“Ouvimos dizer que, depois da Covid-19, precisamos recomeçar. Mas estamos realmente convencidos de que devemos recomeçar fazendo exatamente o que se fazia antes? No grupo de trabalho do qual faço parte, preferimos usar o verbo 'regenerar', caminhar para uma transformação da economia, do mundo do trabalho e da sociedade, aprendendo com o que acabamos de viver. Acreditamos que este seja o verdadeiro desafio, após o trauma da pandemia que atingiu todo o planeta”. Essas são as reflexões da irmã Alessandra Smerilli, FMA, docente da Pontifícia Faculdade de Educação Auxilium e conselheira de Estado do Vaticano, sobre o desafio da economia a partir da experiência da Covid-19.
“Estamos vivendo um período delicado e decisivo, que pode representar uma oportunidade de transição positiva, mas que também exige grandes mudanças: no mundo do trabalho, na economia, em nossa própria organização social e em nosso equilíbrio com a natureza. O Papa pediu-nos a nós, economistas, propostas concretas para enfrentar estes desafios, propostas que tenham não só bases sólidas, mas também a criatividade do Evangelho”, afirma a religiosa.
A direção na qual a comissão pós-Covid-19 do Vaticano está trabalhando é a de um modelo econômico mais sustentável e ecologia integral. Por isso, a irmã Smerilli está envolvida também no ano das celebrações da «Laudato Si'», cinco anos após sua publicação. Desde de 1º de setembro, Dia do Cuidado da Criação, até maio de 2021, o programa do ano da «Laudato Si'» envolve igrejas locais, ordens religiosas, escolas e universidades, empresas e paróquias, por meio de eventos, seminários e ocasiões de debates. A arte também terá um papel importante: “O espírito da «Laudato Si'» parte de um olhar contemplativo sobre a Criação. Nesse processo, a arte é muito importante porque nos fala de gratuidade, paixão. Ela nos diz que o que nos move é a tensão na direção do belo, não apenas o fato de que 'devemos' mudar o comportamento”, diz, ainda, a irmã Smerilli.
Mulher, economista, religiosa: estes três aspectos distinguem profundamente o compromisso da irmã Smerilli. “Estou convencida de que a questão feminina represente um dos desafios cruciais de nosso tempo... Há competências que as mulheres desenvolveram mais do que os homens, por motivos inclusive culturais, e estas são particularmente adequadas para enfrentar os problemas da nossa época. Renunciar a esta contribuição seria como olhar através de um olho só: a visão da realidade apareceria deformada”.
De acordo com a irmã Smerilli, para enfrentar os desafios do futuro será essencial apostar na cooperação e não na competição: “No dia 27 de março, o Papa Francisco disse muito bem: 'Ninguém se salva sozinho'. Este vírus, uma criaturinha invisível, tornou isso evidente. É essencial entender a direção para onde se está indo para tomar medidas que gerenciem a transição. Neste sentido, o «Green New Deal», projeto europeu que prevê uma transição ecológica da União Europeia, pode representar uma oportunidade para gerar novos empregos e, ao mesmo tempo, caminhar na direção de uma economia reconciliada com o ambiente e natureza, com tempos e ritmos de trabalho humanos”.