Razão e fé: realidades complementares

Sexta, 15 Novembro 2019 19:41 Escrito por  Ir. Márcia Koffermann, FMA
Razão e fé: realidades complementares iStock.com
Muitas vezes, razão e fé são vistas como duas realidades opostas, de modo que o diálogo parece algo distante.  

Um dos pilares do Sistema Preventivo de Dom Bosco é a razão, que, ao lado da religião e da amorevolezza, forma o seu tripé fundamental. No entanto, educar para a fé numa sociedade predominantemente racionalista não é algo simples de fazer, especialmente em nossos dias. Muitas vezes, razão e fé são vistas como duas realidades opostas, de modo que o diálogo parece algo distante.

 

O rápido desenvolvimento das ciências nos últimos séculos permitiu ao homem desvendar inúmeros mistérios sobre o universo e a vida em geral, de modo que, para muitos, a fé não tem mais sentido. Esta visão de fé e ciência considera a religião como um tapa-buracos que busca explicar aquilo que o homem ainda não chegou a descobrir de outra maneira. É uma visão reduzida da fé e que não permite avançar no diálogo entre essas duas dimensões da vida humana.

 

Por outro lado, a razão é a capacidade que o ser humano tem de dar respostas para questões fundamentais do cotidiano e da própria realidade humana. Isto é uma característica maravilhosa que nos permite refletir e progredir enquanto humanidade. Quanto bem o desenvolvimento das ciências já permitiu, quantas doenças foram curadas, quantas melhorias e avanços tecnológicos foram desenvolvidos! Basta um olhar pela história da humanidade e veremos o longo e frutuoso caminho percorrido.

 

Aprofundamento e diálogo

Em um contexto de racionalidade técnica, a fé pode parecer uma instância que remete ao passado, ao contrário da razão que aponta para o futuro e para o progresso. Por vezes, esta visão de mundo associa a fé ao que há de mítico, mágico, tradicional e fantasioso, em oposição à racionalidade experimental que permite a comprovação dos dados e fatos. Assim, educar para a fé torna-se um desafio a ser enfrentado, que exige bom senso, aprofundamento e diálogo.

 

A história comprova o fato de que uma racionalidade puramente técnica não é capaz de responder sozinha às necessidades humanas. Aliás, ela pode ser extremamente desumana, se levarmos em consideração que no século de maior desenvolvimento das ciências o mundo sofreu com as piores atrocidades de duas grandes guerras mundiais. Da mesma forma, todo o avanço científico não consegue evitar que grande parcela da população mundial viva em uma realidade de extrema pobreza. Portanto, a ciência sozinha não dá conta de mover a humanidade para um caminho de plena realização conforme seria desejável pelos direitos humanos.

 

Apesar de algumas previsões contrárias, Deus não está morto, as religiões resistiram ao progresso e desenvolvimento científico e parecem não apenas subsistir, mas também se manifestam fortemente nestes últimos anos. Torna-se evidente que é preciso, assim, um diálogo maior entre ciência e fé, sem pré-conceitos que limitem a compreensão global do tema.

 

Discernimento cristão

É inegável que ciência e fé são realidades distintas, cada uma parte de métodos e princípios diferentes, mas não podem ser vistas como elementos opostos. Não é possível olhar para a fé a partir dos métodos científicos, da experimentação e verificação oportunizados pela razão, nem a razão pode ser pensada com os olhos da fé, porque ficaria sem fundamentos e sem base científica.

 

Para os cristãos, este é um rico momento de fortalecer as convicções colocando a centralidade da fé na pessoa de Jesus Cristo. Ele, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, deve ser o ponto fundamental de diálogo que permite aos cristãos olhar para o progresso, para a ciência e para todas as realidades a partir de um ponto de vista. O discernimento cristão parte do olhar de Cristo, um olhar que dá aos seres humanos a condição de filhos amados de Deus, de irmãos e irmãs na fé em iguais condições.

 

É somente a partir da centralidade de Cristo e de uma visão integral da pessoa que será possível concretizar uma nova evangelização, capaz de dialogar com a cultura, com nova síntese entre fé e vida. Quando o ser humano consegue reconhecer-se criatura, sair do centro e deixar que Deus seja o Absoluto em sua vida, então ele consegue ter parâmetros para fazer suas escolhas e discernir o que é importante, válido, bom e digno de ser vivido e o que pode ser descartado e deixado de lado. Em um mundo tão cheio de informações, tecnologias e possibilidades é urgente trazer a fé para a vida concreta.

 

Irmã Márcia Koffermann, FMA, é diretora-executiva da Rede Salesiana Brasil de Comunicação (RSB-Comunicação).

