“O meu nome é Sean Cayd”

Domingo, 26 Junho 2022 16:49 Escrito por  Pe. Ángel Fernández Artime
Caríssimos leitores do Boletim Salesiano e amigos do carisma de Dom Bosco, do fundo do coração agradeço a todos pela simpatia e pela proximidade que mostram por Dom Bosco e por aqueles de nós que procuram continuar a sua missão na Igreja e no mundo.   

 Por isso, quero partilhar com vocês algo que aconteceu há uma semana. Estava eu de visita às presenças salesianas de Zimbábue (África) e permaneci alguns dias na pequena cidade de Hwange. Ali encontrei-me com os meus irmãos salesianos, os membros da Família Salesiana, os educadores e com um grupo de 200 jovens locais e alguns outros que tinham vindo do Malawi e da Namíbia com grande sacrifício e generosidade.

 

Os três dias de Hwange foram cheios de vida, de alegria, de encontros e cumprimentos. E desde o primeiro momento juntaram-se mais de 50 rapazes das casas vizinhas. Passaram o dia no meio de nós e ficaram impressionados com tudo o que viram, com os cânticos, com as danças e com a alegria.

 

Se há uma riqueza na África, são as crianças. Estão por todo lado. Sempre alegres e sorridentes (inconscientes da pobreza em que vivem, têm sempre o rosto iluminado pelo sorriso).

 

E quero falar a vocês de Sean. Na multidão que me acompanhava por toda a parte, estava esse garoto de 12 anos, que se tornava uma presença quase constante, juntamente com os seus amigos. Estava ali, sempre a cerca de um metro de distância de tudo o que acontecia; não distante, nem assustado, mas como alguém que vê o que está acontecendo porque para ele era tudo novo.

 

Naturalmente cumprimentei-os muitas vezes, de manhã, à tarde e à noite quando foram para casa. E conversamos um pouco.

 

Quando chegou o momento de partir, ao lado da furgoneta que devia me levar para outro destino, estava esse rapaz. Quando eu estava para entrar no veículo, adiantou-se e colocou-se muito perto de mim, estendendo o braço direito com a mão fechada.

 

Compreendi que queria entregar-me alguma coisa na mão. Eu não sabia o que era, talvez um pedido? Talvez estivesse me dizendo que precisava de alguma coisa? O fato é que estendi a mão e peguei o que me deu. Compreendi logo que estava me dando um presente, o seu presente. Observei o que me havia entregado, fechei a mão, agradeci-lhe com palavras e com um grande sorriso e meti-o no bolso. Era algo embrulhado num pedaço de papel.

 

Pode-se perguntar o que era, tanto o presente como o papel. É isto que eu quero partilhar com vocês neste momento. Esse rapaz tinha sentido necessidade de me cumprimentar por eu ter estado na sua terra, talvez por eu o ter cumprimentado ou por ter estado ao pé dele e dos seus amigos e deu o que podia. O presente era só uma pedrinha, das milhares que havia no chão, mas ele havia decidido me dar alguma coisa da sua terra e dele. E assim a recebi. Trago-a comigo e vou guardá-la. No pedacinho de papel estava escrito “Pray for you. My name is Sean Cayd (Rezo por ti. O meu nome é Sean Cayd)”.

 

Sean estava, assim, me oferecendo a sua oração e a sua recordação.

 

Como podia o meu coração não ficar impressionado naquele momento? Como eu poderia esquecer aquele rosto e aqueles olhos cheios de vida? Como podia não me perguntar o que se teria passado no coração e na mente daquele rapaz para lhe fazer sentir que devia dar alguma coisa àquele homem estrangeiro que era eu e que tinha vindo de tão longe para visitá-los? E tantas outras perguntas como essas.

 

A verdade é que tudo o que aconteceu me fez pensar muito. Recordou-me a cena do Evangelho em que o Senhor Jesus louva a pobre velhinha que faz tilintar apenas duas moedinhas na caixa das esmolas do Templo de Jerusalém, mas era tudo o que tinha. E, como educador, fez-me pensar muito seriamente na ação educativa de todos os dias, de todos e em todas as casas salesianas. O mesmo se pode dizer de cada gesto, de cada palavra, de cada carícia, nas casas, nas famílias.

 

Com efeito, a minha “moral”, aquela que procuro aplicar a mim mesmo, é que nunca se pode adivinhar até que ponto uma palavra, um sorriso, um cumprimento, um olhar podem tocar o coração de um jovem, de uma menina ou de um adolescente, e o que pode significar na sua vida. Aquilo que para vocês é quase nada, pode ser tudo para a pessoa que o recebe.

