidade de Betfagé, descendo o Monte das Oliveiras, como fez Jesus, com canto, dança e alegria. Também no momento de oração na Basílica do Getsêmani, após a liturgia da Quinta-feira Santa. E, em seguida, na Via Crucis, com a comunidade de Ratisbonne, na tradicional Via Dolorosa, que começa na Flagelação e termina no Santo Sepulcro.

Quando você vive em um lugar, se acostuma facilmente, mesmo que esse lugar seja a Terra Santa. Mas de vez em quando você percebe as coisas. Isso me aconteceu quando eu cruzei a Praça Independence, que liga o nosso instituto Ratisbonne ao Portão de Jaffa, à Cidade Antiga. Jesus viveu aqui, pensei; talvez tenha passado por aqui; talvez tenha visto estas oliveiras, ou talvez suas ancestrais. Talvez esses pássaros sejam descendentes daqueles de seu tempo. E, certamente, viu este sol, caminhou sob o céu.

 

Realidades física e espiritual

A realidade física de Jesus passou nesta terra, e a Terra Santa fez parte da realidade física de Jesus. Nenhum ser humano é um sistema fechado. Somos inseridos no ambiente que nos rodeia de um modo maravilhoso. A nossa realidade pessoal não termina na pele. A terra teve o privilégio de ser partícipe da encarnação do Filho.

Há lugares que preservam, de modo especial, essa presença de Jesus. Pouco conhecida, por exemplo, é a pequena cidade de Efraim, citada em João 11, 54: “Jesus não andava mais em público no meio dos judeus. Ele foi para uma região perto do deserto, para uma cidade chamada Efraim. Lá permaneceu com os seus discípulos”. Efraim é agora chamada Tayibe, famosa pela disputa entre cristãos. Uma região belíssima, especialmente na primavera. Uma região que contém quase fisicamente a presença de Jesus, nas ruínas da igreja bizantina que se abre sobre o deserto de Judá, na igreja católica muito moderna com um simpático pároco.

 

Cristãos, no plural?

Mas há outros lugares onde é mais difícil ver a presença de Jesus, e entre eles está o Santo Sepulcro. Em sua estrutura arquitetônica, a Basílica do Santo Sepulcro não está entre as mais belas igrejas do mundo. E depois ela é dividida entre as várias Igrejas: Católica, Ortodoxa, Apostólica Armênia, Copta, Etíope. O Santo Sepulcro mantém o status quo, estabelecido por um príncipe muçulmano anos atrás, para manter a paz entre as Igrejas.

É fácil escandalizar-se no Santo Sepulcro. Mas depois me dei conta que este é o mundo no qual que Deus veio habitar; o mundo que Ele amou, no qual Ele viveu e caminhou e fez o bem. O mundo em que Ele morreu e ressuscitou.

Deus continua a amar este mundo. E aqui, neste mundo, neste sepulcro, renovamos o nosso ato de fé. Cristo ressuscitou, realmente ressuscitou, aleluia! Al Masih Qam! Hakkan Qam! Christ is risen! He is truly risen, Hallelujah! Mesmo quando não é fácil. Mesmo quando se fomenta ódio, sob muitos nomes. Mesmo quando monges católicos lutam com monges ortodoxos no Santo Sepulcro. Talvez Deus sorria. Talvez chore. Talvez, até mesmo, Ele não possa falar. Mas resta-nos esta certeza: “Eu estarei sempre convosco, até o fim do mundo” (Mt 28, 20).

 

Padre Ivo Coelho, SDB, é conselheiro geral para a Formação e vive em Jerusalém.

Tradução: José Wilker França da Silva, pós-noviço salesiano da Inspetoria Salesiana do Nordeste.

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Pensando em Jerusalém...

Sábado, 04 Julho 2015 17:21 Escrito por  Pe. Ivo Coelho, SDB
O conselheiro geral para a Formação dos Salesianos, padre Ivo Coelho, oferece uma tocante reflexão sobre a Terra Santa, onde reside.

