Juventude e protagonismo: Como colocar minha vida a serviço dos outros?

Segunda, 24 Setembro 2018 06:00 Escrito por  Iago Rodrigues Ervanovite
Juventude e protagonismo: Como colocar minha vida a serviço dos outros? Foto: iStock.com
“É significativo que exatamente os jovens – com frequência fechados no estereótipo da passividade e da inexperiência – proponham e pratiquem alternativas que mostram como o mundo ou a Igreja poderiam ser” – Papa Francisco, Documento Preparatório ao Sínodo dos Bispos.    

Em outubro de 2018, o episcopado do mundo inteiro estará reunido em Roma para a XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, cujo tema será “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”.

 

Nesta edição, “a Igreja decidiu interrogar-se sobre o modo de acompanhar os jovens a reconhecer e a acolher a chamada ao amor e a vida em plenitude, e também pedir aos próprios jovens que a ajudem a identificar as modalidades hoje mais eficazes para anunciar a Boa Notícia” (Introdução do Documento Preparatório). A Igreja quer entender as diferentes condições de vida de cada jovem, e de que forma cada um pode atender ao chamado de Deus em sua vida.

 

Quando pensamos em “vocação”, ainda mais quando falado pela Igreja, logo nos vem à mente a opção de vida religiosa ou, ainda, a opção pelo casamento. Mas falar em vocação é falar, também, de coisas muito mais cotidianas e que, às vezes, sequer percebemos.

 

“Para cada um a vocação ao amor adquire uma forma concreta na vida cotidiana, através de uma série de escolhas que estruturam a condição de vida (casamento, ministério ordenado, vida consagrada etc.), a profissão, as modalidades de compromisso social e político, o estilo de vida, a gestão do tempo e do dinheiro etc. Assumidas ou incorridas, conscientes ou inconscientes, trata-se de escolhas das quais ninguém se pode eximir. A finalidade do discernimento vocacional consiste em descobrir como as transformar, à luz da fé, em passos rumo à plenitude da alegria à qual todos nós somos chamados” (Introdução do Documento preparatório). Assim, nasce a dúvida: como posso contribuir com a Igreja, ajudar a anunciar a Boa Nova, a partir da minha vida cotidiana?

 

Projeto de vida

Toda pessoa, quando criança, já se perguntou: “o que eu quero ser quando crescer?”. É nessa perspectiva que nasce a necessidade de um projeto de vida, porque “o que somos” ou “o que seremos” não pode ser restrito a um ou outro aspecto da vida. Quando pensamos em “o que ser quando crescer”, não podemos nos limitar a definir nossa profissão, mas devemos abranger as diversas searas da vida: quero constituir família? Ter filhos? Viajar e conhecer novas culturas? Quais pessoas quero ter como amigos? Quero aprender um idioma novo ou ser expert em apenas um? Quero conhecer uma nova religião ou me aprofundar na vivência da minha espiritualidade atual?

 

Justamente porque a vida é “muito mais” do que uma ou outra profissão é que se torna extremamente importante pensarmos quais caminhos queremos tomar. Todo e qualquer movimento em nossa vida – seja para mudarmos de direção, seja para prosseguirmos no caminho que escolhemos – exige um pensar constante e, antes de qualquer ação, exige um planejamento. Desenhar seu projeto de vida é essencial para identificar onde você está no espaço da própria vida, para onde quer rumar e de que forma colocar sua vida a serviço dos outros (ou não).

 

A serviço

Cada vez mais, as novas gerações nascem e permanecem “conectadas”: online ou off-line, as pessoas tendem a relacionar-se, e as novas tecnologias podem potencializar ainda mais esses processos.

 

Fato é que nenhum jovem gosta do “lugar comum”, sempre quer algo diferente. Seja para aperfeiçoar o que já “está aí”, seja para mudar o rumo de uma escola ou de um país, nós jovens temos anseios próprios e, portanto, devemos saber canalizar a melhor forma de atuar para que essas vontades se concretizem. Mas jamais conseguiremos radicar profundas mudanças em qualquer estrutura (seja para repensar aquelas já existentes, seja para construir uma totalmente nova) se não o fizermos em conjunto.

 

Daí nasce a necessidade de pensarmos como nosso “projeto de vida” pode impactar a vida de outros, e de que forma podemos nos conectar a outras pessoas com objetivos semelhantes aos nossos.

 

Como o Papa Francisco nos lembra na mensagem inicial do Documento Preparatório para o Sínodo da Juventude, “é significativo que exatamente os jovens – com frequência fechados no estereótipo da passividade e da inexperiência – proponham e pratiquem alternativas que mostram como o mundo ou a Igreja poderiam ser. Se quisermos que aconteça algo de novo na sociedade ou na comunidade cristã, devemos deixar espaço a fim de que pessoas mais jovens possam agir. Em outras palavras, projetar a mudança segundo os princípios da sustentabilidade exige que se permita às novas gerações experimentar um novo modelo de desenvolvimento. Isto é particularmente problemático naqueles países e âmbitos institucionais em que a idade de quantos ocupam lugares de responsabilidade é elevada, diminuindo os ritmos de renovação geracional”.

