Educação e redes sociais

Quarta, 02 Novembro 2022 12:51 Escrito por  Ir. Márcia Koffermann, FMA
Educação e redes sociais iStock.com
Do encantamento do mundo digital para a realidade do mundo mediada pelos algoritmos.    

As duas primeiras décadas do século XXI são marcadas pela revolução digital, pelos novos pátios criados a partir das redes sociais que se tornam grandes praças, onde a maioria dos jovens passa a habitar. A ideia de liberdade de expressão e a possibilidade de compartilhar a própria visão de mundo e de tornar-se visível através da imagem e do vídeo para uma multidão de pessoas, para além das barreiras do tempo e do espaço, são elementos que transformam os hábitos das pessoas, especialmente dos jovens em processo de construção da própria identidade.

 

O grande desafio dos educadores em geral era como inserir-se nesses espaços midiáticos, utilizando a linguagem ideal para dialogar e ser presença com as crianças, os adolescentes e os jovens. Passados alguns anos e depois da longa pandemia sanitária, que reforçou o isolamento e o uso dos meios digitais, inclusive na educação, fazem-se necessários novos olhares e novas compreensões sobre a realidade do mundo digital.

 

A novidade do mundo digital trouxe para todos, num primeiro momento, um certo encantamento para as tecnologias. Era, e talvez ainda seja, um continente a ser descoberto, um universo que promete a cada pessoa ser o centro de uma infinidade de conexões, onde com a mesma rapidez com que se criam novas amizades, ou seguidores, pode-se também cancelar, se não estiverem de acordo com a sua visão de mundo. O mundo das selfies, dos likes e emotions reforça a autoimagem, dando a sensação de sucesso, poder, influência e importância diante de uma realidade em que, de outra maneira, se passaria de forma invisível.

 

Bolhas digitais

Passado este primeiro momento de encantamento, deparamo-nos hoje com a formação de bolhas digitais, onde as pessoas, sem perceber, acabaram se fechando entre os seus iguais e afastando-se daqueles que pensam e agem de forma diversa. Nesse contexto, explode o problema da polarização, do fundamentalismo, da violência digital, que muitas vezes também acaba em violência física. O diálogo vem se tornando cada vez mais difícil e distante do nosso cotidiano.

 

Os ambientes digitais, ao contrário do espaço livre e democrático que se imaginava inicialmente, são cada vez mais definidos pela ação dos algoritmos, que passam pelo cidadão comum de forma velada. Ou seja, através das informações que buscamos ou que compartilhamos nas redes, os sistemas computacionais vão organizando e selecionando aquilo que deve ou não ser visto por cada um de nós.

 

As redes sociais funcionam como se fossem uma câmara de ressonância, na qual acabamos ouvindo apenas o eco daquilo que falamos. Nesse ambiente fechado entre iguais prevalece o viés da confirmação, de modo que aquilo que dizemos ou acreditamos acaba sendo confirmado por pessoas que, mesmo distantes – ou mesmo que num número reduzido -, também compartilham da mesma forma de pensar.

 

O educador salesiano

É diante desse espaço complexo que o educador de hoje se encontra mergulhado. Talvez o grande desafio da educação atual seja: como furar essas bolhas fechadas em si mesmas para tecer redes de solidariedade e de diálogo?

 

Se o ideal da educação salesiana é oferecer uma educação integral, então é necessário pensar na construção da identidade dos jovens e, ao mesmo tempo, dos próprios educadores, que mesmo sem perceber são condicionados e movidos por esses processos midiáticos pensados através da inteligência artificial e dos algoritmos. A novidade desse contexto não permite respostas prontas, mas indica a necessidade de um aprofundamento dessa realidade.

 

Na educação salesiana, a palavra PRESENÇA é um conceito-chave que serve como caminho a ser seguido. É muito importante reforçar a presença física, valorizar a experiência de grupo, a experiência de contato com a realidade, a experiência de ouvir, ver e sentir o mundo através de outros vieses, que não sejam os individuais. A presença do educador como mediador de experiências concretas, críticas e capazes de transformar os próprios paradigmas por meio do diálogo e da escuta tem um valor imensurável.  

 

Para ser essa presença significativa, o educador salesiano precisa conhecer a realidade, aprofundar os seus conhecimentos em relação ao mundo digital a partir de um pensamento crítico em confronto com as grandes problemáticas locais e mundiais. Esse discernimento e essa compreensão da realidade são fundamentais para uma prática verdadeiramente evangélica, encarnada no tempo e no espaço, mas com o olhar fixo em Jesus e em seu projeto de mundo e de sociedade.  

