Queridos amigos do Boletim Salesiano, “dobramos o cabo” do ano, diz-se em linguagem de marinheiros, e enfrentamos o novo ano. Todo o começo tem algo de mágico e a novidade tem sempre o seu fascínio especial. O ano de 2023 parecia-me um tempo distante, mas já chegou. O novo ano é sempre uma promessa de que também para nós chegue alguma bela novidade. O novo ano brota da luz e do entusiasmo que nos foram dados no Natal.
“Há um tempo para nascer”, diz Qoelet na Bíblia. Nunca é tarde para recomeçar. Deus começa sempre do princípio, conosco, cumulando-nos da sua bênção.
Aprendi uma lição nestes anos: nos preparamso para as surpresas e para o inesperado. Como diz São Paulo numa carta: “Nunca o coração humano pôde saborear aquilo que Deus preparou para aqueles que o amam” (1 Cor 2, 9). O conteúdo da esperança cristã é viver abandonado nos braços de Deus.
Hoje muitos modos de viver, de se exprimir, de comunicar mudaram. Mas o coração humano, sobretudo o dos jovens, é sempre igual, como um rebento na primavera, rico de vida pronta a explodir. Os jovens “são” esperança que caminha.
Aquilo que agora vou contar parece-me muito apropriado para esta saudação do Boletim Salesiano do mês de janeiro, o “mês de Dom Bosco”.
Há umas semanas, visitei as presenças salesianas nos Estados Unidos da América (USA) e um dia, de manhã cedo, cheguei à escola média e superior “Saint Dominic Savio" de Los Angeles. Passei várias horas com centenas de estudantes, seguidas de uma mesa redonda com 45 jovens do liceu. Falamos dos seus projetos e sonhos pessoais. Foram horas muito agradáveis e muito enriquecedoras.
No fim da manhã, comi um sanduíche com os jovens no pátio. Estava sentado numa mesa de madeira no pátio com meu sanduíche e uma garrafa de água. Naquele momento estavam comigo quatro salesianos; havia cumprimentado muitos jovens, uns sentados às mesas e outros de pé. Era um almoço temperado com alegria. Na minha mesa havia dois lugares livres e a dado momento dois jovens aproximaram-se e sentaram-se ao nosso lado. Naturalmente comecei a falar com eles. Passados breves instantes, um dos jovens me disse: “Quero fazer uma pergunta”.
“Claro que sim, pode falar”.
O jovem disse: “Que devo fazer para ser Papa? Quero ser Papa”.
Pareci surpreendido, mas sorri. Respondi-lhe que nunca me havia sido feito uma pergunta do gênero e que estava surpreendido com a sua clareza e determinação. Ocorreu-me espontaneamente explicar-lhe que entre 1.600.000 milhões de católicos há muita concorrência e não é fácil ser eleito Papa. Propus-lhe: “Escuta, poderias começar por ser salesiano”.
O jovem de maneira sorridente disse: “Ah, não digo que não” e acrescentou, muito sério: “Porque o que é certo é que a minha paixão é Cristo”.
Devo dizer que fiquei impressionado e agradavelmente surpreendido. Creio que havia-se passado muitos anos desde a última vez que tinha ouvido aquela expressão de um jovem num contexto tão informal, na presença de todos os seus companheiros que agora se apinhavam à nossa volta.
O jovem tinha um belo sorriso genuíno e disse-lhe que a sua resposta me havia agradado muito, porque era absolutamente sincera.
Acrescentei que, se ele estivesse de acordo, eu gostaria de contar o nosso diálogo em outro momento e outro lugar, e assim estou fazendo.
Mas já naquele momento o meu pensamento havia voado para Dom Bosco. Seguramente, Dom Bosco teria apreciado muito um diálogo com um jovem como aquele. Não há dúvida de que em muitos diálogos tidos com Sávio, Besucco, Magone, Rua, Cagliero, Francesia e outros havia muito disso, do desejo que aqueles jovens tinham de fazer algo de belo com a sua vida. E pensei como é importante hoje, a 163 anos do início da Congregação Salesiana, continuar a acreditar profundamente que os jovens são bons, que têm muitas sementes de bondade no coração, que têm sonhos e projetos que muitas vezes carregam em si muita generosidade e doação.
Como é importante continuar a acreditar que é Deus que atua no coração de cada um de nós, cada um dos seus filhos e filhas.
Parece-me que hoje, no nosso tempo, corremos o risco de ser tão práticos e eficientes em ver tudo aquilo que nos acontece e aquilo que experimentamos, que que perdemos a capacidade de nos surpreender conosco mesmos e com os outros e, coisa mais preocupante, de nos deixarmos “surpreender por Deus”.
A esperança é como um vulcão dentro de nós, como uma nascente secreta que brota no coração, como uma primavera que desabrocha no íntimo da alma: ela nos envolve como um turbilhão divino no qual somos inseridos, por graça de Deus. Penso que tal como ontem com Dom Bosco, hoje há milhares e milhares de jovens que querem ver Jesus, que precisam experimentar a amizade com Ele, que procuram alguém que os acompanhe nessa bela viagem.
Convido vocês a se unirem a eles, queridos amigos do Boletim, e auguro tempo para se maravilhar e tempo para confiar neles, tempo para olhar as estrelas, tempo para crescer e amadurecer, tempo para ter esperança novamente e para amar. Auguro tempo para viver cada dia, cada hora como um dom. Auguro também tempo para perdoar, tempo para dar aos outros e muito tempo para rezar, sonhar e serem felizes.