Escolas, obras sociais, paróquias, missões: em todo o Brasil, as entidades ligadas à Igreja Católica mobilizam seus participantes para a Campanha da Fraternidade 2015. Este ano, a CF traz como tema: “Fraternidade: Igreja e Sociedade” e, como lema: “Eu vim para servir” (cf. Mc 10,45). Trata, assim, de uma questão fundamental para a Igreja na atualidade: qual é o seu papel na sociedade de hoje?
Conhecer para prosseguir
A CF 2015 coloca como seu objetivo central “aprofundar, à luz do Evangelho, o diálogo e a colaboração entre a Igreja e a sociedade, propostos pelo Concílio Ecumênico Vaticano II, como serviço ao povo brasileiro, para a edificação do Reino de Deus”. Realizado entre outubro de 1962 e dezembro de 1965, o Concílio Vaticano II foi um dos grandes acontecimentos da história da Igreja Católica no século XX. Ele fez com que a Igreja retomasse seus fundamentos evangélicos e, ao mesmo tempo, com que se abrisse para o mundo, para as necessidades e aspirações do povo de Deus.
A Constituição Pastoral Gaudium et Spes (Alegria e Esperança), um dos documentos do Concílio, expressa a relação que existe entre a missão da Igreja e a responsabilidade que ela tem de colaborar com a sociedade. “De acordo com a Doutrina Social da Igreja, que encontrou na Gaudium et Spes um de seus pontos altos, a dignidade da pessoa humana, o bem comum e a justiça social são os critérios a partir dos quais a Igreja discerne a oportunidade e o estilo de seu diálogo e de sua colaboração com a sociedade”, ressalta o Texto-base.
No Brasil, os resultados do Concílio Vaticano II tiveram reflexos muito acentuados na relação entre Igreja e sociedade. O primeiro capítulo do Texto-base da CF 2015, dedicado ao “Ver” (análise do tema), mostra a importância da atuação da Igreja na defesa dos direitos humanos, dos direitos sociais e da dignidade da pessoa durante a ditadura militar, quando esses princípios foram ameaçados. “A Igreja, nesse período, respondeu com as primeiras experiências de Pastorais Sociais, como a Comissão Pastoral da Terra (CPT), a Comissão Brasileira Justiça e Paz (CBJP), o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e com as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), entre outros”.
A história da própria Campanha da Fraternidade demonstra esse maior posicionamento da Igreja diante das questões sociais (veja box). Já na década de 1980, a Igreja participou ativamente da redemocratização do país e dos processos da Anistia, das Diretas Já e da Constituinte. E, mais recentemente, teve importância decisiva no movimento pelo Projeto de Participação Popular que resultou na instituição da Lei da “Ficha Limpa” (Lei 135/2010).
Uma Igreja a serviço
A história mostra como a Igreja soube se posicionar diante de questões sociais e políticas importantes, mas a proposta da CF 2015 também está em sintonia com o apelo feito na atualidade pelo papa Francisco: ser uma Igreja em missão, que vá até as periferias e se coloque a serviço dos mais pobres e excluídos. “Como eu gostaria de uma Igreja pobre para os pobres”, afirmou o papa Francisco.
A Campanha retoma a exortação apostólica Evangelii Gaudium (Alegria do Evangelho), na qual Francisco dedica um amplo espaço à inclusão social. No texto, o papa afirma que “hoje e sempre, os pobres são os destinatários privilegiados do Evangelho, e a evangelização dirigida gratuitamente a eles é sinal do Reino que Jesus veio trazer”. Nesse sentido, o tema e o lema da CF 2015 colocam-se claramente no seguimento do que pede o sumo pontífice: que a Igreja assuma seu papel na sociedade como defensora dos que mais precisam. Essa atuação pode ser feita em diversas esferas.
Gestos concretos
A CF 2015 aponta várias formas de concretizar uma presença mais atuante na sociedade. Uma, como já destacamos, é ser uma “Igreja em saída”, missionária, que não se feche em suas próprias paredes, e sim tenha a coragem de ir aonde é necessário. Outro ponto importante destacado no Texto-base é o “discernimento evangélico”, ou seja: “discernir o que pode ser fruto do Reino e o que atenta contra o projeto de Deus para a vida pessoal, comunitária e social”.
A CNBB chama ainda a participação nos Conselhos Paritários e no movimento pela reforma política. Ela esclarece que não se trata de entrar na política partidária, e sim de garantir à população o direito de participação justa e democrática na definição dos rumos políticos do país.
A Campanha da Fraternidade pede que os católicos conheçam e se engajem mais na ação das pastorais sociais. Que, como pede o papa Francisco, se coloquem a serviço daqueles que são descartados pela sociedade. O diálogo com pessoas de outras denominações religiosas e a partilha de experiências e propostas com elas, bem como a superação da violência e a ação conjunta para a construção de uma cultura de paz, também são gestos concretos em favor de uma sociedade mais justa e solidária.
O que é a Campanha da Fraternidade
A Campanha da Fraternidade foi criada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em 1963 e é realizada em âmbito nacional, sempre no período da Quaresma, desde 1964. Seu o objetivo é levar os católicos, a cada ano, a refletirem sobre um tema social diferente e a realizarem ações concretas para resolver ou ao menos minimizar os problemas detectados. A CF já tratou de assuntos como: desemprego, terras indígenas, ecologia, saúde, educação, pessoas com deficiência, economia solidária, paz, preservação da vida e juventude, entre outros. Atualmente, ela é considerada a maior campanha social e de evangelização da América Latina.
A Páscoa do Senhor
A Quaresma, período em que se realiza a Campanha da Fraternidade, é a preparação para a principal festa dos cristãos: a Páscoa. A palavra Páscoa vem do termo hebraico “pessach”, que significa “passagem”. Para os judeus, a Pessach é a festa que celebra o fim da escravidão no Egito e a “passagem”, conduzida por Moisés, para a liberdade.
Os cristãos retomam essa tradição e oferecem a ela um novo significado: a Páscoa cristã celebra a ressurreição de Cristo. Como explica o padre Osmar Bezutte: “Para nós que aceitamos o Jesus histórico de Nazaré, que se tornou o Cristo Senhor por sua ressurreição, a vida não termina na morte. Ele ‘passou’ da morte para a vida, pra nunca mais morrer! Do tronco de sua vida ‘ferida’, nasceu a flor da ressurreição, vencendo a ‘dor’ da morte, nos ensinando também a vencer com Ele tudo o que nos faz ‘morrer’ a cada dia”. Assim, cada um de nós, cristãos, é chamado na Páscoa a vencer a dor e a morte, fazendo florescer em nossos atos a vida que Jesus nos convoca a viver.
Clique aqui e veja o artigo A Páscoa em Minha Vida na íntegra