Em muitos países, o Natal que estamos prestes a celebrar será muito diferente daquele do ano passado. As guerras e as catástrofes naturais aumentaram a pobreza e as necessidades de uma grande parte da população mundial. Na verdade, se o Menino Jesus nascesse este ano em Belém, nasceria em meio aos escombros, devido ao conflito que começou há dois meses e meio na Faixa de Gaza.
As Missões Salesianas, da Procuradoria Missionária Salesiana de Madrid, fez um panorama das situações mais graves do mundo, da Ucrânia até à República Democrática do Congo, onde as crianças continuam sofrendo com todas estas injustiças.
As invasões e os bombardeios na Ucrânia continuam, novos conflitos na África forçaram milhões de pessoas a fugir de suas casas, as consequências das alterações climáticas afetam cada vez mais pessoas e populações em todo o mundo. Tudo isto gera pobreza, insegurança alimentar, trabalho infantil, absentismo escolar, casamentos precoces e recrutamento forçado de crianças.
Milhões de pessoas sofrem mais uma vez uma escalada de violência na região de Kivu, no Nordeste da República Democrática do Congo. O conflito se intensificou e muitas pessoas precisaram abandonar suas casas para salvar suas vidas. Na região, existem mais de cinco milhões de deslocados internos e, em Goma, os missionários salesianos acolhem 28 mil pessoas que fugiram da violência e se instalaram espontaneamente nas dependências do Centro Salesiano Dom Bosco Ngangi.
“Quero pedir paz para o meu país”
Christine é uma das menores que vivem em Don Bosco Ngangi, na República Democrática do Congo. “Quero pedir paz para o meu país, para que crianças como eu possam voltar à escola, as nossas famílias possam trabalhar e possamos viver num lugar seguro e tranquilo. Gostaria de ter livros para ler, cadernos e lápis para escrever, porque quando crescer quero ser escritora”, afirmou.
Milhares de desabrigados na Síria
Também na Síria, a situação continua grave. Dez meses após os terremotos que devastaram o Norte do país e há 13 anos do início da guerra, milhares de pessoas continuam sem abrigo e suas necessidades crescem. De acordo com as agências internacionais que atuam na Síria, mais de 15 milhões de pessoas precisam de ajuda humanitária para sobreviver. Os salesianos continuam trabalhando na Síria e permanecem ao lado da população, especialmente das crianças e dos jovens.
“Quero que todas as crianças tenham um lugar seguro para viver”
Ahmed tem 10 anos e mora em Aleppo. “Há alguns meses, um terremoto destruiu minha casa. Tudo tremeu e ruiu ao nosso redor. Minha família e eu tivemos que fugir no meio da noite e, desde então, estamos em um abrigo temporário”, escreve ele em sua carta de Natal. “Meu melhor amigo, Hassan, não teve tanta sorte quanto eu. Ele está no céu agora e eu sei que ele está cuidando de mim. Sinto falta de jogar futebol com ele, de suas risadas e de contar meus segredos. Neste Natal, não peço brinquedos nem bola nova. Quero pedir algo diferente. Quero que todas as pessoas que sofreram com o terremoto possam ter um lar novamente. Quero que todas as crianças como eu tenham um lugar seguro para viver com as suas famílias e que possamos voltar à escola e brincar felizes. Gostaria também que houvesse mais paz no mundo, que não houvesse mais terremotos ou guerras que nos fazem sofrer”, afirma Ahmed.
Alarmes e bombas ainda são uma realidade na Ucrânia. O fim da guerra não parece estar próximo e, em relação ao início do ano, três milhões de pessoas a mais precisam de ajuda humanitária. No total, são 17,6 milhões de pessoas nesta situação. Quase seis milhões de pessoas vivem como refugiados em outros países. Os salesianos seguem atuando na educação de centenas de crianças e a prestando ajuda humanitária na Ucrânia.
“Só peço que acabe a guerra na Ucrânia”
Nicolai escreve estas frases do abrigo da sua escola: “moro na Ucrânia e muitas coisas aconteceram desde o início da guerra. Eu morava com minha família perto do Dnipro. Hoje não tenho casa e não sei se ela ainda existe. Graças aos Salesianos, moro com minha mãe e meus irmãos em Mariápolis. Meu pai está lutando na guerra, este será o segundo Natal que passaremos em guerra e estou me acostumando com o som dos alarmes. Este ano também não quero brinquedos. O meu pedido é muito mais importante... Só peço que acabe a guerra na Ucrânia. Eu quero paz. Se a guerra acabar, poderemos voltar para casa e ficar com meu pai. Os alarmes vão parar de tocar e as pessoas poderão viver uma vida como a que tínhamos antes”.
Mais de 100 milhões de pessoas deslocadas ou refugiadas
Milhões de pessoas, portanto, sofrem com guerras e violência na Ucrânia, Palestina, Sudão, República Democrática do Congo, Síria, Níger, Colômbia... Mais de 100 milhões de pessoas estão deslocadas ou refugiadas noutros países. Mais de 250 milhões de crianças não têm acesso à educação e outros milhões não podem receber cuidados de saúde. Estes números precisam nos fazer refletir todos os dias, mas principalmente no Natal.
“Devemos nos sentir mais próximos do que nunca de todos aqueles que sofrem e viver em espírito de encontro e reconciliação. O sofrimento de apenas uma pessoa seria suficiente para nos dar o espírito de Natal, mas há milhões de pessoas em todo o mundo que precisam da nossa generosidade para ter esperança e poder alcançar a tão necessária paz”, diz as Missões Salesianas.