Há muito mais “sede de Deus” do que se possa pensar

Segunda, 20 Fevereiro 2023 17:39 Escrito por  Pe. Ángel Fernández Artime
Há muito mais “sede de Deus” do que se possa pensar Dias de Espiritualidade da Família Salesiana (DEFS) 2023 ANS
Hoje há muita necessidade de escuta, de diálogo franco e gratuito, de encontros pessoais que não julgam nem condenam, e muita necessidade de silêncio e de presença de Deus.    

Caros amigos do Boletim Salesiano, acabei de participar no funeral do Papa Emérito Bento XVI. Foi ele mesmo que, um ano após o início do seu serviço como Pontífice, escreveu a magnífica Encíclica "Deus Caritas est", e nela está a afirmação que me parece a essência da magnífica fragrância do pensamento cristão: “Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo” (Deus Caritas est, 1). Certamente essa Pessoa é Jesus Cristo. E partindo desta afirmação, Bento XVI deixa-nos afirmações como estas:

 

  • “Jesus Cristo é a Verdade feita Pessoa, que atrai o mundo a Si.
  • A luz irradiada por Jesus é a luz da verdade. Todas as outras verdades são fragmentos da Verdade que é Ele, e a qual elas se referem.
  • Jesus é a estrela polar da liberdade humana: sem Ele ela perde a sua orientação, porque sem o conhecimento da verdade, a liberdade adultera-se, isola-se e reduz-se a estéril arbítrio.
  • Com Ele redescobre-se a liberdade, reconhece-se como criada para o bem e exprime-se através de ações e comportamentos caridosos.
  • Por isso Jesus dá ao homem a plena familiaridade com a verdade e convida-o continuamente a viver nela.
  • E nada mais do que o amor à verdade pode impelir a inteligência humana para horizontes inexplorados.
  • Jesus Cristo, que é a plenitude da verdade, atrai a si o coração de cada homem, dilata-o e enche-o de alegria”.

 

Em poucas frases, sólidas e densas, há todo um ensinamento cristão que está bem longe de ser uma “moral” ou um conjunto de regras frias e rígidas privadas de vida. A vida cristã é antes de tudo um verdadeiro encontro com Deus.

 

E é isto que afirmei no título desta mensagem. Na minha opinião e profunda convicção, há muito mais sede de Deus do que imaginamos, do que parece. Não é que eu pretenda mudar as estatísticas dos estudos sociológicos ou desenhar uma realidade fictícia. Claro que não pretendo fazê-lo, mas desejo fazer compreender que no “vis à vis”, no encontro “face a face” com a vida real de muitas pessoas, de muitos pais e mães, de muitas famílias, de muitos adolescentes e jovens, o que se encontra, com grande frequência, é uma vida difícil, uma vida que deve ser “curada” todos os dias, relações humanas em que o amor é desejado e necessário, que devem ser curadas em cada pequeno gesto, em cada pormenor, em cada ação. E neste “face a face” há muita necessidade de escuta, de diálogo franco e gratuito, de encontros pessoais que não julgam nem condenam, e muita necessidade de silêncio e de presença de Deus.

 

Digo-o com grande convicção. Precisamente aqui, em Valdocco-Turim, onde estou, surpreende-me e enche-me de alegria quando um grupo de jovens toma a iniciativa de convidar outros jovens para uma hora de presença, de silêncio e de oração diante de Jesus Eucarístico, isto é, uma hora de adoração eucarística, e uma centena de pessoas – tantos são os jovens – respondem ao encontro. Ou então em Roma, no Sacro Cuore, quando nos reuníamos na quinta-feira à noite, e os jovens e jovens casais, alguns com os seus meninos, e também casais de noivos estavam presentes neste momento porque sentiam que a sua vida tinha necessidade deste encontro com uma Pessoa que dá sentido à nossa vida.

 

E experimentei-o como exemplo em muitas nações e lugares. É por isso que nesta página eu os convido a fazer como faria Dom Bosco. Não hesitou um instante em propor aos seus rapazes a experiência do encontro com Jesus. E aquele Deus que é presença, que é Deus-conosco, como celebramos no Natal, é também o mesmo Deus que chama, que convida, que tranquiliza em cada encontro pessoal, em cada momento de repouso n’Ele.

