Eram meados de 2019, ainda na época pré-pandemia quando, por meio de um padre salesiano muito estimado no terceiro setor, o padre Agnaldo Soares, fui apresentada para a irmã Sílvia da Silva, da Rede Salesiana Brasil. O objetivo do encontro era a possibilidade de nos conhecermos profissionalmente, chegando até mim, posteriormente, o convite para que eu pudesse escrever, inscrever, aprovar e, sequencialmente, captar recursos incentivados para as obras sociais salesianas.
A RSB, grandiosa em estrutura como é, e amplamente reconhecida nacionalmente, abria assim, através de mim e dos conhecimentos que eu havia adquirido em duas décadas no terceiro setor, as portas para atuar com projetos incentivados via Lei de Incentivo à Cultura.
Como em todo processo de diagnóstico, o que iniciei logo naquele ano foram as visitas in loco às instituições assistenciais e culturais salesianas de alguns estados do Brasil, para iniciarmos o processo de escrita dos projetos incentivados. Por sorte minha, a primeira obra a ser visitada foi a Fundação Menino Jesus de Ponte Nova, MG. Em 2019, era ainda presidida por irmã Zélia Patricio, e me encantei pelo trabalho desenvolvido na obra. Imediatamente imaginei que grandes parcerias viriam dali e, se ainda não existissem projetos de música, artes cênicas, literatura ou dança no município, via lei de incentivo federal, agora já era hora. Uma entidade que cuida do vulnerável de forma apaixonante, estruturada e organizada, atendendo centenas de crianças e jovens diariamente, além de seus familiares, precisava se beneficiar de leis federais para buscar ainda mais recursos financeiros para uma proposta que já completaria 80 anos de existência.
Teatro das Virtudes
Sim, escrevemos, inscrevemos, aprovamos, captamos e, em 2022, após quase três tortuosos anos de pandemia, demos início à execução de nosso projeto, levando de Campinas – interior de São Paulo – uma equipe de artistas que, por seis meses, promoveu a arte e a cultura, por meio dos espetáculos das virtudes para as crianças da Fundação Menino Jesus e centenas de outras, vindas de escolas públicas.
O projeto Teatro das Virtudes, em Ponte Nova, foi o precursor de tantos outros que ainda virão por meio da Fundação. Nessa ocasião, a irmã Zélia já não estava mais entre nós, mas com certeza aprovaria abrir as portas da cultura para a Fundação Menino Jesus, sem nenhuma possibilidade de voltarmos atrás com esse caminho novo, do bem e da captação de recursos que começávamos a trilhar. Nossas ideias e ideais para Ponte Nova não cessaram e, lá mesmo, na Fundação Menino Jesus, estamos executando atualmente, neste ano de 2023, o projeto cultural Musicante – Meninos de Ponte Nova, beneficiando diretamente quase uma centena de jovens e crianças semanalmente, além de seus familiares.
Pensando lá na frente, em 2022 escrevemos, aprovamos e estamos na fase de captação de recursos para o terceiro projeto cultural incentivado da Fundação: o Campo dos Sonhos. O objetivo é construir uma tenda de circo para ali oferecer às crianças do projeto diversas oficinas culturais, lúdicas e artísticas, para que possam aproveitar adequadamente o tempo que passam na instituição.
Novos projetos
A relevância que os espaços culturais proporcionam às crianças em vulnerabilidade social é algo importante e bonito de se mensurar pois, muitas vezes, o sistema público e a família não conseguem proporcionar as vivências artísticas, culturais, motoras e pedagógicas ali ofertadas, que marcam sua vida e favorecem que as crianças possam descobrir suas habilidades através da arte e cultura.
Não, não foi apenas a obra social de Ponte Nova que iniciou nesse novo caminho de projetos culturais incentivados. A obra social Jataí, de Pindamonhangaba, SP, por meio da Camerata Jovem, beneficiou, em 2022 e 2023, mais de 800 pessoas com seu projeto de música. A dança foi o tema escolhido para as obras sociais de Joinville, SC, e Gravatá, PE, que, no total, beneficiarão quase 2.000 pessoas até o final deste ano. Já no estado do Mato Grosso do Sul, a obra social de Campo Grande proporcionou a centenas de crianças o acesso às artes cênicas, espetáculos teatrais e literatura infantojuvenil.
Não, não vamos parar. Para sermos bem claros e objetivos, estamos apenas começando!
Sandra Sahd é gestora cultural.