Minha querida Família Salesiana, amigos e amigas de Dom Bosco, leitores do Boletim Salesiano: recebam a minha cordial e afetuosa saudação como Reitor-mor. Escrevo este editorial de saudação como se fosse uma carta de família porque sinto sinceramente a necessidade de narrar e recordar o que estamos vivendo.
O ano de celebração do bicentenário do nascimento de Dom Bosco continua com alegria e mostra-se cada vez mais aquilo que devia ser: um verdadeiro ano de graça que o Senhor nos oferece.
No momento em que escrevo estas linhas, conservo viva e fresca a memória do meu encontro com os 24 Salesianos de Dom Bosco que há poucos dias conheci em Valdocco, para lhes dar a minha afetuosa saudação e augurar-lhes uma boa viagem, pouco antes de partirem nas próximas semanas para o lugar que lhes foi destinado pela sua vocação missionária e chegarem aos mais variados e remotos países do mundo.
Pela mesma razão preparavam-se um grupo de Filhas de Maria Auxiliadora e alguns leigos.
Será a 146ª expedição missionária, desde o dia em que Dom Bosco enviou os seus primeiros missionários. A alegria e o entusiasmo daqueles jovens salesianos, das nossas irmãs e dos irmãos leigos, o seu vivo desejo de ir ao encontro daqueles que os esperam para compartilhar a sua existência, para oferecer a sua vida ao seu serviço, para caminhar juntamente com os pequenos e com os pobres, comove-me e enche-me de alegria.
Todo Valdocco vibrava e fazia festa
E faz-me pensar neste aspeto essencial da nossa Família Salesiana. Por fidelidade ao carisma, somos uma família religiosa com vocação missionária.
Desde o início, Dom Bosco começou a preparar o envio em missão dos seus Salesianos e das Filhas de Maria Auxiliadora. No momento da sua morte, no ano de 1888, eram 154 os salesianos enviados para a América (20% de toda a Congregação Salesiana naquele momento) e o próprio Dom Bosco batia à porta de muitos leigos para pedir que o ajudassem a sustentar a ação missionária. Todo Valdocco vibrava e fazia festa, inflamava-se de emoção e de desejo de partir para acompanhar aqueles primeiros missionários, cada vez que chegavam notícias “frescas” da América.
Hoje, a linguagem, a visão antropológica, cultural e teológica já não é a mesma dos tempos de Dom Bosco, mas idêntico deve ser o caráter missionário da nossa Família.
O Papa Francisco convidou-nos a ser uma Igreja em saída, isto é, uma Igreja que vai ao encontro, uma Igreja em missão. Para a nossa Família Salesiana este projeto do Papa está em plena e concreta harmonia com o carisma salesiano que todos os trinta grupos da nossa Família compartilham.
O meu grande sonho
Como nos tempos de Dom Bosco, também a nossa Família, todos os ramos, cada um com a sua especificação carismática, dentro da “casa comum”, são chamados a estar presentes e ativos nos quatro pontos cardeais.
São muito mais numerosos os convites que recebemos do que as possibilidades de estarmos presentes em todos os lugares que nos chamam. Sucede como nos tempos de Dom Bosco. Mas temos uma possibilidade. A possibilidade de nos empenharmos em ser como ele: suscitar aquela paixão missionária que inflamou e encheu de entusiasmo tantos jovens corações.
Dizem os peritos em sociologia que a nossa não é uma época de grandes narrativas. Com isto querem dizer que o pós-modernismo eliminou as grandes utopias e os grandes ideais do mundo.
Todavia, eu sou daqueles que acreditam que tais hipóteses sociológicas se destinam à falência na medida em que existem pessoas individuais, instituições e coletividades que acreditam, que acreditamos, que algo pode ser diferente.
A diferença substancial, no contexto daquilo que estou narrando, para a nossa Família é um sonho. Um encantador e maravilhoso sonho: que a narrativa e o fruto do Bicentenário sejam uma paixão missionária que cresça de maneira sólida nos próximos anos. Ser religiosas, religiosos e leigos empenhados em uníssono para tornar realidade forte e mobilizadora a paixão missionária que Dom Bosco viveu.
Dom Bosco, no bicentenário do seu nascimento, continue a interceder por todos diante do Senhor.