Dom Bosco, o Papa Francisco e os três amores brancos

Terça, 08 Setembro 2015 13:13 Escrito por 
Escrevo acabado de regressar a Roma. Há 16 horas estava acolhendo o Papa Francisco à porta da Basílica de Maria Auxiliadora e o meu coração continua ainda repleto da emoção do dia do Papa em Valdocco. Uma emoção que desejo partilhar com vocês.

A visita do Papa a Valdocco marcou uma jornada histórica. Rezamos juntos diante da urna de Dom Bosco, diante do quadro de Maria Auxiliadora e sentimo-nos todos envolvidos pela bênção do Vigário de Cristo, o Papa Francisco. O encontro com o Papa foi um momento de grande felicidade. Sentimo-nos todos conquistados e envolvidos pela sua simplicidade e pelo seu sorriso sereno que transmite tanta paz interior. Entrou na Basílica e começou a cumprimentar um por um os que levantavam as mãos para ele, ao longo das barreiras de segurança que marcavam a passagem para o altar. Um momento extraordinário: era tão afável e cordial: entretinha-se com cada Salesiano ou Filha de Maria Auxiliadora ou qualquer outro membro da Família Salesiana que dissesse alguma coisa. Parava, escutava e respondia! E a Basílica estava lotada, teria de calcular o tempo. Não lhe importava.

Apresentei-lhe os noviços SDB e as noviças FMA. Perguntou-me quantos eram. Disse-lhe o número dos que temos na Europa. E este número de 40, com mais alguns nas inspetorias da Europa oriental, pareceu-lhe uma boa notícia. Passava de uma pessoa a outra, com calma e serenidade, com uma atenção especial aos Salesianos e às Filhas de Maria Auxiliadora em cadeiras de rodas.

Confesso que me comovi profundamente perante a ternura destes encontros. Era o encontro com tantas vidas totalmente doadas e hoje vividas na doença ou na impotência, mas vidas felizes e realizadas em plenitude. Estupendos aqueles olhares que se cruzavam com o olhar cheio de ternura de um pastor que bem compreendia o sentido de tanta doação.

Diante da urna de Dom Bosco, o Papa Francisco parou para rezar por momentos em silêncio e colocou sobre o altar um ramo de rosas. Um gesto simpático, simples, mas cheio de significado.

Depois do meu discurso em nome de toda a Família Salesiana e da apresentação de algumas ofertas, chegou o momento em que o Papa deveria dirigir-nos a sua palavra. Trouxeram-lhe as folhas com a mensagem oficial que tinha sido preparada para a ocasião. Olhou para elas por 10 segundos, refletiu um instante e disse: “Querida Família Salesiana, pensei tanto no que dizer-vos e escrevi o que queria dizer-vos, mas é demasiado formal e entrego-o ao Reitor-Mor para que o dê a conhecer”. E começou a falar de modo pessoal, espontâneo, de coração a coração. Conquistou-nos. Falou-nos por mais de meia hora e realmente parecia nos abraçar, com as palavras e com o olhar.

Entre as muitas coisas que nos disse, algumas simpáticas e anedóticas, desejo sublinhar duas que me parecem tão significativas que não podemos esquecê-las e que em outro momento poderemos aprofundar e desenvolver.

O Papa Francisco disse-nos que nos seus anos com os Salesianos tinha aprendido, entre várias circunstâncias, o sentido da afetividade em estilo salesiano (a “amorevolezza” de Dom Bosco) e que esta nossa capacidade de educar por meio do afeto é algo de fundamentalmente carismático. Convidou-nos a cuidar deste carisma e a não perdê-lo.

Acrescentou algo mais que qualificou de tipicamente salesiano porque o foi em Dom Bosco. Quando aqueles rapazes “migrantes”, no interior daquela que viria a ser a “Itália”, chegavam a Turim sem nada e sem ninguém, autênticos descartados pela sociedade da época, Dom Bosco não só os procurava, acolhia e tinha consigo, mas deu-se conta de que tinha de lhes proporcionar os recursos e as capacidades humanas para levarem uma vida digna e respeitável.

