As jovens espanholas Elisa Bravo, Nati Zozaya, Maria Zozaya Vegas e Elena Zozaya Vegas têm muito mais em comum além da nacionalidade, do sobrenome e da região onde moram; Pamplona, ao norte da Espanha. Com idades entre 25 e 29 anos, essas jovens também compartilham o interesse de doar-se ao próximo e se dedicar, integralmente, aqueles que mais precisam – um desejo que fez com que viessem ao Brasil, em janeiro deste ano, para realizar um trabalho voluntário naCRIPAM (Casa de Recuperação Infantil Padre Antonio Muller).
Fundada em 1996, a CRIPAM é uma entidade filantrópica que atende crianças e adolescentes de 0 a 17 anos, em situação de vulnerabilidade social. A entidade, sediada em Corumbá, MS, integra a comunidade Mamãe Margarida, da Missão Salesiana de Mato Grosso (MSMT), e é dirigida pelo padre salesiano Pascoal Forin - um italiano que vive em Corumbá há mais de vinte anos. A obra - diocesana, com espírito salesiano – tem um forte histórico de voluntariado europeu. Tanto que apenas em 2013 ela recebeu 34 voluntários de diversos países, como Espanha, Portugal, Inglaterra, Alemanha, Itália e Eslovênia. Em geral, os voluntários permaneceram na obra pelo período mínimo de 40 dias e máximo de um ano.
No caso das jovens espanholas, a atividade voluntária durou um pouco mais de um mês, de 27 de janeiro a 7 de março. Nesse período, elas se dedicaram aos projetos continuados dos três núcleos que integram a obra social: o “hospitalzinho”, que funciona como hospital diurno para crianças de 0 a 6 anos, vítimas de desnutrição; a “Casa Irmã Marisa Pagge”, uma casa de acolhida com espaço para 10 crianças, vítimas de agressão ou abandono; e o Centro de Apoio Infanto-juvenil (CAIJ), onde 570 crianças e adolescentes, de 0 a 17 anos, recebem apoio escolar e participam de oficinas de música, dança, teatro, esporte, artes plásticas e artes manuais.
Com formações acadêmicas diversificadas, as jovens se dividiram entre várias atividades. Enquanto a nutricionista e farmacêutica Nati Zozaya e a enfermeira Elena Zozaya permaneciam durante todo o dia no “hospitalzinho”, as demais jovens, Elisa Bravo, engenheira de telecomunicações, e Maria Zozaya Vegas, formada em engenharia da informática na gestão de sistemas, preenchiam seus dias ensinando noções básicas de word, excel e power point para adolescentes e jovens. “Na Espanha eu já havia realizado um trabalho voluntario e há algum tempo eu queria fazer um voluntariado internacional. Através de uma conhecida eu pude me inteirar da problemática que existe em Corumbá e do trabalho que é desenvolvido na CRIPAM. Me interessei por este projeto e pensei que com meus conhecimentos poderia ajudar na formação que é realizada no CAIJ”, relata a engenheira Elisa Bravo.
Embora a formação das voluntárias tenha sido uma ponte de aproximação com os atendidos da obra social, a dedicação e o carinho dispensados por elas foram, sem dúvida, a maior contribuição para os jovens e as crianças. “Depois do trabalho educativo que era realizado nas aulas, eu também valorizava muito as relações humanas, a aproximação com os jovens, a conquista de confiança deles. Esses jovens não têm vidas fáceis e eu agradeço muito que eles tenham visto em mim alguém para compartilhar suas aspirações e dúvidas”, considera Maria Zozaya.
A experiência
De acordo com a gestora geral dos projetos, a pedagoga e ex-aluna salesiana Luciene da Costa Cunha, as jovens tiveram conhecimento da obra em Corumbá por meio de relatos de outros jovens que, em 2013, estiveram no Brasil participando de uma experiência voluntária. Segundo ela, as jovens passaram por um processo de entrevistas que as preparou para viver essa experiência. No entanto, foi apenas quando chegaram em Corumbá, que elas comprovaram a difícil realidade vivida pelas crianças que são acolhidas na obra. “Uma vez aqui eu compreendi mais a fundo o importante trabalho que é realizado neste projeto, porque uma pessoa que não está nessa situação não imagina a grande necessidade de ajuda que existe aqui”, afirma Maria Zozaya.
Segundo Luciene Cunha, as obras forneceram alimentação e hospedagem para as jovens. Mas toda a despesa da viagem foi paga por cada uma delas. Condição essa que não as desanimou em nenhum instante. “Estou feliz de poder colocar o meu grãozinho de areia neste projeto que luta tanto para ajudar os jovens. A sensação que tenho desta experiência é de um constante aprendizado: uma nova cultura, um novo idioma e, sobretudo, tudo de positivo que essas crianças e adolescentes trazem”, considera Elisa Bravo.
A obra
A CRIPAM atende atualmente mais de 600 crianças, adolescentes e jovens, de 0 a 17 anos, em situação de vulnerabilidade social. Para cada subprojeto da obra existente um coordenador responsável, e dependendo das atividades voluntárias que são desenvolvidas, eles procuram beneficiar as crianças e adolescentes ligados a outros projetos sociais da cidade de Corumbá.
Ao longo deste ano a obra contará com a presença de vários voluntários de nacionalidades europeias. Do mês de abril até o inicio de maio a obra recebe uma italiana, fisioterapeuta; de maio a junho, um jovem italiano de Alessandria. Durante o mês de julho um grupo da Eslovênia; e ainda um grupo de jovens da Itália que virão ensinar basquete para os jovens e crianças da obra. Também neste ano, a obra conta com uma voluntaria espanhola, de 70 anos, que em seu 6º ano consecutivo está em Corumbá, onde permanecerá por 10 meses.