Anita Brunelle dos Santos, aluna do 4º ano do ensino fundamental no Liceu Coração de Jesus, em São Paulo, Capital, adora quando o ambiente da aula muda para o Museu da Obra Salesiana no Brasil (MOSB): “É muito legal porque saímos da sala e vamos aprender com mais objetos”, afirma. Seu colega Julio César Wood Silva diz que no museu é possível aprender “coisas boas, novas e interessantes”. Felipe Zião Daí completa: “Achei uma aula bem legal de ver e de ouvir”. A empolgação dos alunos é fruto de um dos projetos educativos desenvolvidos pelo MOSB, o “Aula no Museu”. O projeto leva o estudo de Ciências e de História para dentro do museu, onde é possível observar e manusear objetos que não estão disponíveis na sala de aula. E este é apenas um dos vários projetos do MOSB voltados à educação.
“O museu é um espelho onde você tem de se enxergar. Isso é o que acreditamos e o que queremos. Por isso, a criança aqui não é só observadora, ela tem de participar e se enxergar nas Ciências e na História que estão contidas aqui. Ela tem uma identificação”, afirma Flaviana Souza, responsável pela Comunicação e Educativo do MOSB. Enquanto em outros museus, muitas vezes, o “educativo” se resume a um guia que aponta os objetos e explica o que são; o Museu da Obra Salesiana no Brasil busca uma maior interação com alunos e professores. “Aqui as crianças podem tocar quase todos os objetos desde que utilizem luvas – o uso das luvas é um dos pontos de conscientização sobre patrimônio trabalhado em toda visita ao museu. Quando trabalhamos os fósseis, por exemplo, os alunos colocam luvas e entram em contato direto com objetos de 20 mil anos”, explica ela, que realiza os trabalhos educacionais em conjunto com a coordenadora do MOSB, Drª Dulcília Silva.
Aprendizado em todas as idades
O “Aula no Museu” teve início baseado no material didático da Rede Salesiana de Escolas, e por isso está aberto a qualquer escola da RSE. Porém, por uma questão de proximidade – já que o MOSB funciona nas dependências do Liceu Coração de Jesus -, os alunos da educação infantil e do ensino fundamental I do Liceu são os principais parceiros. Só o 4º ano da escola realizou cinco Aulas especiais no ano passado. Há propostas de aulas também para o ensino fundamental II, ensino médio, técnico e Educação de Jovens e Adultos.
Flaviana destaca que outras escolas podem participar do projeto: “Já tivemos visitas de colégios particulares não salesianos e escolas públicas, porque a base curricular é a mesma. Fazemos o agendamento e montamos as aulas”. Uma das aulas que faz bastante sucesso com os pequenos é a “balada do esqueleto”, na qual os alunos aprendem sobre as articulações do corpo humano após assistirem à dança bem animada de um esqueleto de resina. E, claro, aqui também é permitido tocar.
Missão educativa
Outro projeto é a proposta educativa da Exposição dos 200 anos de Nascimento de Dom Bosco. O diferencial em relação a uma visita “normal” é um conjunto de atividades, realizadas em cada sala. Na parte sacra, por exemplo, que não desperta inicialmente tanto interesse dos alunos, eles são divididos em grupos e recebem a missão de encontrar objetos interessantes e diferentes, como um “aspersório” (utensílio para aspergir água benta), ou uma relíquia. Para encontrar esses objetos, precisam ler as legendas, conhecer para que serve cada item exposto... A palavra “missão” também não é usada aleatoriamente: é a partir dela que se fala sobre a missão educativa salesiana, sobre os missionários que vieram para o Brasil, sobre o trabalho do salesiano como padre, educador, pesquisador e missionário. “Tudo isso gerou uma mudança, um aumento do interesse”, comemora Flaviana.
Foram preparadas atividades para todos os públicos, do infantil à terceira idade. Durante a visita são aplicadas outras atividades como quebra-cabeças de fotografias dos objetos dentro da exposição; jogo de dominó em que os nomes, fotografias de objetos, datas e descrições deverão ser associados; visita no escuro, para aqueles que já tenham estado no museu, quando cada um recebe uma lanterna e pode explorar a área de exposições de uma maneira bem diferente e muitas outras opções.
As partituras musicais, uma das partes mais importantes do acervo, inspiraram um jogo de cartelas com símbolos que são ordenados pelos estudantes de maneira a “montar” músicas. “Eles desenvolvem o ritmo, descobrem como é feita uma partitura, trabalham a simbologia”, conta a responsável pelo museu. Como em todas as outras atividades, a proposta é multidisciplinar.
O projeto mais novo do MOSB, iniciado em 2015, é “O acervo me contou”. Trata-se de um mini-curso de museologia, que aborda história da arte, trabalho com acervo, o que é cultura e o que é patrimônio, como catalogar objetos etc. As aulas são adaptadas às diferentes faixas etárias e unem em cada módulo reflexão teórica e atividades práticas.
Como Dom Bosco
Os projetos atuais do MOSB estão muito ligados à proposta pedagógica de Dom Bosco, que acreditava no protagonismo juvenil. E também à história do próprio museu, que nasceu com a vocação educativa. No início do século XX, o Liceu Coração de Jesus, primeira escola salesiana em São Paulo, já contava com um “Laboratório de Ciências e Museu” muito bem equipado. Ali estavam os objetos utilizados nas aulas do Liceu, escola inovadora que levou aos filhos dos imigrantes e dos escravos recém-libertos uma educação de alta qualidade para os padrões da época. Os alunos contavam, entre outros, com grande sortimento de objetos para o estudo de Ciências, incluindo animais taxidermizados; filmes educativos estrangeiros e instrumentos musicais. Todo esse material foi sendo guardado, ao longo do tempo.
Mas foi apenas em 2008 que o acervo começou a ser musealizado. Ou seja: cada objeto recebeu um número de controle, teve início a higienização dos itens, o acervo começou a ser catalogado (inclusive por especialistas em cada área). O que está em exposição é apenas uma pequena parte do acervo, que atualmente inclui: taxidermizados, troféus, objetos litúrgicos, arqueologia, paleontologia, entomologia (insetos), etnologia (objetos indígenas principalmente), malacologia (conchas), cinema, música (com mais de 5 mil objetos, incluindo centenas de partituras originais), materiais e instrumentos do Liceu de Artes e Ofícios, objetos de arte etc.
“Diferentemente do que muitos pensam não é um museu sacro, e sim um museu histórico, com vocação educativa”, completa Flaviana. O Museu da Obra Salesiana no Brasil está aberto à visitação de grupos e parcerias em projetos educacionais, desde que com agendamento prévio pelo e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..br ou pelo telefone: (11) 3337-2916.