Projeto Pessoal de Vida: Missionários apostólicos

Sexta, 21 Março 2025 13:50 Escrito por  Pe João Mendonça, SDB
Projeto Pessoal de Vida: Missionários apostólicos iStock.com
É importante incluir no Projeto Pessoal de Vida a dimensão missionária, cuja fonte é o Batismo.

 

No artigo anterior comentamos o discernimento para o envio dos primeiros 10 missionários salesianos à América, respondendo ao Projeto Pessoal de Vida (PPV) de cada um que, no fundo, era concretizar na vida o mandato missionário do Senhor a partir das Constituições salesianas, cuja fonte é o Batismo.

Após a audiência com o Papa Pio IX (31/10/1875), eles receberam do cardeal Franchi, prefeito da Propaganda da Fé, hoje chamado de Dicastério para a Evangelização dos Povos, um decreto que os considerava Missionários Apostólicos. Mais do que uma honra concedida, era um compromisso pela evangelização (MB, vol XI, 2022, p. 297). Era o reconhecimento da Igreja pela contribuição que a nascente Congregação Salesiana estava inaugurando para levar a Boa Nova à América.

É importante incluir no PPV a dimensão missionária, cuja fonte é o Batismo. Por isso, proponho um caminho de conscientização a partir de três documentos da Igreja que considero fundamentais: A missão do Cristo Redentor, encíclica publicada em 1990 pelo Papa João Paulo II; Encontro com Jesus Cristo vivo, conversão, comunhão e solidariedade, exortação pós-sinodal de 1999, do Papa João Paulo II; e Discípulos missionários, Documento de Aparecida, publicado em 2007.

 

A missão do Cristo Redentor

João Paulo II perguntava sobre o porquê da missão. E ele mesmo respondeu: “a missão é um problema de fé, é a medida exata da nossa fé em Cristo e no seu amor por nós” (RM, 11), pois somente na pessoa de Jesus somos libertos de toda e qualquer escravidão. Portanto, à luz da experiência Paulina, somos chamados a anunciar a todos essa novidade. Ninguém pode guardar para si tal Boa Notícia. A mensagem central de Jesus foi o Reino de Deus, ou seja, sua presença no meio de nós vivenciada na comunhão eclesial como Povo de Deus em marcha, cuja característica é saber curar e perdoar como Jesus (RM, 14).

No PPV, precisamos abrir o coração, a mente e a vontade à ação do Espírito Santo, porque ele guia o nosso agir. É o Espírito Santo que nos envia (RM, 22-25). No PPV precisa ser clara a experiência de encontro com Jesus e sua influência no modo de ver, julgar e agir na realidade.

 

O encontro com Jesus Cristo vivo

No ano em que a Igreja presente na América Latina completou 500 anos, o Papa João Paulo II convocou uma Assembleia Sinodal para refletir, no âmbito da evangelização, sobre os problemas relativos à justiça e à solidariedade. A Assembleia Sinodal teve como tema “Encontro com Jesus Cristo vivo, caminho para a conversão, a comunhão e a solidariedade na América” (IA, n. 3). Após a Assembleia, ele publicou a exortação pós-sinodal A Igreja na América.

A chave de leitura é o encontro com Jesus vivo que produza conversão, comunhão e solidariedade (IA, n.8). O encontro com Jesus é a base da nossa adesão à pessoa dEle e não a uma ideia sobre Ele; Jesus não é um conjunto de doutrinas, mas uma pessoa concreta, o peregrino de Nazaré que marcou a vida de Zaqueu (Lc 19,1-10), de Maria Madalena (Jo 20,11-18), dos discípulos (Lc 24, 13-35).

Então, é necessário que no PPV se contemple: o encontro com Jesus na comunidade eclesial que responde à pergunta sobre o sentido da vida (IA, n.10). A devoção mariana, tão rica em nossa terra, é também caminho para o encontro com Jesus (IA, n. 11). Isto quer dizer que é urgente resgatar a verdadeira devoção mariana. Na Sagrada Escritura, na liturgia e no rosto das pessoas, sobretudo os excluídos, está presente o Senhor e precisamos encontrá-lo nestas mediações (IA, n. 12).

