A homenagem foi concedida no dia 12 de agosto pelo presidente da Missão Salesiana de Mato Grosso (MSMT), padre Gildásio Mendes, e pelo reitor da UCDB, padre José Marinoni.
A UCDB agraciou ainda os professores, doutor Antonio Brand e doutora Mariluce Bittar, ambos in memoriam, em reconhecimento à atuação junto aos cursos de graduação e pós-graduação e pela contribuição na construção de conhecimentos capazes de promover uma sociedade mais justa. Os professores foram representados por seus filhos Luciana Brand e André Bittar. “Concedemos o título a cinco pessoas que se destacaram na defesa dos Direitos Humanos: salesianos missionários que desenvolvem importante trabalho com indígenas e professores que nos deixaram, mas que continuam presentes na memória dos colegas docentes e seus acadêmicos”, enfatizou o padre Marinoni.
“Dentro dos cenários sociopolítico e cultural que estamos vivendo no Brasil e no mundo, eles nos ensinam que, por meio do estudo, é possível compreender melhor as sociedades, valorizar suas culturas, dialogar com as diversidades culturais, colocar o conhecimento a serviço da vida, de políticas públicas, promovendo a cidadania, a ética, a espiritualidade e a cultura dos povos”, complementou o presidente da MSMT.
Missão Salesiana de Mato Grosso: 121 anos de presença missionária
A Missão Salesiana é uma Inspetoria missionária desde as suas origens, o trabalho missionário marcou seu início e continua sendo a sua identidade. Em visita recente à Inspetoria, o conselheiro geral para as Missões Salesianas, padre Guilhermo Basañes, destacou a presença missionária dos salesianos atualmente nas comunidades Bororo e Xavante, em Sangradouro, Meruri e São Marcos.
Para ele, “essa variedade de culturas é um grande instrumento de educação e de evangelização”. Bororo e Xavante encontraram nas missões salesianas a presença amiga, fortalecimento da sua cultura, segurança e infraestrutura em suas aldeias. “Dom Bosco está vivo nas comunidades indígenas. Isto, podemos ver na continuação do carisma salesiano entre indígenas”, ressalta o padre salesiano Eloir Inácio de Oliveira.
A MSMT tem uma grande história de presença constante junto aos destinatários indígenas, por isso quis expressar a sua gratidão aos missionários estrangeiros que há décadas desenvolvem diversos trabalhos e pesquisas entre as populações indígenas de Mato Grosso e colaboram para o desenvolvimento da região e preservação da cultura.
Homenageados
Mestre Adalbert Heid
Sistemático, disciplinado, organizado e com grande curiosidade científica, o irmão (ou Mestre – como os coadjutores são conhecidos no Brasil) Adalbert Heide é um alemão apaixonado pela cultura indígena. Sua atuação é tão expressiva que foi personagem de um vídeo documentário premiado no Brasil – O Mestre e o Divino, dirigido por Tiago Campos.
Mestre Adalbert nasceu em 1934, em Ratibor, cidade que pertencia à Alemanha e que, depois da guerra, passou a pertencer à Polônia. Logo após a sua profissão religiosa assumiu a sua vocação missionária no Brasil. Aos 23 anos realizou o seu sonho de entrar em uma missão indígena. Foi em Sangradouro, em meio ao povo Xavante que ele passou a fazer o que realmente sonhava.
O mestre se adaptou rápido à cultura, inclusive no domínio total do idioma xavante. Tanto é que entre as atribuições assumidas por ele estavam as de intérprete, professor da língua Xavante e de cultura religiosa, assessor de jovens índios, escritor e tradutor em Xavante da missa e de muitos textos da bíblia. Um dos trabalhos mais reconhecidos é a autoria da escrita e numeração xavante e a coautoria dos livros “Xavante povo autêntico”, “Jerônimo Xavante sonha: contos e sonhos”, publicados em 1972 e 1975.
