No Evangelho de João encontramos a seguinte afirmação de Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida” (Jo, 10-10). Durante todo o tempo de sua vida pública, Jesus passa fazendo o bem, levando vida àqueles que viam seus direitos e necessidades ameaçados. Sua palavra é palavra de vida e sua comunicação gera comunhão e inclusão.
A Palavra de Jesus é fonte de vida, e vida em abundância. Quando Jesus fala, os cegos veem (cf. Mc 10,46-52), a lepra desaparece (cf. Mc 1,40-42), os espíritos imundos fogem (cf. Mc 1, 21-28), a tempestade se acalma (cf. Mc 43-45), o pão é multiplicado (cf. Mc, 6, 33-44), os mortos ressuscitam (cf. Mc 5, 35-43) e os pecados são perdoados (cf. Mt 2, 1-12).
A comunicação de Jesus não se restringe ao campo das ideias, mas se expande em gestos concretos de amor, solidariedade, cura e acolhida. Assim como o Pai fala e os seres são criados (cf. Gn 1), assim também acontece com Jesus: as palavras de Cristo também se transformam em vida para aqueles que as ouvem, transformam as realidades e abrem espaço para a conversação e a novidade de vida.
Um gesto profético
Esse modelo de comunicação proposto por Jesus ainda hoje é um desafio para os cristãos e para toda a humanidade. Em um mundo em que crescem sempre mais a violência, a desigualdade, as notícias falsas e caluniosas e os discursos de ódio se popularizam, optar e fortalecer a comunicação a serviço da vida é um gesto profético. A profecia da comunicação a serviço da vida exige sair da autorreferencialidade que leva a narrar e interpretar os fatos a partir do próprio eu. Quando somos guiados por um desejo de alteridade, não podemos nos fechar em visões reducionistas e polarizadoras, imaginando-nos os donos da verdade.
Para nós cristãos, Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida e, mesmo sendo Ele a Verdade, em sua prática cotidiana não deixou manuais de regras a serem seguidas. Jesus optou sempre pelo diálogo, pela acolhida e pela esperança de conversão e retomada de vida. Ele não hesita em comer com os pecadores, em tocar o impuro, em argumentar sobre as motivações que levam as pessoas a crerem ou agirem de determinada forma. Mesmo diante da violência recebida, Jesus é capaz de oferecer a outra face, justamente porque Ele acredita no ser humano e opta por levar vida para todos, sem exceção.
Contato direto com os que mais precisam
A comunicação de Jesus nasce do seu contato direto com o povo, com aqueles que mais sofrem e se encontram marginalizados, por uma série de questões. Ele se deixa tocar pelo sofrimento, pelos pequeninos. Assim como o Pai viu e ouviu a aflição do povo, também Jesus caminhou por entre o povo, de um lugar para outro, nas periferias humanas e existenciais, e deixou-se tocar pela realidade. O contato com a morte, a dor, a angústia do ser humano o faz responder com palavras de vida e colocar-se a serviço da vida. Como disse o Papa Francisco, o pastor precisa ter o cheiro das ovelhas, porque não é possível pastorear à distância, sem contato direto com aqueles que nos são confiados.
Como diz uma música muito conhecida do Padre Zezinho, Jesus sabe dizer a palavra certa, na hora certa, do jeito certo e pra pessoa certa! Essa assertividade e essa eficácia nascem da capacidade de Cristo, Deus Conosco, abaixar-se e fazer-se carne, entrando assim no contato direto com a humanidade sofrida. O mistério da encarnação é o paradigma da perfeita comunicação em que, por uma dinâmica de total alteridade, Cristo vem ao nosso encontro e faz-se pobre entre os pobres, excluído entre os excluídos e pequeno como os pequenos.
No atual contexto em que vivemos, somos chamados a olhar para a vida de Jesus, a ouvir as suas palavras, a ler os seus gestos, as suas escolhas, as suas respostas, as suas perguntas e, assim, nos deixarmos moldar pelo Evangelho buscando sempre mais uma comunicação a serviço da vida. Que a oração do Papa Francisco, proposta por ocasião de sua mensagem para o LX Dia Mundial das Comunicações Sociais, seja a nossa oração.
Oração para o LX Dia Mundial das Comunicações Sociais
Senhor, ensinai-nos a sair de nós mesmos,
e partir à procura da verdade.
Ensinai-nos a ir e ver,
ensinai-nos a ouvir,
a não cultivar preconceitos,
a não tirar conclusões precipitadas.
Ensinai-nos a ir aonde não vai ninguém,
a reservar tempo para compreender,
a prestar atenção ao essencial,
a não nos distrairmos com o supérfluo,
a distinguir entre a aparência enganadora e a verdade.
Concedei-nos a graça de reconhecer as vossas moradas no mundo
e a honestidade de contar o que vimos.
Irmã Márcia Koffermann, FMA, é diretora-executiva da Rede Salesiana Brasil de Comunicação (RSB-Comunicação).