 

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Educação e redes sociais

Quarta, 02 Novembro 2022 12:51 Escrito por  Ir. Márcia Koffermann, FMA
Educação e redes sociais iStock.com
Do encantamento do mundo digital para a realidade do mundo mediada pelos algoritmos.    

As duas primeiras décadas do século XXI são marcadas pela revolução digital, pelos novos pátios criados a partir das redes sociais que se tornam grandes praças, onde a maioria dos jovens passa a habitar. A ideia de liberdade de expressão e a possibilidade de compartilhar a própria visão de mundo e de tornar-se visível através da imagem e do vídeo para uma multidão de pessoas, para além das barreiras do tempo e do espaço, são elementos que transformam os hábitos das pessoas, especialmente dos jovens em processo de construção da própria identidade.

 

O grande desafio dos educadores em geral era como inserir-se nesses espaços midiáticos, utilizando a linguagem ideal para dialogar e ser presença com as crianças, os adolescentes e os jovens. Passados alguns anos e depois da longa pandemia sanitária, que reforçou o isolamento e o uso dos meios digitais, inclusive na educação, fazem-se necessários novos olhares e novas compreensões sobre a realidade do mundo digital.

 

A novidade do mundo digital trouxe para todos, num primeiro momento, um certo encantamento para as tecnologias. Era, e talvez ainda seja, um continente a ser descoberto, um universo que promete a cada pessoa ser o centro de uma infinidade de conexões, onde com a mesma rapidez com que se criam novas amizades, ou seguidores, pode-se também cancelar, se não estiverem de acordo com a sua visão de mundo. O mundo das selfies, dos likes e emotions reforça a autoimagem, dando a sensação de sucesso, poder, influência e importância diante de uma realidade em que, de outra maneira, se passaria de forma invisível.

 

Bolhas digitais

Passado este primeiro momento de encantamento, deparamo-nos hoje com a formação de bolhas digitais, onde as pessoas, sem perceber, acabaram se fechando entre os seus iguais e afastando-se daqueles que pensam e agem de forma diversa. Nesse contexto, explode o problema da polarização, do fundamentalismo, da violência digital, que muitas vezes também acaba em violência física. O diálogo vem se tornando cada vez mais difícil e distante do nosso cotidiano.

 

Os ambientes digitais, ao contrário do espaço livre e democrático que se imaginava inicialmente, são cada vez mais definidos pela ação dos algoritmos, que passam pelo cidadão comum de forma velada. Ou seja, através das informações que buscamos ou que compartilhamos nas redes, os sistemas computacionais vão organizando e selecionando aquilo que deve ou não ser visto por cada um de nós.

 

As redes sociais funcionam como se fossem uma câmara de ressonância, na qual acabamos ouvindo apenas o eco daquilo que falamos. Nesse ambiente fechado entre iguais prevalece o viés da confirmação, de modo que aquilo que dizemos ou acreditamos acaba sendo confirmado por pessoas que, mesmo distantes – ou mesmo que num número reduzido -, também compartilham da mesma forma de pensar.

 

O educador salesiano

É diante desse espaço complexo que o educador de hoje se encontra mergulhado. Talvez o grande desafio da educação atual seja: como furar essas bolhas fechadas em si mesmas para tecer redes de solidariedade e de diálogo?

 

Se o ideal da educação salesiana é oferecer uma educação integral, então é necessário pensar na construção da identidade dos jovens e, ao mesmo tempo, dos próprios educadores, que mesmo sem perceber são condicionados e movidos por esses processos midiáticos pensados através da inteligência artificial e dos algoritmos. A novidade desse contexto não permite respostas prontas, mas indica a necessidade de um aprofundamento dessa realidade.

 

Na educação salesiana, a palavra PRESENÇA é um conceito-chave que serve como caminho a ser seguido. É muito importante reforçar a presença física, valorizar a experiência de grupo, a experiência de contato com a realidade, a experiência de ouvir, ver e sentir o mundo através de outros vieses, que não sejam os individuais. A presença do educador como mediador de experiências concretas, críticas e capazes de transformar os próprios paradigmas por meio do diálogo e da escuta tem um valor imensurável.  

 

Para ser essa presença significativa, o educador salesiano precisa conhecer a realidade, aprofundar os seus conhecimentos em relação ao mundo digital a partir de um pensamento crítico em confronto com as grandes problemáticas locais e mundiais. Esse discernimento e essa compreensão da realidade são fundamentais para uma prática verdadeiramente evangélica, encarnada no tempo e no espaço, mas com o olhar fixo em Jesus e em seu projeto de mundo e de sociedade.  

 

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