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Razão e fé: realidades complementares

Sexta, 15 Novembro 2019 19:41 Escrito por  Ir. Márcia Koffermann, FMA
Razão e fé: realidades complementares iStock.com
Muitas vezes, razão e fé são vistas como duas realidades opostas, de modo que o diálogo parece algo distante.  

Um dos pilares do Sistema Preventivo de Dom Bosco é a razão, que, ao lado da religião e da amorevolezza, forma o seu tripé fundamental. No entanto, educar para a fé numa sociedade predominantemente racionalista não é algo simples de fazer, especialmente em nossos dias. Muitas vezes, razão e fé são vistas como duas realidades opostas, de modo que o diálogo parece algo distante.

 

O rápido desenvolvimento das ciências nos últimos séculos permitiu ao homem desvendar inúmeros mistérios sobre o universo e a vida em geral, de modo que, para muitos, a fé não tem mais sentido. Esta visão de fé e ciência considera a religião como um tapa-buracos que busca explicar aquilo que o homem ainda não chegou a descobrir de outra maneira. É uma visão reduzida da fé e que não permite avançar no diálogo entre essas duas dimensões da vida humana.

 

Por outro lado, a razão é a capacidade que o ser humano tem de dar respostas para questões fundamentais do cotidiano e da própria realidade humana. Isto é uma característica maravilhosa que nos permite refletir e progredir enquanto humanidade. Quanto bem o desenvolvimento das ciências já permitiu, quantas doenças foram curadas, quantas melhorias e avanços tecnológicos foram desenvolvidos! Basta um olhar pela história da humanidade e veremos o longo e frutuoso caminho percorrido.

 

Aprofundamento e diálogo

Em um contexto de racionalidade técnica, a fé pode parecer uma instância que remete ao passado, ao contrário da razão que aponta para o futuro e para o progresso. Por vezes, esta visão de mundo associa a fé ao que há de mítico, mágico, tradicional e fantasioso, em oposição à racionalidade experimental que permite a comprovação dos dados e fatos. Assim, educar para a fé torna-se um desafio a ser enfrentado, que exige bom senso, aprofundamento e diálogo.

 

A história comprova o fato de que uma racionalidade puramente técnica não é capaz de responder sozinha às necessidades humanas. Aliás, ela pode ser extremamente desumana, se levarmos em consideração que no século de maior desenvolvimento das ciências o mundo sofreu com as piores atrocidades de duas grandes guerras mundiais. Da mesma forma, todo o avanço científico não consegue evitar que grande parcela da população mundial viva em uma realidade de extrema pobreza. Portanto, a ciência sozinha não dá conta de mover a humanidade para um caminho de plena realização conforme seria desejável pelos direitos humanos.

 

Apesar de algumas previsões contrárias, Deus não está morto, as religiões resistiram ao progresso e desenvolvimento científico e parecem não apenas subsistir, mas também se manifestam fortemente nestes últimos anos. Torna-se evidente que é preciso, assim, um diálogo maior entre ciência e fé, sem pré-conceitos que limitem a compreensão global do tema.

 

Discernimento cristão

É inegável que ciência e fé são realidades distintas, cada uma parte de métodos e princípios diferentes, mas não podem ser vistas como elementos opostos. Não é possível olhar para a fé a partir dos métodos científicos, da experimentação e verificação oportunizados pela razão, nem a razão pode ser pensada com os olhos da fé, porque ficaria sem fundamentos e sem base científica.

 

Para os cristãos, este é um rico momento de fortalecer as convicções colocando a centralidade da fé na pessoa de Jesus Cristo. Ele, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, deve ser o ponto fundamental de diálogo que permite aos cristãos olhar para o progresso, para a ciência e para todas as realidades a partir de um ponto de vista. O discernimento cristão parte do olhar de Cristo, um olhar que dá aos seres humanos a condição de filhos amados de Deus, de irmãos e irmãs na fé em iguais condições.

 

É somente a partir da centralidade de Cristo e de uma visão integral da pessoa que será possível concretizar uma nova evangelização, capaz de dialogar com a cultura, com nova síntese entre fé e vida. Quando o ser humano consegue reconhecer-se criatura, sair do centro e deixar que Deus seja o Absoluto em sua vida, então ele consegue ter parâmetros para fazer suas escolhas e discernir o que é importante, válido, bom e digno de ser vivido e o que pode ser descartado e deixado de lado. Em um mundo tão cheio de informações, tecnologias e possibilidades é urgente trazer a fé para a vida concreta.

 

Irmã Márcia Koffermann, FMA, é diretora-executiva da Rede Salesiana Brasil de Comunicação (RSB-Comunicação).

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