Além dos textos, o mestre Adalbert imortalizou a cultura da região com as suas filmagens de eventos históricos das missões em São Marcos, Meruri e Sangradouro.
Padre Bartolomeo Giaccaria
Aos 82 anos o sacerdote salesiano Bartolomeo Giaccaria, natural de Chiusa Pesio (Cúneo) – Itália, continua a percorrer as missões salesianas em estradas precárias para anunciar o evangelho.
Desde 1961, ele leva o amor a Jesus Cristo e a devoção a Dom Bosco aos Bororos e Xavantes por meio da itinerância missionária. Todos os dias, dirigindo o seu carro, vai de aldeia em aldeia partilhando com crianças, jovens e adultos, dores e esperanças, desafios e conquistas nas comunidades São Marcos, Sangradouro e Nova Xavantina.
Foi por meio da itinerância missionária que o sacerdote passou a coletar elementos linguísticos e gramaticais da língua Xavante para redigir um dicionário xavante-português. A edição provisória e reduzida da obra foi publicada com mais de mil verbetes, em 1957. A partir do ano seguinte, seguiu com as publicações da cartilha bilíngue e o catecismo bilíngue (xavante – português).
Duas de suas obras literárias foram reconhecidas internacionalmente: os livros: “AuweUptabi – UominiVeri: Vita Xavante” e “Jerônimo Xavante Conta e Jerônimo Xavante Sonha” – traduzidos em espanhol e inglês – e publicados pela Universidade de Quito e da Califórnia.
Atualmente, por meio da paróquia itinerante São Domingos Sávio, padre Giaccaria passou a atender a todas as aldeias da etnia xavante.
Padre Gonçalo Ochoa
Padre Gonçalo Alberto Ochoa Camargo tem 85 anos e há 48 anos trabalha na Aldeia Meruri, da etnia bororo. É autor de vários livros, entre eles uma das partes da Enciclopédia Bororo, “A História Mítica Bororo”, “Lendas Bororo”, “Novo Testamento em Língua Bororo” e de leituras bíblicas usadas em missas e sacramentos.
A seriedade de seu trabalho em pesquisas antropológicas, a perseverança para enfrentar as dificuldades do idioma e o aprendizado da nova cultura foram transpassadas pela sua força de vontade em conquistar um sonho: de ser missionário entre os indígenas. Sua imersão na cultura e nos ritos do povo indígena teve início logo que ingressou na Inspetoria. Seus estudos em metodologia linguística e tradução semântica, entre outros cursos, ajudaram-lhe a aprimorar as suas habilidades como escritor e tradutor.
Muitas vezes durante o dia, padre Ochoa sai lentamente do seu quarto simples, com seus livros, e caminha na direção da aldeia, para visitar as famílias, rezar com elas, levar conforto e afeto de coração missionário. Os seus olhos registram com profundidade as imagens de um povo que ele ama e levará para sempre nas narrativas do seu coração de pastor, nas suas mãos que acolhem e abençoam, no suor e sangue de quem se doa sem limites, no canto que ressoa dos rituais bororo.
Padre Ochoa sempre viveu a mística do estudo e da ação, do rezar a práxis, de ser caminheiro com o povo bororo, de respeitar a cultura e compreendê-la e amá-la para então evangelizar.
Cenário das missões indígenas
A Missão Salesiana de Mato Grosso mantém quatro presenças missionárias entre as etnias Bororo e Xavante, em Mato Grosso, MT. São as comunidades salesianas Sagrado Coração de Meruri, São José de Sangradouro, São Marcos e a Casa Filipi Rinaldi, em Nova Xavantina. Atualmente 15 salesianos entre padres e irmãos (chamados carinhosamente por mestres) desenvolvem atividades de cidadania, educação, evangelização e de sustentabilidade, em sintonia com essas culturas. Muitas delas assumiram o cristianismo em suas histórias e a devoção mariana foi incorporada com muito fervor.
Fládima Christofari