 

Recordo uma das muitas “surpresas” de Dom Bosco. Narra ele nas Memórias: “Entrava eu na igreja pela sacristia e vi um jovem elevado à altura do santo Sacrário atrás do coro, em ato de adorar o Santíssimo Sacramento, ajoelhado no ar, com a cabeça inclinada e apoiada na porta do Sacrário, em suave êxtase de amor como um Serafim do Céu. Chamei-o pelo nome e ele logo se sacudiu e desceu muito perturbado, pedindo-me que não dissesse nada a ninguém. Repito que poderia contar muitos outros fatos semelhantes para dar a conhecer que todo o bem que Dom Bosco faz, deve-o especialmente aos seus filhos”.

 

É possível que Jesus seja ainda o mesmo Deus que quer encontrar-se hoje conosco e com muitos outros, ou então nos envergonhemos e tenhamos medo de percorrer este caminho? É possível que muitos de nós não ousem convidar outros a experimentar aquilo que estamos vivendo e que nos foi gratuitamente dado e oferecido? É possível que, por nos dizerem que tudo isso não é de moda e é pouco atual, acreditemos na torrente de mensagens negativas e percamos a força de testemunhar que muitos de nós continuam a gozar de cada encontro com Aquele que é o Senhor da vida? O Papa Bento estava convencido de que a sua vida e a sua fé eram “certas” e isto é grande, um encontro com o seu Senhor, e foi assim que o Papa Francisco se despediu dele nas últimas palavras da sua homilia: “Bento, fiel amigo do Esposo, seja perfeita a tua alegria ao escutar definitivamente e para sempre a sua voz”.

 

Continuemos, portanto, a promover, meus amigos, aqueles encontros de Vida que nos dão vida profunda, porque há mais “sede de Deus” do que se diga, do que se faça crer.

 

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Há muito mais “sede de Deus” do que se possa pensar

Segunda, 20 Fevereiro 2023 17:39 Escrito por  Pe. Ángel Fernández Artime
Há muito mais “sede de Deus” do que se possa pensar Dias de Espiritualidade da Família Salesiana (DEFS) 2023 ANS
Hoje há muita necessidade de escuta, de diálogo franco e gratuito, de encontros pessoais que não julgam nem condenam, e muita necessidade de silêncio e de presença de Deus.    

Caros amigos do Boletim Salesiano, acabei de participar no funeral do Papa Emérito Bento XVI. Foi ele mesmo que, um ano após o início do seu serviço como Pontífice, escreveu a magnífica Encíclica "Deus Caritas est", e nela está a afirmação que me parece a essência da magnífica fragrância do pensamento cristão: “Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo” (Deus Caritas est, 1). Certamente essa Pessoa é Jesus Cristo. E partindo desta afirmação, Bento XVI deixa-nos afirmações como estas:

 

  • “Jesus Cristo é a Verdade feita Pessoa, que atrai o mundo a Si.
  • A luz irradiada por Jesus é a luz da verdade. Todas as outras verdades são fragmentos da Verdade que é Ele, e a qual elas se referem.
  • Jesus é a estrela polar da liberdade humana: sem Ele ela perde a sua orientação, porque sem o conhecimento da verdade, a liberdade adultera-se, isola-se e reduz-se a estéril arbítrio.
  • Com Ele redescobre-se a liberdade, reconhece-se como criada para o bem e exprime-se através de ações e comportamentos caridosos.
  • Por isso Jesus dá ao homem a plena familiaridade com a verdade e convida-o continuamente a viver nela.
  • E nada mais do que o amor à verdade pode impelir a inteligência humana para horizontes inexplorados.
  • Jesus Cristo, que é a plenitude da verdade, atrai a si o coração de cada homem, dilata-o e enche-o de alegria”.

