Podemos imaginar que, quando um pai ou uma mãe sabe que está prestes a deixar este mundo, vai – nos momentos finais de sua existência – buscar passar para os filhos o que acredita ser mais importante para a vida deles. Pensando nesse exemplo, acreditamos que a recomendação de Jesus para seus discípulos na “última ceia”, quando já prestes a ser preso e levado para morrer na Cruz, seja de fato um significativo apelo para a vida dos cristãos. O gesto do “lava-pés” e os ensinamentos do Divino Mestre são claros, inconfundíveis: precisamos servir!
Ser bom cristão, portanto, não significa apenas observar os mandamentos, fazer orações e não fazer o mal a ninguém. Requer a atitude positiva de promover o bem e ter um olhar atento e uma atenção especial a todos que necessitam do nosso cuidado. Atuar em favor do próximo, estender a mão aos que mais precisam, ser prestativo e serviçal, é atitude cristã de primeira grandeza. Podemos afirmar que, não por acaso, Maria apenas ficou sabendo que trazia no ventre o Filho de Deus, subiu apressadamente as montanhas da Judeia para colocar-se a serviço da prima Isabel.
Voluntariado
Uma atitude de solidariedade e de serviço pode ser o voluntariado, enquanto forma de engajamento nas ações de promoção social. Com muita frequência, diante de catástrofes (enchentes, ventanias, desabamentos...) vemos a mobilização de muitas pessoas que se colocam a trabalhar para aliviar o sofrimento das vítimas. Coletas de roupas e alimentos, distribuição de materiais arrecadados, trabalhos de reconstrução e tantas outras coisas. Isso é muito nobre e necessário. Pode ser, porém, que tais situações não ocorram tão próximas de nós, o que não nos exime de buscarmos formas de servir e, ainda mais, de fazê-lo com constância e regularidade.
Nesse sentido, o serviço de voluntariado, como apoio às ações sociais que são realizadas de modo permanente por tantas instituições, é uma forma bonita e necessária de colocarmos em prática o mandamento do serviço. Asilos, creches, entidades assistenciais, hospitais, escolas públicas e diversos outros espaços são lugares onde é possível doar tempo e energias para promover o bem. Os dias e os tempos podem variar de acordo com sua disponibilidade e, também, com a capacidade do local que acolhe o voluntário de absorver sua colaboração. O importante é constância e compromisso com a causa assumida e com os destinatários do serviço a ser prestado.
Talvez não tenhamos dons especiais para atuarmos junto à instituição à qual nos propomos a ajudar. Importante é, com simplicidade e paciência, descobrir onde sua colaboração poderá ser mais útil. Ajudar as crianças num momento de recreação, acompanhar alguém que é portador de deficiência, ensinar uma criança que tem maior dificuldade de aprender do que os demais colegas, auxiliar para servir um lanche, ajudar na limpeza dos ambientes, fazer companhia para um idoso que não recebe visitas, ler um livro ou contar uma história são algumas entre centenas de ações que podem ser desenvolvidas. Ensinar a tocar um instrumento, a cortar cabelo, a costurar, a fazer um determinado artesanato, dar uma aula de reforço escolar... são atividades importantes e que podem enriquecer a oferta de ações educativas de uma determinada entidade.
Boa vontade e generosidade
Perceber onde e de que forma pode ser mais útil é parte de uma construção paciente entre voluntário e equipe do local onde se busca ofertar sua colaboração; é algo a ser aprendido e descoberto. Algumas instituições, muitas vezes, sofrem com a inconstância ou falta de perseverança do voluntário que inicia sua ação todo animado ou animada e depois abandona o posto. Faça o que está dentro da sua disponibilidade, mas com determinação e fidelidade. Lembro-me aqui da Sra. Doroty, que semanalmente vinha colaborar com a secretaria da obra onde trabalhei por muitos anos. Prestava-nos um serviço relevante, ajudando no arquivamento de notícias, de fotos, de documentos. Sua organização era impecável e foi de grande valia para o setor administrativo.
Importante: não se espante se, ao se propuser, com boa vontade, a prestar um serviço de voluntariado, for convidado ou convidada a assinar uma “declaração” de que seus serviços são voluntários. Isso é necessário para a segurança da obra ou instituição beneficiada com sua dedicação, que poderá sempre ser interpelada em uma eventual visita de agentes de proteção ao trabalhador. Atuar com boa vontade e generosidade não nos exime de exigências impostas hoje por órgãos de controle e fiscalização.
Talvez a sua colaboração possa parecer a você como pequena ou insignificante diante das grandes necessidades daqueles aos quais se propôs a auxiliar com seu serviço. Mas, lembre-se da parábola do grão de mostarda. É uma pequena semente, mas ao crescer torna-se uma planta capaz de acolher até as aves do céu para fazerem seus ninhos. As pequenas ações, feitas com alegria e generosidade, fazem crescer o “Reino dos Céus” e, também, o amor nos corações. Nós semeamos, é Deus quem faz crescer.
E mais: não se espante também, se perceber que você recebeu mais do que doou. Não apenas porque, como já dizia o bom São Francisco de Assis, “é dando que se recebe”, mas porque sentirmo-nos úteis nos faz perceber que, mesmo com nossos limites, podemos sempre promover o bem e a felicidade do outro. Mãos à obra! Viva essa alegria.
Padre Agnaldo Soares Lima, SDB, é assessor da Rede Salesiana Brasil de Ação Social (RSB-Social)