Às contemplativas, o Papa lança um desafio: ser “faróis e centelhas” que guiam e acompanham o caminho da humanidade, oferecendo o Evangelho ao mundo contemporâneo. O Pontífice as exorta a vencer com tenacidade as tentações, em especial a tentação que degenera em apatia, rotina, desmotivação e indiferença paralisante.
Francisco convida a discernir sobre 12 temas da vida consagrada. Confira, a seguir, uma breve indicação do que o Papa trata nesses temas. A íntegra do documento está disponível apenas em italiano no Boletim da Santa Sé.
Formação e oração
O primeiro é a formação, que requer uma contínua conversão a Deus e um período que varia de 9 a 12 anos. Os mosteiros não devem se deixar levar pela tentação do número e da eficiência, adverte o Papa.
Depois há a oração, “espinha dorsal da vida consagrada”, que não deve ser vivida como um fechamento da vida monástica em si mesma, mas como um alargamento do coração “para abraçar toda a humanidade”, em especial os que mais sofrem.
Lectio divina, Eucaristia e Reconciliação
A Palavra de Deus é outro tema central, que deve marcar o dia pessoal e comunitário das contemplativas por me da lectio divina, para depois se transformar em actio, “dom para os outros na caridade”. A Constituição Apostólica recorda ainda a importância da Eucaristia e da Reconciliação, sugerindo prolongar a celebração com a adoração eucarística e viver a prática da penitência como ocasião privilegiada para contemplar a face misericordiosa do Pai e se tornar, assim, “instrumentos de reconciliação, de perdão e de paz” de que o mundo hoje necessita particularmente.
Vida comunitária e autonomia dos mosteiros
O quinto tema indicado pelo documento é a vida fraterna em comunidade, testemunho mais necessário do que nunca numa sociedade marcada por divisões e desigualdades. “É possível e belo viver juntos, não obstante as diferenças de geração, formação e cultura, porque unidade e comunhão não significam uniformidade”, escreve Francisco no documento.
O sexto tema diz respeito à autonomia dos mosteiros, que não deve significar “independência ou isolamento”, escreve o Papa, exortando as contemplativas a não adoecerem de “autorreferencialidade”.
As federações e a clausura
O sétimo tema ressalta a importância das Federações como estruturas de comunhão entre mosteiros que compartilham o mesmo carisma, sugerindo sua criação e multiplicação. O oitavo tema é relativo à clausura, sinal da união exclusiva da Igreja esposa com o seu Senhor.
O trabalho e o silêncio
O Papa destaca ainda o trabalho que as contemplativas devem realizar com devoção e fidelidade, sem se deixar condicionar pela mentalidade da cultura contemporânea, que aposta na eficiência. O trabalho deve ser entendido como serviço à humanidade e solidariedade para com os pobres. Já o silêncio é “escuta e ruminatio da Palavra”, vazio de si para fazer espaço ao acolhimento, silêncio rico de caridade, que ouve Deus e o grito da humanidade.
A cultura digital e os meios de comunicação
Consciente das transformações da sociedade e da “cultura digital”, que influi de modo decisivo na formação do pensamento e no modo de se relacionar com o mundo, Francisco propõe como 11º tema os meios de comunicação. “Instrumentos úteis para a formação e a comunicação”, o Papa todavia exorta as contemplativas a um discernimento prudente para que esses meios não sejam ocasião de evasão da vida fraterna, danificando a vocação e dificultando a contemplação.
A ascese rumo a Deus
Por fim, o último tema é ascese (prática de renúncia, de autocontrole do corpo e do espírito), que Francisco define como sinal eloquente de fidelidade num mundo globalizado e sem raízes, exemplo de como ficar ao lado do próximo mesmo diante de diversidades, tensões, conflitos e fragilidades.
A ascese não é uma fuga do mundo “por medo”, destaca Francisco, porque as monjas continuam a estar no mundo sem ser do mundo. Intercedendo constantemente pela humanidade junto a Deus, ouvindo o clamor de quem é vítima da cultura do descarte, as contemplativas são o “degrau” por meio do qual Deus desce ao encontro do homem e o homem sobe para o encontro com Deus.
Recrutamento de candidatas
A Conclusão da Constituição Apostólica se divide em 14 artigos que, de fato, definem em termos jurídicos o que foi dito pelo Pontífice precedentemente. Em especial, o art. 3 estabelece que se deve absolutamente evitar o recrutamento de candidatas de outros países com a única finalidade de garantir a sobrevivência do mosteiro.
O art. 8 traz a lista dos requisitos necessários para a autonomia jurídica de uma comunidade, entre os quais a capacidade formativa e de gestão, a inserção na Igreja local e a possibilidade de subsistência. Caso não haja esses requisitos, a Congregação para os Institutos de Vida Consagrada “avaliará a oportunidade de constituir uma comissão ad hoc” para “uma revitalização do mosteiro ou o seu fechamento”.
Obrigação inicial de pertencer a uma Federação
O art. 9 estabelece que inicialmente todos os mosteiros deverão pertencer a uma Federação. Se isto não for possível, o mosteiro deverá pedir a permissão da Santa Sé, à qual compete um “discernimento adequado”.
Por fim, no art. 14 afirma-se que caberá à Congregação para os Institutos de Vida Consagrada emanar indicações práticas, aprovadas pela Santa Sé, de acordo com os carismas das várias famílias monásticas.
ISJB com informações Rádio Vaticano