 

Em poucas frases, sólidas e densas, há todo um ensinamento cristão que está bem longe de ser uma “moral” ou um conjunto de regras frias e rígidas privadas de vida. A vida cristã é antes de tudo um verdadeiro encontro com Deus.

 

E é isto que afirmei no título desta mensagem. Na minha opinião e profunda convicção, há muito mais sede de Deus do que imaginamos, do que parece. Não é que eu pretenda mudar as estatísticas dos estudos sociológicos ou desenhar uma realidade fictícia. Claro que não pretendo fazê-lo, mas desejo fazer compreender que no “vis à vis”, no encontro “face a face” com a vida real de muitas pessoas, de muitos pais e mães, de muitas famílias, de muitos adolescentes e jovens, o que se encontra, com grande frequência, é uma vida difícil, uma vida que deve ser “curada” todos os dias, relações humanas em que o amor é desejado e necessário, que devem ser curadas em cada pequeno gesto, em cada pormenor, em cada ação. E neste “face a face” há muita necessidade de escuta, de diálogo franco e gratuito, de encontros pessoais que não julgam nem condenam, e muita necessidade de silêncio e de presença de Deus.

 

Digo-o com grande convicção. Precisamente aqui, em Valdocco-Turim, onde estou, surpreende-me e enche-me de alegria quando um grupo de jovens toma a iniciativa de convidar outros jovens para uma hora de presença, de silêncio e de oração diante de Jesus Eucarístico, isto é, uma hora de adoração eucarística, e uma centena de pessoas – tantos são os jovens – respondem ao encontro. Ou então em Roma, no Sacro Cuore, quando nos reuníamos na quinta-feira à noite, e os jovens e jovens casais, alguns com os seus meninos, e também casais de noivos estavam presentes neste momento porque sentiam que a sua vida tinha necessidade deste encontro com uma Pessoa que dá sentido à nossa vida.

 

E experimentei-o como exemplo em muitas nações e lugares. É por isso que nesta página eu os convido a fazer como faria Dom Bosco. Não hesitou um instante em propor aos seus rapazes a experiência do encontro com Jesus. E aquele Deus que é presença, que é Deus-conosco, como celebramos no Natal, é também o mesmo Deus que chama, que convida, que tranquiliza em cada encontro pessoal, em cada momento de repouso n’Ele.

 

Recordo uma das muitas “surpresas” de Dom Bosco. Narra ele nas Memórias: “Entrava eu na igreja pela sacristia e vi um jovem elevado à altura do santo Sacrário atrás do coro, em ato de adorar o Santíssimo Sacramento, ajoelhado no ar, com a cabeça inclinada e apoiada na porta do Sacrário, em suave êxtase de amor como um Serafim do Céu. Chamei-o pelo nome e ele logo se sacudiu e desceu muito perturbado, pedindo-me que não dissesse nada a ninguém. Repito que poderia contar muitos outros fatos semelhantes para dar a conhecer que todo o bem que Dom Bosco faz, deve-o especialmente aos seus filhos”.

 

É possível que Jesus seja ainda o mesmo Deus que quer encontrar-se hoje conosco e com muitos outros, ou então nos envergonhemos e tenhamos medo de percorrer este caminho? É possível que muitos de nós não ousem convidar outros a experimentar aquilo que estamos vivendo e que nos foi gratuitamente dado e oferecido? É possível que, por nos dizerem que tudo isso não é de moda e é pouco atual, acreditemos na torrente de mensagens negativas e percamos a força de testemunhar que muitos de nós continuam a gozar de cada encontro com Aquele que é o Senhor da vida? O Papa Bento estava convencido de que a sua vida e a sua fé eram “certas” e isto é grande, um encontro com o seu Senhor, e foi assim que o Papa Francisco se despediu dele nas últimas palavras da sua homilia: “Bento, fiel amigo do Esposo, seja perfeita a tua alegria ao escutar definitivamente e para sempre a sua voz”.

 

Continuemos, portanto, a promover, meus amigos, aqueles encontros de Vida que nos dão vida profunda, porque há mais “sede de Deus” do que se diga, do que se faça crer.

 

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