Não se trata de idealismo e de bons propósitos: os jovens de Maseru sabem muito bem do que estão falando, porque faz semanas a limítrofe África do Sul – a nação do arco-íris, que viveu em si a vergonha do ‘apartheid’ – está sendo sacudida por violências e choques em que se veem, como protagonistas, os jovens sul-africanos atacando minorias imigradas, presentes em seu país.
Só nas últimas semanas, nos ataques contra os imigrados, em Durban e nos subúrbios de Johanesburgo, foram mortas seis pessoas. Foram atingidos os mercadinhos e as atividades comerciais dos estrangeiros, enquanto símbolo do “que rouba trabalho”. Muitos imigrados de países vizinhos, como Zimbábue, Moçambique, Maláui e Lesoto, tiveram de pedir proteção à polícia; e vários milhares estão voltando à sua pátria, também por convite dos respectivos governos. “Perseguiam-nos como cães”, informaram alguns malauítas fugidos por causa das violências.
Segundo o Centro de Migrações Africanas, da Universidade de Witwatersrand, desde 2008 no país foram mais de 350 os estrangeiros assassinados; e a maioria desses crimes ficou impunida.
Mas a xenofobia nestes dias aparece, evidente, também muito mais ao Norte: acima do continente africano, onde a União Europeia e os vários governos dos países do Velho Continente, apesar de declarações e cúpulas, parecem intencionados a buscar a solução da emergência dos migrantes substancialmente agindo através de bloqueio naval: destruição dos barcas antes do seu ingresso no mar; de maiores investimentos; e do emprego de recursos para o patrulhamento das costas…
O nó do acolhimento, entretanto, aos que fogem de países em guerra ou de condições humanitárias extremas... – isso não se resolve. Mais: há quem já tenha feito saber que não está disposto a fazer mais para o acolhimento efetivo dos migrantes.
“Provo um sentimento... mais de vergonha que de indignação! A vergonha de fato me enche a face. A Europa atraiçoa toda a sua história, toda a sua cultura. O acolhimento e a hospitalidade foram grandes valores do Mediterrâneo”, declarou ontem Enzo Branchi, Prior da Comunidade de Bose, à Rádio do Vaticano.