A preventividade na origem do projeto de Dom Bosco

Domingo, 24 Novembro 2013 22:27 Escrito por 
Para Dom Bosco, a preventividade representava uma ação pedagógico-pastoral voltada para o acompanhamento e a orientação de todos os processos que buscam o desenvolvimento integral do jovem. Analisando as fontes inspiradoras do Projeto Educativo de Dom Bosco, aquelas dos séculos XVIII e XIX, encontramos indicações precisas sobre a importância de uma Pedagogia Preventiva. Dentre tantos nomes, fundamentais na origem da obra de Dom Bosco, podemos citar Ludovico Padoni (1784-1849), Marcelino Champagnat (1789-1840), Ferrante Aporti (1791-1858), Leonardo Murialdo (1828-1900) etc., que defendiam a preventividade enquanto ação eficaz para a consolidação de jovens protagonistas, donos de suas histórias,  capazes de colocarem a religião, a razão, o amor, a doçura, o respeito e a familiaridade como fundamentos de seus projetos de vida.  

Para Dom Bosco, a preventividade representava uma ação pedagógico-pastoral voltada para o acompanhamento e a orientação de todos os processos que buscam o desenvolvimento integral do jovem.

Ela era um modo especial de comunicar os valores e as convicções que caracterizavam o estilo da obra salesiana. Representava também, uma ação pedagógica que possuía intencionalidades bem definidas em relação à juventude e uma ação pastoral sustentada na figura de Jesus Cristo Bom Pastor e no anúncio dos valores evangélicos.

A preventividade consistia na presença do educador enquanto proteção e promoção. Uma presença de inclusão daqueles que estavam em situação de risco, inserindo-os em um projeto voltado para a cidadania, comprometido com o fim da exclusão social, da desigualdade e da pobreza.

Ela era também uma experiência da caridade pastoral, do coração oratoriano, da paixão apostólica pela juventude. Uma experiência que traduzia verdadeiramente o amor de Jesus Cristo encarnado, prolongado e atualizado no amor concreto dos salesianos em relação aos jovens.

 

Experiência do amor pedagógico

No projeto original, a preventividade era vivida como uma experiência da amabilidade, do amor pedagógico fundado no bem e na liberdade do jovem. Esta promovia relações educativas de assistência-presença, onde os salesianos sentiam prazer de estar com os jovens e de compartilhar suas vidas, tendo em vista a criação “de encontros” capazes de promover e animar a construção dos projetos de vida dos meninos do oratório. O salesiano passava a fazer parte da vida do menino e vice-versa, desenvolvendo sensibilidades para a percepção de todos os anseios e necessidades daqueles que representavam os destinatários do projeto de Dom Bosco.

Em Dom Bosco e nos primeiros salesianos, a preventividade possuía uma grande preocupação com a integração entre o desenvolvimento pessoal e comunitário do jovem e o anúncio evangélico. Sendo assim, no oratório havia uma grande preocupação com a capacitação teórica e prática, por meio de diferentes atividades, que promoviam o crescimento cognitivo, emocional e pessoal dos jovens. Tal promoção consistia, em última instância, em favorecer os jovens para que pudessem mobilizar recursos (conhecimentos e técnicas) promotores do desenvolvimento do potencial humano. Por outro lado, havia também a preocupação com o anúncio evangélico. No Evangelho era possível, sem grandes esforços, desvelar os valores imprescindíveis para a consolidação de uma sociedade mais justa, fraterna e acolhedora das diferenças entre os homens.

 

Projeto formativo

A preventividade consistia também na definição de um projeto formativo centrado no ambiente humano, com viés pedagógico, e oportunizador de condições favoráveis para a inserção do jovem na sociedade. Nesta perspectiva Dom Bosco propõe um projeto formativo de qualidade, baseado em uma opção filosófica e cristã, que contribuía decididamente para o processo identitário dos meninos do oratório. Dom Bosco acreditava que os jovens são possuidores de uma força vital capaz de levá-los ao autocrescimento, ao desenvolvimento de personalidades impregnadas de protagonismo e de responsabilidade histórica.

Esta era a materialidade de um conjunto de atividades educativas, lúdicas, culturais, esportivas, recreativas e religiosas que facilitavam a aquisição de habilidades para a vida em sintonia com os valores temporais e evangélicos. Tais valores constituíam para Dom Bosco a “chave mágica” para que as portas da realização pessoal e comunitária estivessem sempre abertas para os jovens. Feita a opção fundamental pelos valores que dignificam o ser humano em seu plano terrestre e pelos valores que alimentam as relações humanas com sentimentos de acolhida, respeito, solidariedade etc., os meninos do oratório caminhavam com a certeza de uma chegada que coroaria de êxito seus projetos de vida.

Apresentados alguns elementos que oferecem uma compreensão plural sobre a preventividade na origem do projeto de Dom Bosco, gostaria de concluir minha reflexão com um questionamento provocador, assim espero, de novos estudos e novas reflexões sobre o tema: após a leitura do artigo é possível uma afirmação que defenda a preventividade dos anos 1.800, do início da ação oratoriana, como algo profundamente contemporâneo?

           

José Augusto Abreu Aguiar é professor da Rede Salesiana de Escolas, no Instituto Nossa Senhora da Glória, em Macaé, RJ

Avalie este item
(0 votos)
Última modificação em Quarta, 02 Abril 2014 15:58

Deixe um comentário

Certifique-se de preencher os campos indicados com (*). Não é permitido código HTML.


