Em 1877, começa a história missionária das Filhas de Maria Auxiliadora como narra a Cronistória: “No dia 08 de setembro –festa de Maria Santíssima e primeiro sábado – é comunicada à comunidade a decisão de Dom Bosco para uma primeira partida das FMA para a América: sua meta será o Uruguai. Ao ouvir tão bela notícia, um hino de alegria se eleva de cada coração: todas são gratas a Nossa Senhora pela escolha que quis fazer de tão pobres filhas para enviá-las além-mar pela redenção de tantas almas sedentas de luz, de vida eterna” (I volume da Cronistória das FMA, p. 220.).
Entre as muitas que se ofereceram, foram escolhidas seis, todas muito jovens e irmã Angela Valllese eleita como superiora. Antes da grande viagem são recebidas pelo Papa Pio IX, que com grande ternura, dirige-lhes as palavras: “sede como conchas das fontes que recebem a água e a derramam para utilidade de todos: conchas de virtude e de ciência…Como verdadeiras mães, solícitas e amorosas, fareis muito bem” (Cf. Cronistória, volume I p. 227).
No dia 14 de novembro, as Filhas de Maria Auxiliadora, juntamente com a terceira expedição missionária dos Salesianos, partem para o Uruguai, e na solene despedida, Dom Bosco explica-lhes: “Não sereis logo missionárias entre os selvagens, mas começareis a consolidar o Reino de Deus no meio dos fiéis que o abandonaram: depois, haveis de propagá-lo entre os que não o conhecem”. Realmente, começaram a trabalhar em Villa Colón, numa casa muito pobre e três anos depois iniciam, com os Salesianos, o tão desejado trabalho com os indígenas na distante Patagônia.
Chegada ao Brasil
Desde 1878, Dom Bosco e sua obra tornaram-se admirados no Brasil graças à imprensa que se referia com grandes elogios ao trabalho educativo que os salesianos vinham fazendo em favor dos meninos pobres de Turim. Alguns anos depois, da mesma forma, as Filhas de Maria Auxiliadora se tornaram conhecidas e desejadas, tanto pelas autoridades eclesiásticas como pelas civis que reconheciam a urgência da educação das meninas brasileiras de todas as classes sociais.
O grande intermediador da vinda das Salesianas para o Brasil foi monsenhor João Filippo, nascido em 1845, em São Vicenzo de Cosenza, Itália, que após a sua ordenação sacerdotal escolheu o Brasil, mais precisamente, a cidade de Guaratinguetá, no Estado de São Paulo, como seu campo de missão e apostolado sacerdotal.
Silva descreve Monsenhor Filippo como benfeitor da cidade e alguém com autoridade junto à população pobre e à camada dos aristocratas, os proprietários rurais, donos de fazenda de café. Para melhor atendimento da população, patrocinou reformas de igrejas, ampliação e melhoramentos no prédio da Santa Casa de Misericórdia, fundação do Asilo de Santa Isabel. Preocupado com a educação fundou um colégio para meninos e construiu o Colégio do Carmo para as meninas com a intenção de entregá-lo às Filhas de Maria Auxiliadora.
Monsenhor Filippo, durante a construção do colégio, manteve-se em contato com dom Lasagna, inspetor geral das Missões na América, encarregado da expansão da obra salesiana nos países da América do Sul, por intermédio dos Salesianos estabelecidos no Rio de Janeiro, e solicitou-lhe a presença das Filhas de Maria Auxiliadora no Brasil, mais precisamente, em Guaratinguetá, oferecendo o colégio para acolher as tão esperadas educadoras segundo o espírito de Dom Bosco, assim descrito no primeiro livro de Crônicas do Colégio Nossa Senhora do Carmo:
“(…) O Collegio de Nossa Senhora do Carmo, cuja construção fora iniciada em 1887 e terminada em 1891, ergue-se sobre trezentos palmos de comprimento e cento e quarenta e cinco de largura. [...] O Collegio é um sobrado que tem acomodações para mais de 400 meninas, com vastíssimos salões perfeitamente arejados reunindo todos os requisitos das mais escrupulosa hygiene, servido por uma canalisação de água potável de primeira qualidade e abundante, exclusivamente do Collegio. No centro há uma área espaçosa no meio da qual levanta-se uma colunna que serve de chafariz. A Capella é de optimo gosto, elegante, avarantada podendo as alunnas ouvir missa e assistir aos demais officios do culto, do pavimento superior. (…)”
Dom Lasagna apresentou a Dom Rua, então Superior da Congregação, que aceitou a solicitação e a generosa oferta de Monsenhor João Filippo. E no ano de 1892, começa a história das Filhas de Maria Auxiliadora no Brasil, confundindo a história da Inspetoria Santa Catarina de Sena com a história da primeira casa, Colégio Nossa Senhora do Carmo de Guaratinguetá:
Missão educativa
Assim vinham do Uruguai e não diretamente da Itália, as primeiras Irmãs de Maria Auxiliadora ao Brasil. Eram missionárias italianas, uruguaias e o que há de mais interessante, uma delas, irmã Anna Couto, era brasileira – havia entrado na Congregação no Uruguai e, por motivo de saúde, fora enviada ao Brasil, para ver se os “ares nativos” poderiam curá-la.