 

Ressalto a importância dos grupos na vida de nós, jovens. Seja a roda de amigos do intervalo na escola, seja o grupo de teatro, de pastoral, na ONG do voluntariado ou mesmo o time de futebol, os coletivos constituem-se ferramentas importantíssimas de troca de experiências e ideias, e de onde podemos encontrar forças para lutar por aquilo que acreditamos.

 

Um testemunho pessoal

Quero encerrar a coluna desta edição deixando um testemunho pessoal. Desde pequeno, sempre gostei de trabalhar com “organizações”. Brincadeira de criança, para mim, era de “escritório”, sempre com uma pilha de papeis, umas tintas que imitavam carimbo e um telefone velho ao lado na minha mesinha.

 

Simultaneamente, a criação de minha família sempre me incentivou à busca pelo bem comum: seja pelo envolvimento de minha mãe e tios com trabalhos sociais, seja pela condição social de onde vim, acabei me inserindo em projetos sociais e em movimentos e pastorais.

 

Quando no ensino médio, às portas do vestibular, percebi que o Direito era minha vocação: não apenas porque trabalha com métodos e processos, mas porque consigo aliar a área ao senso de justiça e à consecução do bem comum.

 

Vejam, não precisei “refazer” meu projeto de vida para dar um destino a ela, nem para que se “encaixasse” em uma necessidade. Apenas fui percebendo, a partir de meu projeto construído, pensado e repensado com carinho e muito aconselhamento, que todas as vocações da minha vida poderiam ser coligadas para outros propósitos, além da realização pessoal.

 

Hoje, como advogado, eterno estudante de Direito (atualmente em pós-graduação), servidor público e conselheiro nacional de Juventude, vejo como minhas trajetórias na família, na escola, no teatro, nos grupos da Pastoral da Juventude Estudantil (PJE), me trouxeram onde estou, e como me auxiliam a projetar os próximos passos.

 

E você, jovem, já fez seu projeto de vida? Se já fez, já parou para revisa-lo?

E você, educador ou educadora, de que forma pode auxiliar os estudantes a fazê-lo?

 

Iago Rodrigues Ervanovite, 25 anos, é advogado formado pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo, membro do Conselho Nacional de Juventude (Conjuve) da Presidência da República e ex-secretário nacional da Pastoral da Juventude Estudantil (PJE).
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Última modificação em Segunda, 24 Setembro 2018 06:09

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Juventude e protagonismo: Como colocar minha vida a serviço dos outros?

Segunda, 24 Setembro 2018 06:00 Escrito por  Iago Rodrigues Ervanovite
Juventude e protagonismo: Como colocar minha vida a serviço dos outros? Foto: iStock.com
“É significativo que exatamente os jovens – com frequência fechados no estereótipo da passividade e da inexperiência – proponham e pratiquem alternativas que mostram como o mundo ou a Igreja poderiam ser” – Papa Francisco, Documento Preparatório ao Sínodo dos Bispos.    

Em outubro de 2018, o episcopado do mundo inteiro estará reunido em Roma para a XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, cujo tema será “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”.

 

Nesta edição, “a Igreja decidiu interrogar-se sobre o modo de acompanhar os jovens a reconhecer e a acolher a chamada ao amor e a vida em plenitude, e também pedir aos próprios jovens que a ajudem a identificar as modalidades hoje mais eficazes para anunciar a Boa Notícia” (Introdução do Documento Preparatório). A Igreja quer entender as diferentes condições de vida de cada jovem, e de que forma cada um pode atender ao chamado de Deus em sua vida.

 

Quando pensamos em “vocação”, ainda mais quando falado pela Igreja, logo nos vem à mente a opção de vida religiosa ou, ainda, a opção pelo casamento. Mas falar em vocação é falar, também, de coisas muito mais cotidianas e que, às vezes, sequer percebemos.

 

“Para cada um a vocação ao amor adquire uma forma concreta na vida cotidiana, através de uma série de escolhas que estruturam a condição de vida (casamento, ministério ordenado, vida consagrada etc.), a profissão, as modalidades de compromisso social e político, o estilo de vida, a gestão do tempo e do dinheiro etc. Assumidas ou incorridas, conscientes ou inconscientes, trata-se de escolhas das quais ninguém se pode eximir. A finalidade do discernimento vocacional consiste em descobrir como as transformar, à luz da fé, em passos rumo à plenitude da alegria à qual todos nós somos chamados” (Introdução do Documento preparatório). Assim, nasce a dúvida: como posso contribuir com a Igreja, ajudar a anunciar a Boa Nova, a partir da minha vida cotidiana?