A preventividade na origem do projeto de Dom Bosco

Domingo, 24 Novembro 2013 22:27 Escrito por 
Para Dom Bosco, a preventividade representava uma ação pedagógico-pastoral voltada para o acompanhamento e a orientação de todos os processos que buscam o desenvolvimento integral do jovem. Analisando as fontes inspiradoras do Projeto Educativo de Dom Bosco, aquelas dos séculos XVIII e XIX, encontramos indicações precisas sobre a importância de uma Pedagogia Preventiva. Dentre tantos nomes, fundamentais na origem da obra de Dom Bosco, podemos citar Ludovico Padoni (1784-1849), Marcelino Champagnat (1789-1840), Ferrante Aporti (1791-1858), Leonardo Murialdo (1828-1900) etc., que defendiam a preventividade enquanto ação eficaz para a consolidação de jovens protagonistas, donos de suas histórias,  capazes de colocarem a religião, a razão, o amor, a doçura, o respeito e a familiaridade como fundamentos de seus projetos de vida.  

Para Dom Bosco, a preventividade representava uma ação pedagógico-pastoral voltada para o acompanhamento e a orientação de todos os processos que buscam o desenvolvimento integral do jovem.

Ela era um modo especial de comunicar os valores e as convicções que caracterizavam o estilo da obra salesiana. Representava também, uma ação pedagógica que possuía intencionalidades bem definidas em relação à juventude e uma ação pastoral sustentada na figura de Jesus Cristo Bom Pastor e no anúncio dos valores evangélicos.

A preventividade consistia na presença do educador enquanto proteção e promoção. Uma presença de inclusão daqueles que estavam em situação de risco, inserindo-os em um projeto voltado para a cidadania, comprometido com o fim da exclusão social, da desigualdade e da pobreza.

Ela era também uma experiência da caridade pastoral, do coração oratoriano, da paixão apostólica pela juventude. Uma experiência que traduzia verdadeiramente o amor de Jesus Cristo encarnado, prolongado e atualizado no amor concreto dos salesianos em relação aos jovens.

 

Experiência do amor pedagógico

No projeto original, a preventividade era vivida como uma experiência da amabilidade, do amor pedagógico fundado no bem e na liberdade do jovem. Esta promovia relações educativas de assistência-presença, onde os salesianos sentiam prazer de estar com os jovens e de compartilhar suas vidas, tendo em vista a criação “de encontros” capazes de promover e animar a construção dos projetos de vida dos meninos do oratório. O salesiano passava a fazer parte da vida do menino e vice-versa, desenvolvendo sensibilidades para a percepção de todos os anseios e necessidades daqueles que representavam os destinatários do projeto de Dom Bosco.

Em Dom Bosco e nos primeiros salesianos, a preventividade possuía uma grande preocupação com a integração entre o desenvolvimento pessoal e comunitário do jovem e o anúncio evangélico. Sendo assim, no oratório havia uma grande preocupação com a capacitação teórica e prática, por meio de diferentes atividades, que promoviam o crescimento cognitivo, emocional e pessoal dos jovens. Tal promoção consistia, em última instância, em favorecer os jovens para que pudessem mobilizar recursos (conhecimentos e técnicas) promotores do desenvolvimento do potencial humano. Por outro lado, havia também a preocupação com o anúncio evangélico. No Evangelho era possível, sem grandes esforços, desvelar os valores imprescindíveis para a consolidação de uma sociedade mais justa, fraterna e acolhedora das diferenças entre os homens.

 

Projeto formativo

A preventividade consistia também na definição de um projeto formativo centrado no ambiente humano, com viés pedagógico, e oportunizador de condições favoráveis para a inserção do jovem na sociedade. Nesta perspectiva Dom Bosco propõe um projeto formativo de qualidade, baseado em uma opção filosófica e cristã, que contribuía decididamente para o processo identitário dos meninos do oratório. Dom Bosco acreditava que os jovens são possuidores de uma força vital capaz de levá-los ao autocrescimento, ao desenvolvimento de personalidades impregnadas de protagonismo e de responsabilidade histórica.

Esta era a materialidade de um conjunto de atividades educativas, lúdicas, culturais, esportivas, recreativas e religiosas que facilitavam a aquisição de habilidades para a vida em sintonia com os valores temporais e evangélicos. Tais valores constituíam para Dom Bosco a “chave mágica” para que as portas da realização pessoal e comunitária estivessem sempre abertas para os jovens. Feita a opção fundamental pelos valores que dignificam o ser humano em seu plano terrestre e pelos valores que alimentam as relações humanas com sentimentos de acolhida, respeito, solidariedade etc., os meninos do oratório caminhavam com a certeza de uma chegada que coroaria de êxito seus projetos de vida.

Apresentados alguns elementos que oferecem uma compreensão plural sobre a preventividade na origem do projeto de Dom Bosco, gostaria de concluir minha reflexão com um questionamento provocador, assim espero, de novos estudos e novas reflexões sobre o tema: após a leitura do artigo é possível uma afirmação que defenda a preventividade dos anos 1.800, do início da ação oratoriana, como algo profundamente contemporâneo?

           

José Augusto Abreu Aguiar é professor da Rede Salesiana de Escolas, no Instituto Nossa Senhora da Glória, em Macaé, RJ

Avalie este item
(0 votos)
Última modificação em Quarta, 02 Abril 2014 15:58

Deixe um comentário

Certifique-se de preencher os campos indicados com (*). Não é permitido código HTML.