31 de outubro de 2011 e o Consulado Geral da Itália no Rio de Janeiro está em festa. No auditório, há um grande número de crianças e adolescentes, muitos deles atendidos pela Associação Beneficente Amar. Na mesa diretora do evento, estão o cônsul geral da Itália, Mário Panaro, e o presidente da Associação Jusvitae, de Palermo, na Itália, dom Antônio Garau, que veio ao Brasil especialmente para a entrega do Prêmio Internacional Don Pino Puglisi.
A homenageada da noite é a irmã Adma Cassab Fadel, FMA. Ela recebeu o prêmio como reconhecimento pelos quase 30 anos de trabalho missionário junto aos meninos e meninas que vivem em situação de rua e vulnerabilidade social no Rio de Janeiro. O início desse trabalho, afirma irmã Adma, foi consequência natural de sua vocação salesiana: “Sou uma irmã Filha de Maria Auxiliadora, então na minha própria vocação nasce o interesse pelas crianças mais desprotegidas e empobrecidas”. Em 1983, ela conheceu o professor Roberto José dos Santos, que trabalhava no Instituto Padre Severino – descrito por irmã Adma como uma “prisão de menores” na capital fluminense. Foi a oportunidade para uma ação diferente da que se via até ali com os meninos e meninas de rua. A proposta era se aproximar das crianças nas ruas do centro da cidade e iniciar com elas um trabalho preventivo, de atender e acolher esses meninos antes que eles fossem para as prisões.
Defesa dos direitos
Irmã Adma é uma das fundadoras da Associação Beneficente São Martinho, e ali atuou por 12 anos. No ano 2000, fundou a Associação Beneficente Amar. Ela se orgulha em dizer que entre os educadores desta entidade estão vários jovens que foram atendidos como meninos de rua. “Todo esse trabalho é envolvido pelo maior objetivo nosso que é o crescimento e a defesa dos direitos das crianças dentro de um ambiente de evangelização e aqui está a nossa missão”, afirma a religiosa.
A Associação Amar tem atualmente 12 projetos, divididos em três linhas de ação: preventiva, emergencial e de formação. Conforme explica Roberto dos Santos, que atualmente é o coordenador executivo da entidade, “a linha emergencial é aquela em que se desenvolvem as ações com crianças e adolescentes que já estão nas ruas e que não são capazes de acessar seus direitos por conta própria. Então temos a ousadia de abordá-los e oferecer espaços em que eles possam ter alguns desses direitos garantidos”.
Faz parte da linha emergencial o centro sócioeducativo, no qual o jovem pode tomar banho, fazer refeições e participar de atividades pedagógicas e lúdicas. Também uma casa de acolhida, que funciona 24 horas com 20 vagas fixas e 5 emergenciais. “Recebemos crianças que o juiz nos envia e os meninos que querem ficar. Todos eles estudam e participam das atividades, mas é uma casa aberta”, explica Roberto. E aqui está talvez o maior diferencial da proposta levada à frente por irmã Adma e a equipe da Associação Amar: a criança e o adolescente são respeitados como sujeitos de sua própria vida. Não há imposição nem recolhimento forçado. O método do sistema preventivo vivenciado é o do acolhimento, do convite e do convencimento.
A linha preventiva é a das ações feitas com crianças e adolescentes para evitar que saiam da família e cheguem à situação de rua. São atividades de reforço escolar, esportes, lazer e cultura, oferecidas em duas comunidades do complexo de favelas do Grajaú, na Capital, e no bairro Cidade Nova, em Duque de Caxias. Já a terceira linha de atuação é voltada para a formação de educadores.
Conquistas e desafios
Nesses quase 30 anos de caminhada, muita coisa mudou na situação dos meninos e meninas de rua no Brasil. Como um dos grandes avanços, irmã Adma aponta a elaboração e aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Mas há também desafios novos e difíceis: “Hoje a gente luta com um gigante do mal que se chama crack, que destrói a criança. Você pode imaginar um menino de 12 anos que depois de sete minutos jogando futebol diz que está cansado e cai, dormindo, dentro do campo?”, exemplifica.
“Todos os dias chegam aqui meninos que nos fazem tremer diante da resistência que eles têm a um sofrimento que a gente sabe que não suportaria. Muitas crianças preferem a droga, e fogem, vão embora. E quando voltam, são recebidas de novo e recomeçamos a caminhada”, afirma irmã Adma. Mas se há sim batalhas perdidas, há muitas que são vencidas graças ao empenho de quem acredita nesses jovens. Irmã Adma destaca que há um ex-atendido que hoje termina o curso de Pedagogia em uma universidade de Ferrara, na Itália; outro que é doutor em Psicologia em Roma. Há empresários, educadores “e tantos outros vivendo como cidadãos felizes, com suas famílias”.
Na luta cotidiana para salvar as crianças e adolescentes mais desassistidos, irmã Adma baseia todas as suas ações no sistema preventivo de Dom Bosco e afirma que a proposta educativa do santo de Turim não somente é atual, mas é a única possível. “No sistema preventivo de Dom Bosco tem coração e tem fé, e não existe método que possa dar certo sem isso. Enquanto houver o problema, o sofrimento das crianças, temos de jogar com a melhor ferramenta que a gente tem, e eu não tenho dúvidas de que é o sistema preventivo”, conclui irmã Adma.
Associação Beneficente Amar
A Associação Beneficente Amar, entidade referência no Rio de Janeiro no atendimento a crianças em situação de vulnerabilidade social, é uma organização sem fins lucrativos e depende exclusivamente do apoio de amigos e colaboradores para desenvolver suas atividades. Por ser uma entidade considerada de utilidade pública federal, pode receber doações tanto de empresas como de pessoas físicas. Para mais informações, o site é: <www.acaminho.org.br>.