Ontem
Ao relembrar seu encontro com Bartolomeu Garelli, que deu origem ao Oratório salesiano, Dom Bosco afirma: “Pude então constatar que os rapazes que saem de lugares de castigo, caso encontrem mão bondosa que deles cuide, os assista nos domingos, procure arranjar-lhes emprego com bons patrões e visitá-los de quando em quando ao longo da semana, tais rapazes dão-se a uma vida honrada, esquecem o passado, tornam-se bons cristãos e honestos cidadãos. Essa é a origem do nosso Oratório, que, abençoado por Deus, teve um desenvolvimento que então eu não podia imaginar” (Memórias do Oratório, p. 125).
Dom Bosco viveu em um tempo de grandes transformações econômicas, políticas e sociais. No século XIX, a Era Industrial, nascida na Inglaterra, se expandia e mudava completamente a vida do mundo ocidental, com transformações nas cidades e na produção agrícola. Eram mudanças sentidas pela população, muitas vezes, de maneira cruel. Dom Bosco e seu legado cresceram nesse cenário de dificuldades e novas configurações sociais. Ele as via nas ruas de Turim, na Itália, e percebia sua incidência na juventude.
Com a criação do Oratório e a conformação de seu sistema preventivo, ele possibilitou a crianças e jovens pobres e desassistidos daquela época a formação evangélica para que seguissem pelo bom caminho; a aprendizagem de ofícios que lhes permitiam se posicionar no mercado de trabalho; educação para as letras e a cultura; e um ambiente familiar e alegre, onde podiam brincar, se divertir, criar. Mais do que isso, percebeu que a juventude de então – como a de hoje – precisa mais de confiança, afeto e caridade do que de repressão.
Hoje
Como parte do carisma salesiano de atenção à juventude, a ação social faz parte das atividades da Família Salesiana desde a chegada dos primeiros Salesianos de Dom Bosco (SDB) e Filhas de Maria Auxiliadora (FMA) ao país, no final do século XIX. Mas, a partir do ano passado, 2014, essa atuação deu um passo importante, consolidando a criação da Rede Salesiana Brasil de Ação Social (RSB-Social), que une as experiências dos dois institutos para um trabalho conjunto.
Além de incorporar o histórico e as experiências dos SDB e das FMA, a RSB-Social também considerou a magnitude territorial do Brasil, sua diversidade cultural e a variedade de leis, políticas públicas, instituições, procedimentos e possibilidades de atuação no país para concluir que esse complexo sistema exige respostas “inovadoras, efetivas, ágeis e sustentáveis das organizações”. De acordo com o artigo “Ação social salesiana em rede no Brasil: a experiência conjunta na construção de respostas mais efetivas aos desafios contemporâneos de desenvolvimento integral da juventude”, produzido pela diretoria-executiva da RSB-Social, a entidade surge nessa perspectiva “como uma estrutura colaborativa nacional das presenças salesianas do Brasil, para articular, fortalecer e promover a ação social salesiana em rede no país”.
O carisma salesiano contém múltiplos aspectos que o caracterizam, dentro dos quais a RSB-Social elegeu três como essenciais para o seu alinhamento. O primeiro é o “Sistema preventivo de Dom Bosco e direitos humanos”, entendido como síntese maior do método educativo e da espiritualidade salesiana. O segundo aspecto ressaltado é a “Educação social”. Para a RSB-Social, salesianos e salesianas são essencialmente educadores, e a educação é a base para a transformação da vida das crianças, dos adolescentes, dos jovens e da sociedade. Por fim, está a “Preventividade”, entendendo que a educação social deve ser feita com planejamento, de maneira a criar condições capazes de prevenir situações de risco ou de violação de direitos, a despertar a força de superação dos destinatários e a promover a transformação social.
A tarefa de organizar uma rede efetivamente integrada, que articule o trabalho social dos salesianos e das salesianas no Brasil, é grandiosa: são aproximadamente 120 obras e presenças sociais, cada qual com uma série de serviços, projetos e programas oferecidos. Mas, como afirmam os diretores-executivos, padre Agnaldo Soares Lima e irmã Sílvia Aparecida Silva, a RSB-Social “não é por certo uma soma de dificuldades, mas, como já se pode perceber, uma soma de grandes oportunidades e melhores possibilidades”.
O maior desafio consiste em unir os muitos trabalhos já realizados pelos SDB e pelas FMA no País de maneira que essas ações sejam potencializadas e ganhem em qualidade e em amplitude. Um desafio que foi abraçado com entusiasmo pela Rede Salesiana Brasil, que já acolhia a Rede Salesiana de Escolas, e pelos membros das presenças sociais em todo o país. “Como salesianos e salesianas, ao assumir esse grande projeto e esse novo caminho de construção da RSB-Social, reafirma-se a crença nas novas gerações, no seu potencial transformador e na educação como o novo porvir para uma sociedade mais justa, mais fraterna e capaz de iniciar já aqui a construção do Reino de Deus”.