Boletim Salesiano – O senhor veio ao Brasil especialmente para o Encontro Nacional dos Formandos. Qual é a importância desse encontro e da presença do senhor junto aos formandos?
Padre Ángel Fernández Artime – Considerei esse encontro de uma importância muito grande desde o momento em que me deram a notícia de sua realização e eu tive a oportunidade de dizer que viria. Pela realidade de todo o Brasil, por ser um encontro dos formandos de todas as inspetorias e porque poder compartilhar, dialogar e refletir sobre a congregação e sobre a missão salesiana com os salesianos jovens de hoje significa preparar o futuro, o amanhã. Neste sentido, acredito que é uma iniciativa excelente e que é uma oportunidade para guiar as inspetorias do Brasil a enfatizarem a fidelidade ao carisma e à missão.
BS - O Brasil é um país jovem e aqui a juventude começa a se organizar. O Movimento Juvenil Salesiano (MJS, que no Brasil recebe o nome de Articulação da Juventude Salesiana - AJS) tem uma grande participação. O senhor tem uma mensagem para os jovens leigos que vivem o carisma salesiano?
Pe. Ángel - Primeiro me parece muito importante que os jovens das presenças salesianas sejam motivados a entrar no MJS; que sintam que não estão sozinhos, que fazem parte de toda uma equipe, de uma rede de milhares de jovens em todo o Brasil. Ao mesmo tempo os convido a pensar que fazer parte do Movimento Juvenil Salesiano significa sentir que cada um pode fazer uma profunda experiência primeiro associativa, com outros companheiros e companheiras, e depois pessoal, de fé e de serviço em favor de outros jovens. E dar a oportunidade a outros para que possam viver a mesma experiência que os animadores estão vivendo. Quero lembrar aos animadores e animadoras que, além do serviço que fazem, o mais importante é que eles mesmos estão tendo uma grande oportunidade para continuar sua formação, crescendo como pessoas e como cristãos. Por último, em sintonia com o que nos disse o Papa Francisco na carta para o bicentenário de Dom Bosco, eu os convido a promover um grande voluntariado social cristão, porque sem dúvida será uma grande força para o Brasil.
BS - A Rede Salesiana de Escolas (RSE) congrega mais de 100 escolas dos salesianos e das salesianas. Temos cerca de cinco mil educadores nessas escolas. O senhor poderia deixar uma mensagem aos educadores salesianos?
Pe. Ángel - Somos conscientes de que tudo que se faz na RSE hoje não seria possível sem estes cinco mil leigos que, a cada dia, prestam seu serviço e trabalham pelas obras salesianas. A mensagem é esta: primeiro, obrigado por continuarem ajudando Dom Bosco a cuidar dos jovens que o Senhor coloca em cada casa salesiana. Em segundo lugar, recordo-lhes que este é muito mais que um trabalho. São educadores salesianos. Educamos com um estilo e com um carisma próprio. Eu os convido a continuar amando muito a casa na qual trabalham, e a continuar crescendo em identidade salesiana, porque nunca acabamos de nos formar como salesianos e salesianas, leigos ou religiosos. Por último, não nos esqueçamos que um traço de nosso estilo educativo continua sendo a proximidade com a criança e o jovem.
BS - O Brasil é um país com muitas carências sociais, e nessa área o trabalho salesiano é muito importante, com cerca de 110 obras sociais mantidas pelos SDB e FMA. Como incentivar o trabalho salesiano junto aos mais carentes?
Pe. Ángel - Me agrada muito a pergunta; me agrada saber desta realidade, que temos tantas obras para os mais carentes, entre as Filhas de Maria Auxiliadora, os Salesianos e a Família Salesiana. Acredito que isso significa que estamos no caminho certo. Não somos somente prestadores de serviços sociais. Isso faz o governo, o Estado. Nós sempre somos educadores que, ao educar, fazemos isso integralmente e prestamos serviços para atender até as carências mais elementares. Por isso estou contente e convido meus irmãos e irmãs, salesianos e salesianas, a continuar este caminho de estar sempre junto dos mais pobres. Diante da pergunta de como seguir este caminho, eu lhes digo que precisamos ter os olhos muito abertos e os ouvidos muito atentos para perceber quais são as necessidades de hoje, de onde nos chegam os chamados dos mais pobres, de onde vêm os gritos dos jovens que necessitam de nós. Porque as respostas de 2015 não necessariamente são as mesmas que vimos em 1980, por exemplo. Mas que nunca nos esqueçamos de que a nossa identidade, como Família Salesiana, passa sempre pela opção preferencial pelos jovens e, entre eles, pelos mais carentes.
BS – Outra frente de trabalho salesiano muito importante em nosso país são as paróquias. Como elas devem atuar na evangelização da juventude e na ação missionária?