 

Discípulos missionários

No ano 2007, a Igreja Católica presente na América e no Caribe realizou a Assembleia de Aparecida. Ali, a “Igreja foi chamada a repensar profundamente e a relançar com fidelidade e audácia sua missão nas novas circunstâncias latino-americanas e mundiais” (DAP, n. 11). Fazia-se urgente confirmar, renovar e revitalizar a novidade do Evangelho (DAP, n. 11), no reconhecimento de que “se começa a ser cristão não por uma decisão ética ou grande ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá novo horizonte à vida” (DAP, 12). Esta Pessoa é Jesus.

Um encontro que marca a vida do cristão, assim como marcou a dos primeiros discípulos e comunidades, que foram “atraídos pela sabedoria de suas palavras, pela bondade de seu trato e pelo poder de seus milagres. E pelo assombro inusitado que a pessoa de Jesus despertava” (DAP, n. 21). Então, o PPV precisa ser penetrado pelo processo iniciático da fé cujo querigma, anúncio, é a base de sustentação da adesão a ele (DAP, n. 286-299). De maneira magistral, Aparecida retoma a exortação Igreja na América e a insere na formação do discípulo missionário.

O caminho do discipulado requer deixar tudo (Mt 16,24). Assumir a missão e deixar-se mover pelo Espírito Santo. Disto brota a santidade, pois “todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra. És uma consagrada ou um consagrado? Sê santo, vivendo com alegria a tua doação. Estás casado? Sê santo, amando e cuidando do teu marido ou da tua esposa, como Cristo fez com a Igreja. És um trabalhador? Sê santo, cumprindo com honestidade e competência o teu trabalho ao serviço dos irmãos. És progenitor, avó ou avô? Sê santo, ensinando com paciência as crianças a seguirem Jesus. Estás investido em autoridade? Sê santo, lutando pelo bem comum e renunciando aos teus interesses pessoais (Francisco, Chamado à santidade, 2018, n. 14).

Diante disso, o PPV, mais que uma estratégia de vida, é um caminho de encontro com o Senhor, que determina a vida presente e futura da pessoa que crê. São as implicações concretas da missionariedade apostólica numa Igreja sinodal.

 

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Projeto Pessoal de Vida: Missionários apostólicos

Sexta, 21 Março 2025 13:50 Escrito por  Pe João Mendonça, SDB
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É importante incluir no Projeto Pessoal de Vida a dimensão missionária, cuja fonte é o Batismo.

 

No artigo anterior comentamos o discernimento para o envio dos primeiros 10 missionários salesianos à América, respondendo ao Projeto Pessoal de Vida (PPV) de cada um que, no fundo, era concretizar na vida o mandato missionário do Senhor a partir das Constituições salesianas, cuja fonte é o Batismo.

Após a audiência com o Papa Pio IX (31/10/1875), eles receberam do cardeal Franchi, prefeito da Propaganda da Fé, hoje chamado de Dicastério para a Evangelização dos Povos, um decreto que os considerava Missionários Apostólicos. Mais do que uma honra concedida, era um compromisso pela evangelização (MB, vol XI, 2022, p. 297). Era o reconhecimento da Igreja pela contribuição que a nascente Congregação Salesiana estava inaugurando para levar a Boa Nova à América.

É importante incluir no PPV a dimensão missionária, cuja fonte é o Batismo. Por isso, proponho um caminho de conscientização a partir de três documentos da Igreja que considero fundamentais: A missão do Cristo Redentor, encíclica publicada em 1990 pelo Papa João Paulo II; Encontro com Jesus Cristo vivo, conversão, comunhão e solidariedade, exortação pós-sinodal de 1999, do Papa João Paulo II; e Discípulos missionários, Documento de Aparecida, publicado em 2007.

 

A missão do Cristo Redentor

João Paulo II perguntava sobre o porquê da missão. E ele mesmo respondeu: “a missão é um problema de fé, é a medida exata da nossa fé em Cristo e no seu amor por nós” (RM, 11), pois somente na pessoa de Jesus somos libertos de toda e qualquer escravidão. Portanto, à luz da experiência Paulina, somos chamados a anunciar a todos essa novidade. Ninguém pode guardar para si tal Boa Notícia. A mensagem central de Jesus foi o Reino de Deus, ou seja, sua presença no meio de nós vivenciada na comunhão eclesial como Povo de Deus em marcha, cuja característica é saber curar e perdoar como Jesus (RM, 14).