Quando penso na Semana Santa, não posso deixar de pensar em Jerusalém e na Terra Santa.

Não é que eu tenha participado em todas as cerimônias da Semana. Apenas da procissão do Domingo de Ramos, que acontece na antiga cidade de Betfagé, descendo o Monte das Oliveiras, como fez Jesus, com canto, dança e alegria. Também no momento de oração na Basílica do Getsêmani, após a liturgia da Quinta-feira Santa. E, em seguida, na Via Crucis, com a comunidade de Ratisbonne, na tradicional Via Dolorosa, que começa na Flagelação e termina no Santo Sepulcro.

Quando você vive em um lugar, se acostuma facilmente, mesmo que esse lugar seja a Terra Santa. Mas de vez em quando você percebe as coisas. Isso me aconteceu quando eu cruzei a Praça Independence, que liga o nosso instituto Ratisbonne ao Portão de Jaffa, à Cidade Antiga. Jesus viveu aqui, pensei; talvez tenha passado por aqui; talvez tenha visto estas oliveiras, ou talvez suas ancestrais. Talvez esses pássaros sejam descendentes daqueles de seu tempo. E, certamente, viu este sol, caminhou sob o céu.

 

Realidades física e espiritual

A realidade física de Jesus passou nesta terra, e a Terra Santa fez parte da realidade física de Jesus. Nenhum ser humano é um sistema fechado. Somos inseridos no ambiente que nos rodeia de um modo maravilhoso. A nossa realidade pessoal não termina na pele. A terra teve o privilégio de ser partícipe da encarnação do Filho.

Há lugares que preservam, de modo especial, essa presença de Jesus. Pouco conhecida, por exemplo, é a pequena cidade de Efraim, citada em João 11, 54: “Jesus não andava mais em público no meio dos judeus. Ele foi para uma região perto do deserto, para uma cidade chamada Efraim. Lá permaneceu com os seus discípulos”. Efraim é agora chamada Tayibe, famosa pela disputa entre cristãos. Uma região belíssima, especialmente na primavera. Uma região que contém quase fisicamente a presença de Jesus, nas ruínas da igreja bizantina que se abre sobre o deserto de Judá, na igreja católica muito moderna com um simpático pároco.

 

Cristãos, no plural?

Mas há outros lugares onde é mais difícil ver a presença de Jesus, e entre eles está o Santo Sepulcro. Em sua estrutura arquitetônica, a Basílica do Santo Sepulcro não está entre as mais belas igrejas do mundo. E depois ela é dividida entre as várias Igrejas: Católica, Ortodoxa, Apostólica Armênia, Copta, Etíope. O Santo Sepulcro mantém o status quo, estabelecido por um príncipe muçulmano anos atrás, para manter a paz entre as Igrejas.

É fácil escandalizar-se no Santo Sepulcro. Mas depois me dei conta que este é o mundo no qual que Deus veio habitar; o mundo que Ele amou, no qual Ele viveu e caminhou e fez o bem. O mundo em que Ele morreu e ressuscitou.

Deus continua a amar este mundo. E aqui, neste mundo, neste sepulcro, renovamos o nosso ato de fé. Cristo ressuscitou, realmente ressuscitou, aleluia! Al Masih Qam! Hakkan Qam! Christ is risen! He is truly risen, Hallelujah! Mesmo quando não é fácil. Mesmo quando se fomenta ódio, sob muitos nomes. Mesmo quando monges católicos lutam com monges ortodoxos no Santo Sepulcro. Talvez Deus sorria. Talvez chore. Talvez, até mesmo, Ele não possa falar. Mas resta-nos esta certeza: “Eu estarei sempre convosco, até o fim do mundo” (Mt 28, 20).

 

Padre Ivo Coelho, SDB, é conselheiro geral para a Formação e vive em Jerusalém.

Tradução: José Wilker França da Silva, pós-noviço salesiano da Inspetoria Salesiana do Nordeste.

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