As Irmãs chegaram ao Rio de Janeiro pelo navio Sud América, no dia 10 de março de 1892 e se hospedaram no Asylo Sancta Leopoldina das Irmãs de São Vicente de Paulo. Às quatro horas da tarde do dia 13 de março chegaram a Lorena; no dia 15, receberam a visita do padre João Filippo. Somente no dia 16 chegaram a Guaratinguetá, São Paulo, acolhidas pelo grande benfeitor, autoridades, povo, como escreveu a superiora madre Teresa Rinaldi ao superior geral, dom Miguel Rua:
“Faz um mês que nos encontramos nesta República: creio que o Senhor terá sabido por outros a recepção que tivemos. Em todo caso lhe direi que parecem coisas do outro mundo, e que ficamos muito confusas ao ver-nos assim acolhidas. Atribuímos tudo à maior glória de Deus, e da cara congregação salesiana, à qual estamos felizes de ser agregadas. Nas três paradas que fizemos, nos veio receber um mundo de gente com música e procissão, e com todas as autoridades eclesiásticas e civis. Oh! Como amam Dom Bosco nestas regiões!”
Educação das meninas
O Vale do Paraíba é o berço da Obra das FMA no Brasil. As cidades situadas na região apresentavam aspecto tipicamente interiorano. A Igreja era símbolo da religião católica, elemento integrante da formação social luso-brasileiro. Os proprietários de terras e de escravos controlavam a vida pública.
Os moradores tinham, em geral, horizontes culturais bastante restritos. Era pequena a área de influência dessas cidades, pois, os habitantes preocupavam-se quase que apenas com os seus assuntos locais devido à distância dos centros mais importantes: São Paulo e Rio de Janeiro.
É dentro dessas perspectivas limitadas que as Irmãs passam a realizar a sua atividade educacional e assistencial. Em consequência da cultura, sobretudo, cafeeira as diversas localidades do Vale ofereciam instrução elementar para as crianças, mas, em razão da situação de dependência da mulher, dava-se mais importância à escolarização dos meninos. Portanto, na região do Vale do Paraíba, a presença das FMA foi fundamental de para educação feminina.
Em fins do século XIX, multiplicaram-se no País os internatos para meninas e jovens; também as FMA consideraram este regime como ideal para a educação da juventude, procurando valorizar o mais possível o internato para preparar a jovem adequadamente para a futura vida familiar, ao mesmo tempo, que a defendia dos eventuais perigos decorrentes da vida social. A formação cristã das meninas era, sem dúvida, a razão principal da atividade educativa das Irmãs. Além da educação da fé, havia outros objetivos principais: a formação moral, a preparação para a vida do lar e a preocupação com a orientação para possível vida consagrada.
Oratórios
As Irmãs abriram também externatos e Oratórios Festivos onde primava a Associação das Filhas de Maria. A presença dos imigrantes italianos na Capital de São Paulo e no Oeste Paulista foi um estímulo para procurar implantar nessa região a Obra de Dom Bosco, estimulando também a presença das Irmãs, principalmente, com as fundações de: Araras, Batatais e Ribeirão Preto.
A primeira fundação de Colégio na capital paulista – 1894 – não teve resultados esperados e a obra acabou absorvida pelo Asilo do Ipiranga. A fundação do Colégio de Santa Inês, em 1907, no bairro operário Bom Retiro, significou ainda o direcionamento das Irmãs para o atendimento privilegiado das filhas de italianos e seus descendentes, conforme as orientações do próprio Dom Bosco, fiel às diretrizes pontifícias. Com o passar do tempo, a imigração estrangeira expandiu-se no bairro com a chegada de judeus, gregos, armênios, peruanos… (e mais recentemente sul-coreanos e bolivianos), provocando transformações culturais e sociais com aquilo que cada etnia trazia como herança cultural de seus locais de origem. As FMA têm acompanhado grande parte das transformações culturais e sociais assumindo a educação de descendentes de todas essas variadas etnias.
Toque aqui para ler o artigo completo na revista Em Família, da Inspetoria Santa Catarina de Sena – Filhas de Maria Auxiliadora (FMA) em São Paulo.