Se somarmos à preocupação com a disseminação do bem, outra importante certeza de Dom Bosco, que afirmava que “a educação é obra do coração”, vamos compreender que o trabalho educativo realizado com amor, vínculo e compromisso com os destinatários da missão salesiana, é capaz de gerar um bem “incomensurável” (que não podemos medir) no coração do jovem que vem até uma casa salesiana, sobremaneira nas obras e projetos sociais. Os espaços sociais, além de serem gratuitos, frente às carências econômicas, sociais, afetivas e tantas outras que perpassam a vida de crianças e adolescentes em situação de grande vulnerabilidade e risco, realizam um grande bem aos que os frequentam, e tornam-se de muito valor para a vida de todos.
Ao longo de 2019, na Inspetoria de São Paulo, realizaram-se três bonitos encontros de ex-alunos em diferentes espaços: em maio, mais de 80 ex-moradores do Educandário Dom Duarte (Butantã – capital), obra conduzida ao longo de oito anos pelos salesianos (1982 – 1990); em novembro, em torno de 40 ex-moradores do Salesianos São Carlos (interior do Estado) e mais de 100 ex-oratorianos do Bom Retiro (capital). Juntamente com os familiares, esses três encontros reuniram mais de 500 participantes.
Em cada um desses momentos festivos, o que se pode constatar é como a vida de todos aqueles jovens, marcada em algum espaço de tempo pela pedagogia salesiana, pelo cuidado e pelo afeto dos salesianos e salesianas que ali atuaram, sofreu modificações profundas na formação e no desenvolvimento de todos eles. Assim acontece em cada obra salesiana, seja dos Salesianos de Dom Bosco (SDB) ou das Filhas de Maria Auxiliadora (FMA) em todo o país.
“Amorevolezza”
Gestos e atitudes, permeados da “Amorevolezza” (afeto, carinho) tão cultivada e recomendada por Dom Bosco, transformam vidas ao deixarem nos corações dos destinatários as “pequeninas sementes de mostarda” (Lc 13, 18ss) das quais fala Jesus no Evangelho, que, como a menor das sementes, crescem e ser tornam grandes arbustos. Nem sempre aquele que semeia é o mesmo que colhe, mas o fato é que, nos encontros mencionados acima e em tantos outros que acontecem nos movimentos de ex-alunos e ex-alunas salesianos, colhe-se sempre expressões de gratidão e também uma afirmação do quanto os momentos e oportunidades vividos na casa salesiana foram determinantes para que se tornassem bons pais e chefes de família, profissionais responsáveis, cidadãos do bem.
Padre Marcos Sandrini, em um dos seus escritos, afirma: “O Sistema Preventivo possui em si mesmo os recursos que permitem não apenas dar respostas eficazes a aspirações e a diferentes formas de pobreza juvenil, mas ajuda a tornar os jovens sujeitos ativos, protagonistas de evangelização e de renovação social”. É importante lembrar que, além do afeto, essencial no método educativo de Dom Bosco, o bem semeado manifesta-se em muitas outras atitudes: espírito de família, alegria, otimismo, valores morais, espiritualidade vivida no cotidiano e de forma leve, presença do educador em meio aos alunos etc.
Todo o conjunto dos valores que constituem o Sistema Preventivo contribui para a formação e desenvolvimento da pessoa, porque possibilita, mesmo nas situações em que a vida da criança ou do jovem é marcada por dor e sofrimento, serem apoiados na sua autoestima e levados a perceberem suas capacidades e seu potencial de também realizar-se através da promoção do bem. A “corrente do bem”, nome dado a um belo filme do ano 2000, consiste em colher os benefícios que o bem oferece à vida do indivíduo e multiplicá-lo, ofertando atitudes que levem alento, estímulo, auxílio e gestos concretos de bondade e de amor àqueles que mais necessitam.
A força do bem
Podemos comparar a força do bem a uma pedra que se atira na água. Apenas essa toca a superfície de um lago, provoca ondas circulares que vão se expandindo e se abrindo sobre a água. O efeito do bem sobre a vida daquele que o recebe e sobre a sociedade funciona de igual modo. Cria irradiações e movimentos que vão impulsionando e propagando atitudes positivas e capazes de transformação da pessoa e da comunidade.
Algumas ações tornam-se tão significativas em determinados momentos da vida de uma pessoa, que às vezes nem nos lembramos mais do pequeno gesto realizado, mas para quem se beneficiou do mesmo, numa situação particular, continua a ser recordado depois de dezenas de anos: um pedaço de bolo enviado para aquele que não pode estar presente na festa, mas que se sentiu lembrado; a medalhinha entregue como recordação em um momento de distanciamento; o remédio administrado e que levou alívio e manifestou cuidado... Só quem recebeu e se beneficiou do bem ofertado sabe o valor e a marca que deixou na sua vida. Na insignificância do gesto, ele pode até se perder na mente de quem o fez, mas, se representou amor, preocupação e zelo, deixará marcas no coração de quem recebeu e tornar-se-á sempre um apelo para que a chama do bem se conserve acesa e possa iluminar vidas.
Se você acredita na força do bem e do amor, não pare e não desista nunca. Continue a semear pequenos gestos de bondade, que vão sempre fazer a diferença e vão irradiar felicidade e esperança em muitas vidas.
Padre Agnaldo Soares Lima, SDB, é assessor da Rede Salesiana Brasil de Ação Social (RSB-Social).