No PPV, precisamos abrir o coração, a mente e a vontade à ação do Espírito Santo, porque ele guia o nosso agir. É o Espírito Santo que nos envia (RM, 22-25). No PPV precisa ser clara a experiência de encontro com Jesus e sua influência no modo de ver, julgar e agir na realidade.

 

O encontro com Jesus Cristo vivo

No ano em que a Igreja presente na América Latina completou 500 anos, o Papa João Paulo II convocou uma Assembleia Sinodal para refletir, no âmbito da evangelização, sobre os problemas relativos à justiça e à solidariedade. A Assembleia Sinodal teve como tema “Encontro com Jesus Cristo vivo, caminho para a conversão, a comunhão e a solidariedade na América” (IA, n. 3). Após a Assembleia, ele publicou a exortação pós-sinodal A Igreja na América.

A chave de leitura é o encontro com Jesus vivo que produza conversão, comunhão e solidariedade (IA, n.8). O encontro com Jesus é a base da nossa adesão à pessoa dEle e não a uma ideia sobre Ele; Jesus não é um conjunto de doutrinas, mas uma pessoa concreta, o peregrino de Nazaré que marcou a vida de Zaqueu (Lc 19,1-10), de Maria Madalena (Jo 20,11-18), dos discípulos (Lc 24, 13-35).

Então, é necessário que no PPV se contemple: o encontro com Jesus na comunidade eclesial que responde à pergunta sobre o sentido da vida (IA, n.10). A devoção mariana, tão rica em nossa terra, é também caminho para o encontro com Jesus (IA, n. 11). Isto quer dizer que é urgente resgatar a verdadeira devoção mariana. Na Sagrada Escritura, na liturgia e no rosto das pessoas, sobretudo os excluídos, está presente o Senhor e precisamos encontrá-lo nestas mediações (IA, n. 12).

 

Discípulos missionários

No ano 2007, a Igreja Católica presente na América e no Caribe realizou a Assembleia de Aparecida. Ali, a “Igreja foi chamada a repensar profundamente e a relançar com fidelidade e audácia sua missão nas novas circunstâncias latino-americanas e mundiais” (DAP, n. 11). Fazia-se urgente confirmar, renovar e revitalizar a novidade do Evangelho (DAP, n. 11), no reconhecimento de que “se começa a ser cristão não por uma decisão ética ou grande ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá novo horizonte à vida” (DAP, 12). Esta Pessoa é Jesus.

Um encontro que marca a vida do cristão, assim como marcou a dos primeiros discípulos e comunidades, que foram “atraídos pela sabedoria de suas palavras, pela bondade de seu trato e pelo poder de seus milagres. E pelo assombro inusitado que a pessoa de Jesus despertava” (DAP, n. 21). Então, o PPV precisa ser penetrado pelo processo iniciático da fé cujo querigma, anúncio, é a base de sustentação da adesão a ele (DAP, n. 286-299). De maneira magistral, Aparecida retoma a exortação Igreja na América e a insere na formação do discípulo missionário.

O caminho do discipulado requer deixar tudo (Mt 16,24). Assumir a missão e deixar-se mover pelo Espírito Santo. Disto brota a santidade, pois “todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra. És uma consagrada ou um consagrado? Sê santo, vivendo com alegria a tua doação. Estás casado? Sê santo, amando e cuidando do teu marido ou da tua esposa, como Cristo fez com a Igreja. És um trabalhador? Sê santo, cumprindo com honestidade e competência o teu trabalho ao serviço dos irmãos. És progenitor, avó ou avô? Sê santo, ensinando com paciência as crianças a seguirem Jesus. Estás investido em autoridade? Sê santo, lutando pelo bem comum e renunciando aos teus interesses pessoais (Francisco, Chamado à santidade, 2018, n. 14).

Diante disso, o PPV, mais que uma estratégia de vida, é um caminho de encontro com o Senhor, que determina a vida presente e futura da pessoa que crê. São as implicações concretas da missionariedade apostólica numa Igreja sinodal.

 

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