Seu vírus é um dos mais agressivos e perigosos para os humanos e até agora não foi encontrada uma vacina nem um tratamento seguro e eficaz. Os casos registrados recentemente na África Ocidental somam mais de 1700, segundo os últimos dados fornecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS); e já causaram 932 vítimas. Diante dessa realidade a melhor coisa que se pode fazer nas áreas infestadas pelo vírus é prevenir a fim de evitar que novas pessoas entrem em contato com ele e adoeçam.
É exatamente o que fazem Josephat e os seus quatro amigos; diferentes no credo religioso, mas unidos pelo espírito salesiano e pelo desejo de dedicar-se pela salvação e saúde dos outros, especialmente dos mais necessitados: doentes, pobres, abandonados. “Acho que o que Dom Bosco fez em seu tempo durante a epidemia da cólera pode ser feito hoje também por nosso intermédio”, explicou Josephat, por meio do aplicativo de mensagem, whatsapp, a um salesiano na Nigéria. O primeiro problema para Josephat e seus quatro jovens voluntários foi convencer um motorista a levá-los a um vilarejo a três horas e meia da Capital, onde toda uma família de seis pessoas morrera pelo vírus. Começaram ali, pagando um preço exorbitante pelo transporte, conseguiram chegar àquela área distante.
Sua missão não é curar. É ajudar a prevenir, dando instruções básicas que o Ministério da Saúde procura divulgar, mas que não chegam às zonas do interior, onde não há eletricidade, televisão e ninguém está disposto a arriscar a própria saúde para salvar a dos outros. Junto com a campanha feita por meio de folhetos e pôsteres, distribuídos e explicados no mercado local e em visita às casas, o grupo “Domingos Sávio & Dom Bosco” distribui luvas, camisetas de mangas longas e desinfetantes à base de cloro, com o intuito de limitar as possibilidades de contato e contágio.
O problema mais urgente é exatamente evitar o contato com quem chega à fase terminal da enfermidade; e com os cadáveres, extremamente contagiosos. Mas não é fácil: há questões relacionadas às tradições, o afeto entre parentes… Além disso: quem vive nas vilas deve continuar a vida e suas atividades, que em sua maioria já é de pura subsistência, deve ir ao mercado, ao trabalho…, de outra forma, logo logo chega a fome. Para adquirir desinfetantes, luvas, camisetas, transporte e todo o necessário, Josephat e os seus rapazes fazem como Dom Bosco: batem à porta de quem tem algo de sobra; vão à Capital para achar ajuda para a periferia rural; mas também ali o medo está fechando o povo em si mesmo. Josephat tem alguns amigos na Nigéria que o estão ajudando, usando os serviços de transferência de dinheiro e, segundo quanto arrecadam, organizam suas missões de prevenção e distribuição de ajuda.
A informação, a prevenção e a abertura do coração restam os três âmbitos em que trabalhar; porque há também o risco do medo, que torna letal também quanto de outro modo não o seria: os primeiros sintomas do Ebola são quase idênticos aos da Malária, doença perene na África Subsaariana, que, se não se cura é tão mortal quanto o Ebola. Assim, ocorreu que a vizinha da casa de Josephat morreu há poucos dias de Malária, pois não conseguiu cuidados médicos ou ajuda por medo do Ebola.
Josephat recebeu também os “razoáveis” convites à prudência: a maior porcentagem das vítimas está exatamente entre os que cuidaram de doentes. Alguém até o aconselhou a voltar à Nigéria: “Parece–me um como ‘imbróglio’ para com Deus", respondeu. Também se esta fosse a única caridade a fazer em toda a minha vida, ficaria mais que feliz de levá-la a termo: afinal foi Deus quem me deu a vida e a saúde: devo usá-la para servir”. Que valem a vida e a saúde? Acaso a segurança e o isolamento (causado pelo medo) seriam ‘absolutos’ tais a que tudo se deva sacrificar?
No dia 16 de agosto de 2014 se abre o Bicentenário de Nascimento de Dom Bosco: Josephat e os seus amigos estão demonstrando quanto Ele se tornou africano.