Ucrânia: empenho das instituições salesianas após mais de um ano de guerra
O padre Krzysztof Grzendziński, responsável pela Equipe de Coordenação de Varsóvia, apresentou no início de 2023 as inúmeras ações realizadas pelas procuradorias, inspetorias e instituições salesianas em favor da população da Ucrânia.
Durante o ano de 2022, foram arrecadados e empregados mais de 9,6 milhões de euros, graças à contribuição de 66 entidades, organizações e comunidades salesianas dos cinco continentes. Os projetos realizados incluíram a construção de abrigos de emergência, no auxílio a refugiados no exterior, a deslocados internos, em programas educativos para crianças e adolescentes, no plano especial de emergência para enfrentar o inverno, bem como no suporte geral à gestão de uma situação tão complexa.
Em 2023, a Família Salesiana continuou ajudando as pessoas que sofrem com as consequências da guerra. Além do atendimento emergencial aos cerca de 5 milhões de deslocados internos e mais de 6 milhões de refugiados em outros países, um dos grandes desafios enfrentados foi garantir às crianças e aos jovens ucranianos que iniciassem em setembro o ano letivo, mesmo em estado de guerra incessante.
A atenção da Família Salesiana às crianças e aos adolescentes ucranianos também foi expressa na realização de colônias de férias para menores deslocados e refugiados na Polônia, Eslováquia, Itália e na própria Ucrânia, entre outros países. “O verão é a única ocasião para fazer uma pausa, não só relativa à escola, mas também e, sobretudo, à ansiedade e ao perigo que os menores (que ficaram na Ucrânia) sentem cotidianamente”, explicam os Salesianos.
Sudão: a Família Salesiana atende aos mais necessitados
Em 3 de novembro, uma bomba atingiu a Casa Dar Mariam, das Filhas de Maria Auxiliadora (FMA) em Cartum, capital do Sudão, causando graves danos materiais e deixando algumas pessoas com ferimentos leves. A casa das FMA fica em uma das regiões mais atingidas pela guerra no país e acolhe cinco irmãs, um sacerdote salesiano, mães, crianças, uma professora e um grupo de idosos e enfermos.
O que aconteceu em novembro é um dos exemplos dos riscos a que estão expostos salesianos e salesianas que, mesmo nessa situação de conflitos armados, decidiram permanecer junto à população mais necessitada no país africano. Em testemunho prestado à Ajuda à Igreja que Sofre (ACS), o padre salesiano Jacob Thelekkadan disse que, no momento em que a bomba atingiu o primeiro andar do edifício, as crianças e suas mães estavam reunidas no andar térreo, o que evitou a tragédia.
Além dos danos à estrutura, a explosão destruiu uma pintura de Nossa Senhora Auxiliadora. Por isso, o salesiano comentou: “Temos certeza de que Nossa Mãe quis sacrificar-se por todos nós. Assim, a bela pintura de Nossa Senhora se despedaçou. A proteção materna de Nossa Mãe reina em Dar Mariam!”.
Embora em grande parte esquecida pelo mundo, a guerra no Sudão continua a se intensificar, à medida que as facções militares lutam entre si. De acordo com o enviado especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Sudão, Volker Perthes, esta guerra já deixou pelo menos cinco mil mortos e mais de 12 mil feridos. Algumas igrejas foram destruídas, enquanto outras abriram suas portas para dar abrigo e refúgio. Embora a maioria dos missionários tenha sido evacuada, as Irmãs Salesianas estão decididas a continuar com os fiéis.
Padre Thelekkadan era responsável pelo Centro Profissional St. Joseph, de Cartum, que precisou fechar por se encontrar numa zona de intensos combates. O religioso decidiu permanecer no Sudão para dar apoio às Irmãs FMA. “Continuem a rezar para que esta guerra – trágica e sem sentido – termine; e para que Deus conceda ao Sudão o dom de uma paz duradoura!”, exorta o salesiano numa mensagem enviada aos benfeitores da ACS.
Síria: acampamentos de férias ajudam a superar traumas
Todos os anos, os Salesianos organizam atividades de férias para as crianças na Síria, ajudando a manter um ambiente saudável e seguro para jovens que vivem há mais de 12 anos em um país em guerra. Em 2023, a iniciativa teve como objetivo ajudar também quase duas mil crianças a superar o trauma causado pelo terremoto que atingiu a região no início do ano.
