Compreende-se que a assinatura da Lei Áurea não trouxe a verdadeira libertação. Apesar da legalidade da alforria viu-se a construção de outras formas de opressão e negação do direito à cidadania aos negros. Os mecanismos de exclusão continuaram assumindo facetas diferenciadas. Não foi permitido o acesso dos negros à educação, emprego renumerado, moradia digna e outras formas de beneficio, que para a população em geral já existiam no século XIX.
Então a memória da “Abolição da Escravatura” passou a ser cultivada como algo promissor muito mais pelo Estado do que pela população negra. A insistência em celebrar a memória de Zumbi dos Palmares no dia 20 de Novembro foi a resposta dada pelos negros organizados na perspectiva de lembrar que a abolição foi um processo inconcluso e que só seria plenamente completa pela pressão do movimento negro. Então a luta de Zumbi foi tomada com sinal de resistência e que deveria permear as ações do movimento negro em suas diferentes esferas de organização.
A conclusão da obra abolicionista passa pela inclusão plena da população afro-brasileira em todos os espaços de cidadania da nação brasileira. Isto ainda não acontece na sua totalidade graças à discriminação e ao preconceito racial, pecado das pessoas e das instituições cuja face mais perniciosa está refletida na realidade de pobreza e exclusão de boa parte dos afro-brasileiros.
As diversas iniciativas pastorais dos negros católicos somam-se a este grande movimento propositivo do movimento negro. A experiência de fé faz compreender que o dia 20 de novembro é um dia de celebração da história e da cultura dos negros, compreendida como fator de enriquecimento para a Igreja (Cf. Dap 56). Leva a reafirmar o compromisso de continuar o engajamento para que todas as formas de preconceito, discriminação e exclusão sejam superadas, pois a construção do Reino de Deus passa pela concretude da luta por uma vida digna para todos.