Por certo a catequese era muito importante, mas não os tiraria da rua e do perigo da delinquência. E em uma situação de crise e de perigo, continua o Papa Francisco, não menos difícil que a atual, pensou em uma solução de emergência imediata. E o Papa convida-nos a fazer aquilo que Dom Bosco faria hoje.

Perante uma situação de emergência vital para os meninos, para as meninas e para os jovens de hoje, a nossa resposta educativa e profissional deve ser analogamente excepcional e original, com ações e propostas que ultrapassam os sistemas de segurança e tranquilidade tradicionais.

No fim o Papa falou-nos dos três amores brancos de Dom Bosco: a Eucaristia, Nossa Senhora e a Igreja, representada pelo Papa. E acrescentou algumas palavras preciosas sobre Mamãe Margarida que arrancaram de todos nós um aplauso comovido.

Irmãos, irmãs, amigos e amigas, caríssimos, a visita do Papa foi inestimável com um forte significado simbólico. Foi o encontro com o Pastor que mostra sentir o cheiro das ovelhas; foi um testemuho de afeto, de ternura, de atenção pessoal, que fez desmoronar as nossas urgências, os cerimoniais e a nossa falta de tempo para tanto que fazer.

O Santo Padre foi para nós uma ligação ao vivo com Dom Bosco, uma bênção do Senhor que nos quer Família Salesiana bem viva na Igreja e mais do que nunca dedicada aos jovens, sobretudo aos mais pobres, e a todos aqueles que precisam de nós.

O Senhor, por intercessão de Maria Auxiliadora, de Dom Bosco, de Madre Mazzarello e de toda a santidade da esplêndida família que formamos, nos abençoe e, sobretudo, nos ajude a ser cada vez mais fiéis a este carisma que recebemos como dom de Deus.

 

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Última modificação em Segunda, 24 Junho 2024 19:24

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Dom Bosco, o Papa Francisco e os três amores brancos

Terça, 08 Setembro 2015 13:13 Escrito por 
Escrevo acabado de regressar a Roma. Há 16 horas estava acolhendo o Papa Francisco à porta da Basílica de Maria Auxiliadora e o meu coração continua ainda repleto da emoção do dia do Papa em Valdocco. Uma emoção que desejo partilhar com vocês.

A visita do Papa a Valdocco marcou uma jornada histórica. Rezamos juntos diante da urna de Dom Bosco, diante do quadro de Maria Auxiliadora e sentimo-nos todos envolvidos pela bênção do Vigário de Cristo, o Papa Francisco. O encontro com o Papa foi um momento de grande felicidade. Sentimo-nos todos conquistados e envolvidos pela sua simplicidade e pelo seu sorriso sereno que transmite tanta paz interior. Entrou na Basílica e começou a cumprimentar um por um os que levantavam as mãos para ele, ao longo das barreiras de segurança que marcavam a passagem para o altar. Um momento extraordinário: era tão afável e cordial: entretinha-se com cada Salesiano ou Filha de Maria Auxiliadora ou qualquer outro membro da Família Salesiana que dissesse alguma coisa. Parava, escutava e respondia! E a Basílica estava lotada, teria de calcular o tempo. Não lhe importava.

Apresentei-lhe os noviços SDB e as noviças FMA. Perguntou-me quantos eram. Disse-lhe o número dos que temos na Europa. E este número de 40, com mais alguns nas inspetorias da Europa oriental, pareceu-lhe uma boa notícia. Passava de uma pessoa a outra, com calma e serenidade, com uma atenção especial aos Salesianos e às Filhas de Maria Auxiliadora em cadeiras de rodas.

Confesso que me comovi profundamente perante a ternura destes encontros. Era o encontro com tantas vidas totalmente doadas e hoje vividas na doença ou na impotência, mas vidas felizes e realizadas em plenitude. Estupendos aqueles olhares que se cruzavam com o olhar cheio de ternura de um pastor que bem compreendia o sentido de tanta doação.

