Quando monsenhor Jorge Bergoglio era bispo auxiliar de Buenos Aires, no dia 24 de cada mês dava sempre “um pulo” na Basílica de Maria Auxiliadora, de metrô ou ônibus, para “saudar a Mãe Auxiliadora” e ter uma conversa com Nossa Senhora. O cardeal vinha nas horas não frequentadas pelos fiéis, subia à capela no alto desta imponente e magnífica igreja, ajoelhava num banco escondido por um pilar e ali, aos pés da estátua benzida por Dom Bosco, rezava longamente.
“Tem um afeto especial pela Auxiliadora”, continua o pároco, “e também pela capela de Santo António que fica próxima, onde, em 1908, graças ao sacerdote salesiano Lorenzo Massa, nasceu aquela que hoje é o time de futebol de San Lorenzo de Almagro, da qual o Papa é sócio e adepto. Foi mesmo Bergoglio que, na celebração do centenário da equipe e do clube, pediu às autoridades que nunca tirassem a Auxiliadora da instituição, cujas cores, vermelho e azul, se tinham inspirado no manto e no vestido de Nossa Senhora”.
É perfeitamente natural que na sua viagem a Turim o Papa faça uma parada na Basílica de Maria Auxiliadora. Desejou ardentemente esta viagem, para expressar toda a sua devoção a Maria Auxiliadora e a Dom Bosco.
Dirigindo-se aos membros do Capítulo Geral 27, disse: “A evangelização dos jovens é a missão que o Espírito santo vos confiou na Igreja. A experiência de Dom Bosco e o seu sistema preventivo vos sustentem sempre no compromisso de viver com os jovens. A presença no meio deles distinga-se por aquela ternura a que Dom Bosco chamou carinho (amorevolezza), experimentando também novas linguagens, mas sabendo bem que a do coração é a linguagem fundamental para se aproximar deles e tornar-se seu amigo. O bicentenário do nascimento de Dom Bosco é um momento propício para propor de novo o carisma do vosso fundador. Maria Auxiliadora nunca faltou com o seu auxílio na vida da Congregação, e certamente também não faltará no futuro”.
Estas palavras do Papa, que nos permitem perceber o seu profundo conhecimento do carisma salesiano, o seu sincero apreço por este dom do Espírito à Igreja e a sua pessoal devoção a Maria Auxiliadora, devem ser para nós um verdadeiro estímulo para crescer na fidelidade ao Papa e em uma autêntica devoção mariana.
As raízes da sua devoção a Maria
Em diversos escritos, principalmente nas cartas endereçadas ao padre Cayetano Bruno, conservadas no Arquivo Salesiano de Buenos Aires, o Papa Francisco descreve a sua devoção mariana e a experiência salesiana que a sua família lhe transmitiu e lhe fez viver. Numa delas declara: “Não admira que fale com afeto dos Salesianos, porque a minha família alimentou-se espiritualmente dos salesianos de São Carlos. De pequeno aprendi a ir à procissão de Maria Auxiliadora. Quando estava na casa da minha avó, ia ao Oratório de São Francisco de Sales… Tinham-nos ensinado a pedir ‘a bênção de Maria Auxiliadora’ sempre que nos despedíamos de um Salesiano”.
Batizado na Basílica de Maria Auxiliadora começou a tomar parte nas procissões em sua honra acompanhado pela avó materna. São sinais que o levarão para o colégio salesiano de Ramos Mejía e a conhecer o testemunho de muitos salesianos, entre os quais se distingue o sacerdote missionário Enrique Pozzoli. Todos estes elementos contribuíram para fortalecer e aprofundar a sua devoção mariana.
Acompanhado pelo padre Pozzoli, o seu processo de discernimento vocacional levou-o a rezar e a descobrir a vontade de Deus aos pés da imagem da Auxiliadora da Basílica de São Carlos, benzida pessoalmente por Dom Bosco.
Recorda: “Uma ‘Boa-Noite’ que impressionou foi sobre a necessidade de rezar à Santíssima Virgem para compreender bem a própria vocação. Recordo que naquela noite rezei fervorosamente até ao dormitório… e desde aquela noite nunca mais deixei de rezar antes de adormecer. Era um momento psicologicamente apropriado para dar sentido ao dia e às coisas”.
Devoção mariana e o convite a ir às periferias
Nos escritos do Santo Padre, quando era ainda cardeal de Buenos Aires, sobressai de modo especial que a sua experiência salesiana une fortemente a devoção mariana à vida sacramental e ao impulso missionário. A sua devoção à “Mãe Auxiliadora” permite-lhe compreender o ardor missionário de muitos filhos de Dom Bosco e membros da Família Salesiana que conhece ao longo dos anos.
Nesta linha, tendo em grande conta a sua devoção a Maria Auxiliadora, podemos reler essas lembranças confidenciais que insere numa das suas cartas: “Vi os bairros sem assistência pastoral; isto me preocupou e começamos a acompanhar as crianças; no sábado à tarde dávamos catequese e depois havia jogos, etc. Dei-me conta de que nós, professores, tínhamos o voto de ensinar a doutrina às crianças e aos ignorantes, e comecei eu mesmo a fazê-lo juntamente com os estudantes. As coisas foram correndo bem; construíram-se cinco igrejas grandes, atenderam-se de modo organizado as crianças da região… e não só no sábado de tarde e no domingo de manhã… Então surgiu a acusação de que este não era um apostolado próprio dos jesuítas; que eu tinha salesianizado (sic!) a formação”.
Este testemunho do Papa Francisco deveria estimular-nos a relançar a nossa devoção pessoal e comunitária a Maria Auxiliadora, como elemento essencial do nosso ser discípulos e missionários de Jesus.
Conclusão
O Senhor concedeu-me nesta altura a graça de conhecer em diversas regiões do mundo a obra dos Salesianos e deu-me o privilégio de ser testemunha da ação de Maria Auxiliadora entre nós. É a Senhora dos tempos difíceis que encoraja a ir às periferias seguindo o convite do Papa Francisco.
É a Mãe e a “Pastorinha” dos sonhos de Dom Bosco que continua a suscitar em nós um forte amor à Igreja e ao Papa e uma convicta ação pastoral em favor dos jovens menos favorecidos e em situação de risco.
Como filhos de Dom Bosco, dando graças pelo momento eclesial que vivemos, os convido a aprofundar a nossa devoção à Auxiliadora e a crescer na consciência de que somos servos dos jovens, para viver realmente a palavra-de-ordem do lema deste ano Bicentenário: Como Dom Bosco, com os jovens, para os jovens…