Por se tratar de um evento de grande proporção em diversas dimensões, econômica, administrativa, política, afetiva, lúdica, artística e cultural, creio que seja oportuno refletirmos sobre os diversos significados e aspectos dessa extraordinária celebração esportiva.
É um tema e, ao mesmo tempo, uma ocasião que deve, espontaneamente, tocar a sensibilidade de educadores e líderes estimulando seus liderados à reflexão. Há um clima humano, um esforço e um sonho de convivência harmoniosa que precisamos aprofundar e renová-lo em nós. As Olimpíadas não são simplesmente um conjunto de competições esportivas! Essa celebração transcende os esportes!
O significado das Olimpíadas atuais é enorme, não simplesmente pela mega reunião de atletas de elite, mas, sobretudo, pela concelebração fraterna de povos (etnias), países, culturas, sistema de governos, religiões, profissões etc. Eis o espírito olímpico!
O significado de “Espírito Olímpico”
Quando se fala de “espírito olímpico” nos referimos a um conjunto de valores e atitudes morais fundamentais para a participação de um atleta, líderes e voluntários nesses jogos. O espírito olímpico é composto por atitudes como a hospitalidade, espírito de acolhida universal, abertura, amizade, alegria, motivação, entusiasmo, autodisciplina, comunhão, encontro com o outro, solidariedade, senso de equipe, colaboração, respeito pela diversidade e convivência tolerante entre os povos representados pelos milhares de atletas, onde as diferenças permanecem, mas todos buscam e se concentram no essencial: a alegre e harmoniosa participação.
O verdadeiro espírito olímpico não dispensa a luta, não suprime a concorrência, não elimina o esforço pessoal e grupal, não nega a luta pela vitória! Ao contrário, há uma competitividade impressionante, onde cada atleta dá tudo e o melhor de si pelo prêmio mais valioso, uma medalha de ouro!
Onde não há espírito olímpico, há negação do senso ético, há trapaça, doping, corrupção, violência, agressividade, suborno, negação das regras, há indisciplina, individualismo; não há aceitação da derrota, não há reconhecimento do talento alheio. Sem espírito olímpico também não há sucesso, não há admiração pelo atleta, não há vitória e nem premiação. É assim também que acontece na arena da vida!
A Olimpíada da vida
As competições da antiguidade aconteciam nos templos e praças (arenas), hoje, são estádios de futebol, quadras, ginásios, piscinas, pistas, tatames etc. Nas “Olimpíadas da Vida” esses espaços representam o mundo onde vivemos, treinamos, convivemos, trabalhamos.
São ambientes também onde nos encontramos como amigos e colegas, mas, ao mesmo tempo, muitas vezes, nos enfrentamos como concorrentes, competidores e adversários uns dos outros disputando uma vaga em concursos, uma vaga de emprego, um salário mais justo, um tratamento diferenciado no trabalho, um reconhecimento sociopolítico, enfim, uma posição na sociedade, quem sabe, de mais status, mais conforto, poder... É a Olimpíada da Vida e, cada um, a seu modo, joga com sua modalidade específica (vocação-profissão). Mas ter adversários e concorrentes, não significa ser inimigo!
O mundo é a grande arena de povos e de culturas, de religiões e sistemas de governos; o mundo é a arena da diversidade das nações que garante a beleza e a riqueza do mundo! Todavia, por causa da ausência de “espírito olímpico”, a participação nessa gigante arena é conturbada, marcada pela violência, pela intolerância, pelo ódio entre pessoas, povos, culturas e religiões.
O Espírito Olímpico e a Educação
A experiência do espírito olímpico não é gratuita, não é automática e nem espontânea! Esse conjunto de valores humanos e atitudes morais só pode ser vivenciado como consequência de um sério processo educativo. Sim, país de atletas ou povo mal-educado não ganha medalha! Só faz vergonha e confusão!
Atitudes como a autodisciplina, o equilíbrio emocional, o respeito pelo outro, a delicadeza, a participação serena, o espírito de equipe, a luta honesta, o senso de comunhão e a sinergia, só são possíveis para nós, quando somos educados! Eis aí então, uma grande chamada de atenção que nos vem das Olimpíadas...
A medalha de ouro mais preciosa que o governo de uma nação pode propor aos seus cidadãos é a Educação, ou seja, o desenvolvimento humano integral do povo, a superação da pequenez, da miséria, do analfabetismo, da ingenuidade, do fatalismo, da corrupção! Nessa luta, devemos estar todos envolvidos!
Fenômenos como o fundamentalismo religioso, a corrupção política, a criminalidade exacerbada e o etnocentrismo (sentimento de superioridade em relação aos outros) são, antes tudo, sinais evidentes da falta de senso de humanidade, ausência de formação humana! Onde não há formação humana também não haverá base para o espírito ético. O mundo, então, está carente de Espírito Olímpico! Precisamos de mais educação!
Antônio de Assis Ribeiro (padre Bira), SDB – é vice-inspetor da Inspetoria Salesiana Missionária da Amazônia e delegado de Pastoral Juvenil