Pe. Ángel - As paróquias que temos confiadas aos Salesianos pela Igreja local precisam se distinguir por alguns traços muito importantes. Se não têm esses traços, não são paróquias adequadas para nós. Essas paróquias precisam se caracterizar por serem populares, o que significa estar entre os mais humildes e os que mais necessitam de nós, e por serem juvenis. Uma paróquia que não tenha jovens, não digo na igreja, mas no bairro, na região, não é uma paróquia ideal para o carisma salesiano. Terceiro, uma paróquia confiada aos salesianos precisa ser missionária. O que significa isso: que sai ao encontro daqueles que não vêm. Não podemos ficar tranquilos por atender só os que vêm à paróquia, sempre temos de pensar como podemos chegar aos que não vêm à paróquia, aos que acreditam não precisar de nós, aos afastados e distantes. Essa é a condição essencial de uma paróquia confiada aos salesianos: popular, juvenil e sempre evangelizadora missionária.
BS - O senhor tem uma página no Facebook, na qual escreve com grande frequência. Também já publicou as cartas aos salesianos. Qual é a importância dessa comunicação direta do Reitor-mor com a Família Salesiana?
Pe. Ángel - Escrevo todos os dias! Acredito que é muito importante, é um traço de nossa cultura e quero continuar aprendendo a me comunicar. Acredito que é importante porque o que não se conhece não existe. Nesse sentido, quase todos os dias escrevo os “Bom Dias” – é uma mensagem de 250 ou 260 palavras na qual transmito um pensamento cristão, evangelizador, humano, salesiano; acompanho com fotos e pretendo que seja um pátio virtual onde posso me comunicar com os jovens, amigos, amigas, a Família Salesiana em geral. Faço o mesmo com as cartas aos Salesianos e à Família Salesiana e com o “Caros Irmãos”, em vídeo, que é uma maneira de comunicar uma mensagem em cinco minutos. Em síntese: convido toda a Família Salesiana no mundo a não ter medo da comunicação. A estar nos pátios onde os jovens estão. E esses pátios virtuais são mundos onde estão os jovens. Precisamos nos preparar para eles e para também ensinar aos jovens a como estar nesse lugar de encontro. Pessoalmente estou convencido que Dom Bosco não diria “não” a este mundo, porque significaria se afastar do mundo em que estão os jovens.
É muito importante aproximar-se criticamente de todas as possibilidades que nos oferece o mundo de hoje. A internet é um campo fascinante. Pode ser usada para o mal, para elementos e finalidades antiéticas ou imorais; mas pode ser usada para fazer o bem de forma incrível. É aí que nós devemos estar: ensinando a não fazer o mal e a como fazer o bem.
BS – Como as inspetorias e suas unidades podem aproveitar esse cenário para atuar no incentivo e descoberta de novas vocações?
Pe. Ángel - Penso que todas as inspetorias e todas as casas do mundo salesiano precisariam ter o nosso rosto virtual. Toda pessoa que quisesse nos conhecer deveria poder nos encontrar também no espaço virtual. Mostrar quem somos, o que fazemos, porque fazemos, quais são nossas motivações e nossa identidade carismática. É imprescindível que seja atualizado. Uma página de Facebook boa não é uma peça de museu, é um meio para interagir todos os dias. Posso dizer que é um espaço maravilhoso para o encontro pessoal com os jovens. Tenho recebido muitas perguntas vocacionais de jovens, e sempre lhes respondo, indico alguém que possa acompanhá-los, sempre procuro incentivar os jovens a buscar metas mais altas. Mas acredito que deveríamos ter pessoas que, diariamente, cuidem desses espaços virtuais. Temos as motivações e os meios, resta fazer se tornar realidade.
BS - Por fim, nesse ano que celebramos o bicentenário de Dom Bosco, de que maneira a Família Salesiana pode empenhar-se para ser "Como Dom Bosco, com os jovens e para os jovens"?
Pe. Ángel - Creio que foi um ano maravilhoso, um ano de Graça que o Senhor nos presenteou neste bicentenário em todo o mundo. Como disse no dia da abertura, em 16 de agosto de 2014, há duas partes. Uma parte externa, que são os milhares de atos e realizações que tivemos nas 2.300 obras dos Salesianos, mais as 1.800 das FMA, mais as centenas de obras de toda a Família Salesiana. E outra parte que é relativa a como viver mais autenticamente nosso carisma salesiano. Acredito que isso responde a pergunta: O ano do bicentenário precisa nos deixar este sinal no próprio coração salesiano. Um ano assim é para nos tornarmos mais fiéis ao Senhor, mais fiéis a Dom Bosco, mais fiéis aos jovens. Significa que, à medida que sejamos mais autênticos no carisma que vivemos; à medida que buscarmos aos jovens e entre eles, aos mais pobres; à medida que busquemos levar o Evangelho a todos, estaremos respondendo ao que foi a paixão evangelizadora e educativa de Dom Bosco. Estou convencido de que o Ano do Bicentenário continuará gerando muitos frutos depois que se finalize, em 16 de agosto de 2015, e em 31 de dezembro em tantos lugares do mundo. Acredito no Bem que nos fez esse Ano de Graça. Estou convencido disso.