 

Projeto de vida

Toda pessoa, quando criança, já se perguntou: “o que eu quero ser quando crescer?”. É nessa perspectiva que nasce a necessidade de um projeto de vida, porque “o que somos” ou “o que seremos” não pode ser restrito a um ou outro aspecto da vida. Quando pensamos em “o que ser quando crescer”, não podemos nos limitar a definir nossa profissão, mas devemos abranger as diversas searas da vida: quero constituir família? Ter filhos? Viajar e conhecer novas culturas? Quais pessoas quero ter como amigos? Quero aprender um idioma novo ou ser expert em apenas um? Quero conhecer uma nova religião ou me aprofundar na vivência da minha espiritualidade atual?

 

Justamente porque a vida é “muito mais” do que uma ou outra profissão é que se torna extremamente importante pensarmos quais caminhos queremos tomar. Todo e qualquer movimento em nossa vida – seja para mudarmos de direção, seja para prosseguirmos no caminho que escolhemos – exige um pensar constante e, antes de qualquer ação, exige um planejamento. Desenhar seu projeto de vida é essencial para identificar onde você está no espaço da própria vida, para onde quer rumar e de que forma colocar sua vida a serviço dos outros (ou não).

 

A serviço

Cada vez mais, as novas gerações nascem e permanecem “conectadas”: online ou off-line, as pessoas tendem a relacionar-se, e as novas tecnologias podem potencializar ainda mais esses processos.

 

Fato é que nenhum jovem gosta do “lugar comum”, sempre quer algo diferente. Seja para aperfeiçoar o que já “está aí”, seja para mudar o rumo de uma escola ou de um país, nós jovens temos anseios próprios e, portanto, devemos saber canalizar a melhor forma de atuar para que essas vontades se concretizem. Mas jamais conseguiremos radicar profundas mudanças em qualquer estrutura (seja para repensar aquelas já existentes, seja para construir uma totalmente nova) se não o fizermos em conjunto.

 

Daí nasce a necessidade de pensarmos como nosso “projeto de vida” pode impactar a vida de outros, e de que forma podemos nos conectar a outras pessoas com objetivos semelhantes aos nossos.

 

Como o Papa Francisco nos lembra na mensagem inicial do Documento Preparatório para o Sínodo da Juventude, “é significativo que exatamente os jovens – com frequência fechados no estereótipo da passividade e da inexperiência – proponham e pratiquem alternativas que mostram como o mundo ou a Igreja poderiam ser. Se quisermos que aconteça algo de novo na sociedade ou na comunidade cristã, devemos deixar espaço a fim de que pessoas mais jovens possam agir. Em outras palavras, projetar a mudança segundo os princípios da sustentabilidade exige que se permita às novas gerações experimentar um novo modelo de desenvolvimento. Isto é particularmente problemático naqueles países e âmbitos institucionais em que a idade de quantos ocupam lugares de responsabilidade é elevada, diminuindo os ritmos de renovação geracional”.

 

Ressalto a importância dos grupos na vida de nós, jovens. Seja a roda de amigos do intervalo na escola, seja o grupo de teatro, de pastoral, na ONG do voluntariado ou mesmo o time de futebol, os coletivos constituem-se ferramentas importantíssimas de troca de experiências e ideias, e de onde podemos encontrar forças para lutar por aquilo que acreditamos.

 

Um testemunho pessoal

Quero encerrar a coluna desta edição deixando um testemunho pessoal. Desde pequeno, sempre gostei de trabalhar com “organizações”. Brincadeira de criança, para mim, era de “escritório”, sempre com uma pilha de papeis, umas tintas que imitavam carimbo e um telefone velho ao lado na minha mesinha.

 

Simultaneamente, a criação de minha família sempre me incentivou à busca pelo bem comum: seja pelo envolvimento de minha mãe e tios com trabalhos sociais, seja pela condição social de onde vim, acabei me inserindo em projetos sociais e em movimentos e pastorais.

 

Quando no ensino médio, às portas do vestibular, percebi que o Direito era minha vocação: não apenas porque trabalha com métodos e processos, mas porque consigo aliar a área ao senso de justiça e à consecução do bem comum.

 

Vejam, não precisei “refazer” meu projeto de vida para dar um destino a ela, nem para que se “encaixasse” em uma necessidade. Apenas fui percebendo, a partir de meu projeto construído, pensado e repensado com carinho e muito aconselhamento, que todas as vocações da minha vida poderiam ser coligadas para outros propósitos, além da realização pessoal.

 

Hoje, como advogado, eterno estudante de Direito (atualmente em pós-graduação), servidor público e conselheiro nacional de Juventude, vejo como minhas trajetórias na família, na escola, no teatro, nos grupos da Pastoral da Juventude Estudantil (PJE), me trouxeram onde estou, e como me auxiliam a projetar os próximos passos.

 

E você, jovem, já fez seu projeto de vida? Se já fez, já parou para revisa-lo?

E você, educador ou educadora, de que forma pode auxiliar os estudantes a fazê-lo?

 

Iago Rodrigues Ervanovite, 25 anos, é advogado formado pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo, membro do Conselho Nacional de Juventude (Conjuve) da Presidência da República e ex-secretário nacional da Pastoral da Juventude Estudantil (PJE).
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