Nas 180 aldeias atendidas pela Pastoral da Criança em Campinápolis, MT, vivem hoje aproximadamente 9 mil pessoas. Todas são de famílias da etnia Xavante. Agora começou a época das chuvas nesta região Leste do estado de Mato Grosso, onde se localizam essas aldeias. As chuvas aliviam o calor intenso e trazem outros benefícios à vegetação. No entanto, as precipitações constantes levam a outro tipo de transtorno para a população local na questão da saúde.
A enfermeira Géssyca Santiago é a responsável pela saúde indígena na microárea da aldeia Corpo de Cristo, onde vivem oito famílias, num total aproximado de 100 pessoas. Lá, ela detectou um grave problema de saúde. “Vimos que os casos de diarreia na comunidade Corpo de Cristo aumentaram bastante agora no período de chuva porque a água do rio que eles utilizam para beber, cozinhar, tomar banho, lavar roupas e outros afins, fica bastante suja e barrenta”, afirmou.
Os moradores de algumas das aldeias de Campinápolis já contam com água de poços artesianos, alguns perfurados pelas equipes lideradas pelo Salesiano irmão Alois Würz, do Projeto AMA, e outros pela SESAI (Secretaria Especial de Saúde Indígena). Mas, as oito famílias da aldeia Corpo de Cristo ainda se abastecem de água no Rio São Felipe, que corta a região. Normalmente, a água desse rio já é turva, mas, com as chuvas, ela fica mais barrenta e contaminada.
A aldeia é vizinha de várias fazendas de criação de gado e também muito próxima a outras áreas habitadas que não contam com rede de esgoto. As chuvas intensas ‘lavam’ o solo levando para o leito do rio muito material orgânico em decomposição e fezes de animais, o que contamina ainda mais as águas.
Para contornar o problema, que só poderá ser totalmente resolvido com o abastecimento da população com água tratada, os agentes da pastoral fizeram uma série de orientações sobre como proceder na hora de utilizar a água coletada no rio. Além disso, foram distribuídas colheres-medida para a preparação do soro caseiro, utilizado no tratamento da diarreia. Outra medida adotada foi a distribuição de filtros de barro.
De acordo com o diácono salesiano, José Alves, o material foi conseguido através de doações feitas por benfeitores e amigos da causa indígena. Os indígenas receberam a orientação sobre a maneira correta de utilizar, limpar e manter os filtros. “A nossa intenção é fazer com que cada família receba um filtro de barro, que será suficiente para amenizar a situação”, pondera o religioso. A medida é paliativa, reconhece. No entanto, será suficiente para aguardar a perfuração de um poço artesiano na aldeia. A placa de energia solar e a estrutura da caixa d’água para o futuro poço já estão instaladas na aldeia. Mas ainda não há previsão de quando o poço poderá ser perfurado.
Para a coordenadora da Pastoral da Criança, Deusmira Moreira, os filtros podem diminuir um pouco o sofrimento dessas crianças. “É muito triste a gente chegar na aldeia e ver uma criança desnutrida e não poder fazer nada. A gente vem embora com o coração doendo. A gente luta para que a criança não entre em desnutrição. Depois que pega a desnutrição, fica mais difícil sair dessa situação”, destaca a voluntária.
As aldeias indígenas de Campinápolis integram a Paróquia Particular de São Domingos Sávio, que tem como pároco o missionário salesiano padre Bartolomeo Giaccaria. A participação da Missão Salesiana de Mato Grosso é reconhecida pela comunidade local e autoridades como fundamental na garantia da dignidade e saúde do povo xavante. “É uma alegria poder contar com o apoio dos salesianos e das equipes de saúde. Sem esse apoio, nós não somos nada. A gente sempre está trabalhando junto”, afirma Deusmira Moreira, coordenadora da Pastoral da Criança na cidade.
“Quero agradecer muito aos salesianos. Com essa ajuda, a gente pode fazer mais e mais. Para mim é um prazer enorme poder salvar vidas. Não só das crianças, mas também das gestantes e as pessoas idosas”, reitera Deusmira. “Em nome da equipe, agradeço a todos que nos ajudaram com a doação dos filtros”, finaliza a enfermeira Géssyca.
Fonte: Euclides Fernandes – Missão Salesiana de Mato Grosso