Diante da urna de Dom Bosco, o Papa Francisco parou para rezar por momentos em silêncio e colocou sobre o altar um ramo de rosas. Um gesto simpático, simples, mas cheio de significado.

Depois do meu discurso em nome de toda a Família Salesiana e da apresentação de algumas ofertas, chegou o momento em que o Papa deveria dirigir-nos a sua palavra. Trouxeram-lhe as folhas com a mensagem oficial que tinha sido preparada para a ocasião. Olhou para elas por 10 segundos, refletiu um instante e disse: “Querida Família Salesiana, pensei tanto no que dizer-vos e escrevi o que queria dizer-vos, mas é demasiado formal e entrego-o ao Reitor-Mor para que o dê a conhecer”. E começou a falar de modo pessoal, espontâneo, de coração a coração. Conquistou-nos. Falou-nos por mais de meia hora e realmente parecia nos abraçar, com as palavras e com o olhar.

Entre as muitas coisas que nos disse, algumas simpáticas e anedóticas, desejo sublinhar duas que me parecem tão significativas que não podemos esquecê-las e que em outro momento poderemos aprofundar e desenvolver.

O Papa Francisco disse-nos que nos seus anos com os Salesianos tinha aprendido, entre várias circunstâncias, o sentido da afetividade em estilo salesiano (a “amorevolezza” de Dom Bosco) e que esta nossa capacidade de educar por meio do afeto é algo de fundamentalmente carismático. Convidou-nos a cuidar deste carisma e a não perdê-lo.

Acrescentou algo mais que qualificou de tipicamente salesiano porque o foi em Dom Bosco. Quando aqueles rapazes “migrantes”, no interior daquela que viria a ser a “Itália”, chegavam a Turim sem nada e sem ninguém, autênticos descartados pela sociedade da época, Dom Bosco não só os procurava, acolhia e tinha consigo, mas deu-se conta de que tinha de lhes proporcionar os recursos e as capacidades humanas para levarem uma vida digna e respeitável.

Por certo a catequese era muito importante, mas não os tiraria da rua e do perigo da delinquência. E em uma situação de crise e de perigo, continua o Papa Francisco, não menos difícil que a atual, pensou em uma solução de emergência imediata. E o Papa convida-nos a fazer aquilo que Dom Bosco faria hoje.

Perante uma situação de emergência vital para os meninos, para as meninas e para os jovens de hoje, a nossa resposta educativa e profissional deve ser analogamente excepcional e original, com ações e propostas que ultrapassam os sistemas de segurança e tranquilidade tradicionais.

No fim o Papa falou-nos dos três amores brancos de Dom Bosco: a Eucaristia, Nossa Senhora e a Igreja, representada pelo Papa. E acrescentou algumas palavras preciosas sobre Mamãe Margarida que arrancaram de todos nós um aplauso comovido.

Irmãos, irmãs, amigos e amigas, caríssimos, a visita do Papa foi inestimável com um forte significado simbólico. Foi o encontro com o Pastor que mostra sentir o cheiro das ovelhas; foi um testemuho de afeto, de ternura, de atenção pessoal, que fez desmoronar as nossas urgências, os cerimoniais e a nossa falta de tempo para tanto que fazer.

O Santo Padre foi para nós uma ligação ao vivo com Dom Bosco, uma bênção do Senhor que nos quer Família Salesiana bem viva na Igreja e mais do que nunca dedicada aos jovens, sobretudo aos mais pobres, e a todos aqueles que precisam de nós.

O Senhor, por intercessão de Maria Auxiliadora, de Dom Bosco, de Madre Mazzarello e de toda a santidade da esplêndida família que formamos, nos abençoe e, sobretudo, nos ajude a ser cada vez mais fiéis a este carisma que recebemos como dom de Deus.

 

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