Em Aleppo, uma das regiões mais atingidas pelo terremoto ocorrido em fevereiro, os Salesianos de Dom Bosco (SDB) e as Filhas de Maria Auxiliadora (FMA) abriram as portas de suas obras à população na fase emergencial, abrigando muitas famílias e oferecendo refeições às pessoas que tiveram de sair de suas casas. A ajuda humanitária continuou por vários meses, graças ao apoio financeiro de campanhas realizadas em todo o mundo pelos SDB e pelo Instituto das FMA.
Mas, além do terremoto, as consequências da guerra, a crise econômica-social que o país atravessa, o aumento dos preços, a falta de alimentos, a falta de trabalho... causaram na população um grande e difundido clima de depressão, não poupando nem sequer as crianças. Assim, no meio do ano, os Salesianos iniciaram a segunda fase, focada na retomada das atividades esportivas e recreativas para os jovens e na atenção para que as pessoas possam superar os traumas e o estresse.
Nas férias de meio de ano, quando é verão na Síria, foram organizados os tradicionais acampamentos e atividades, a que sempre afluíram centenas e centenas de crianças. Nesta ocasião, as obras salesianas de Damasco e Kafroun receberam quase duas mil crianças e adolescentes com idades entre 8 e 18 anos, provenientes de várias regiões da Síria, especialmente de Aleppo. Para as colônias de férias, os Salesianos incluem transporte, alimentação e todo o material esportivo e cultural para os meninos e meninas participantes. Os acampamentos de férias terminaram com cinco dias de convivência na casa salesiana de Kafroun, um ambiente sereno, nas encostas das montanhas, para permitir aos jovens participantes assimilar e compartilhar suas experiências.
Uganda: Palabek não é um simples campo de refugiados
Palabek, em Uganda, não é o tradicional campo de refugiados africano que a mídia divulga; é um assentamento onde coexistem ugandenses locais do norte do país e recém-chegados, principalmente do Sudão do Sul. A área fronteiriça tornou-se o lar de mais de 70.000 refugiados, 60% dos quais têm menos de 13 anos de idade.
O assentamento foi inaugurado em 2016, como resposta à crescente onda de refugiados sul-sudaneses que fogem do brutal conflito armado em seu país. O local oferece refúgio seguro a muitas pessoas que perderam suas casas e seus entes queridos, devido a conflitos, violência e perseguições.
Os salesianos trabalham em Palabek desde 2017. “Em 2015, o Papa Francisco convidou as Congregações a não apenas ‘trabalhar’ em campos de refugiados, mas também a ‘viver’ nos locais. Nós, salesianos, aceitamos o desafio de permanecer dentro de Palabek. Há de fato outras organizações que trabalham ali, mas não moram no local: vêm e vão todos os dias. Nós somos os únicos autorizados a viver em lugares como Palabek ou Kakuma, no Quênia”, explica o salesiano irmão Máximo Herrera, argentino, missionário na África.
Em Palabek, os salesianos estabeleceram escolas e uma paróquia; construíram uma igreja e 17 capelas em aldeias vizinhas; ajudam na educação, na distribuição de alimentos e no trabalho pastoral. Organizam o tempo livre dos jovens propondo a prática de esportes e música, e dão grande espaço à educação, por meio de um Centro de Formação Profissional. A educação é uma das ferramentas mais eficazes que os jovens refugiados podem utilizar para construir o seu futuro. A frase ‘Rebuilding lives’ (Reconstruir vidas) aparece nas camisetas dos jovens do CFP: de fato, os salesianos ajudam a reconstruir vidas destruídas pelo ódio e pela guerra.
Uganda é um país conhecido por sua política humanitária e única em matéria de refugiados. O país acolhe os refugiados de braços abertos e concede-lhes o direito ao trabalho e à liberdade de circulação. Assim, apesar das difíceis condições de vida e do trauma que sofreram, os refugiados do assentamento de Palabek formam uma comunidade baseada no apoio mútuo e na solidariedade. As autoridades locais e as ONGs trabalham para garantir a segurança e manter a paz dentro do assentamento. Também vale a pena mencionar que os residentes das aldeias e cidades vizinhas partilham frequentemente seus recursos com os refugiados e os ajudam a se integrar.