 

A vida de Dom Bosco está cheia de encontros significativos, de palavras ditas ao ouvido, de olhares que trespassaram o coração e a alma. Por exemplo os do jovem Albera (que foi o segundo sucessor de Dom Bosco), ou de Luís Variara (que prometeu naquele momento, naquela troca de olhares de rapazinho de 10 manos, que nunca mais se separaria de Dom Bosco). E tornou-se salesiano, missionário, fundador de uma congregação para a caridade e para o cuidado dos leprosos e já foi beatificado.

 

Veio-me à mente também aquele garoto que não conseguia compreender como Dom Bosco, com quem havia se encontrado casualmente semanas antes no pátio, recordava ainda o seu nome. Encheu-se de coragem e perguntou-lhe: “Dom Bosco, como fez para se recordar do meu nome?”. “Os meus filhos nunca os esqueço”, respondeu-lhe.

 

Estes são alguns dos “milagres” que, como digo muitas vezes, se vivem diariamente nas casas salesianas de todo o mundo.

 

O meu amigo Sean deu-me uma grande lição e tocou o meu coração. E não esquecerei. Que o bom Deus o abençoe! Com a bênção que auguro a todos vocês. 

 

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“O meu nome é Sean Cayd”

Domingo, 26 Junho 2022 16:49 Escrito por  Pe. Ángel Fernández Artime
Caríssimos leitores do Boletim Salesiano e amigos do carisma de Dom Bosco, do fundo do coração agradeço a todos pela simpatia e pela proximidade que mostram por Dom Bosco e por aqueles de nós que procuram continuar a sua missão na Igreja e no mundo.   

 Por isso, quero partilhar com vocês algo que aconteceu há uma semana. Estava eu de visita às presenças salesianas de Zimbábue (África) e permaneci alguns dias na pequena cidade de Hwange. Ali encontrei-me com os meus irmãos salesianos, os membros da Família Salesiana, os educadores e com um grupo de 200 jovens locais e alguns outros que tinham vindo do Malawi e da Namíbia com grande sacrifício e generosidade.

 

Os três dias de Hwange foram cheios de vida, de alegria, de encontros e cumprimentos. E desde o primeiro momento juntaram-se mais de 50 rapazes das casas vizinhas. Passaram o dia no meio de nós e ficaram impressionados com tudo o que viram, com os cânticos, com as danças e com a alegria.

 

Se há uma riqueza na África, são as crianças. Estão por todo lado. Sempre alegres e sorridentes (inconscientes da pobreza em que vivem, têm sempre o rosto iluminado pelo sorriso).

 

E quero falar a vocês de Sean. Na multidão que me acompanhava por toda a parte, estava esse garoto de 12 anos, que se tornava uma presença quase constante, juntamente com os seus amigos. Estava ali, sempre a cerca de um metro de distância de tudo o que acontecia; não distante, nem assustado, mas como alguém que vê o que está acontecendo porque para ele era tudo novo.

 

Naturalmente cumprimentei-os muitas vezes, de manhã, à tarde e à noite quando foram para casa. E conversamos um pouco.

 

Quando chegou o momento de partir, ao lado da furgoneta que devia me levar para outro destino, estava esse rapaz. Quando eu estava para entrar no veículo, adiantou-se e colocou-se muito perto de mim, estendendo o braço direito com a mão fechada.

 

Compreendi que queria entregar-me alguma coisa na mão. Eu não sabia o que era, talvez um pedido? Talvez estivesse me dizendo que precisava de alguma coisa? O fato é que estendi a mão e peguei o que me deu. Compreendi logo que estava me dando um presente, o seu presente. Observei o que me havia entregado, fechei a mão, agradeci-lhe com palavras e com um grande sorriso e meti-o no bolso. Era algo embrulhado num pedaço de papel.

 

Pode-se perguntar o que era, tanto o presente como o papel. É isto que eu quero partilhar com vocês neste momento. Esse rapaz tinha sentido necessidade de me cumprimentar por eu ter estado na sua terra, talvez por eu o ter cumprimentado ou por ter estado ao pé dele e dos seus amigos e deu o que podia. O presente era só uma pedrinha, das milhares que havia no chão, mas ele havia decidido me dar alguma coisa da sua terra e dele. E assim a recebi. Trago-a comigo e vou guardá-la. No pedacinho de papel estava escrito “Pray for you. My name is Sean Cayd (Rezo por ti. O meu nome é Sean Cayd)”.

 

Sean estava, assim, me oferecendo a sua oração e a sua recordação.

 

Como podia o meu coração não ficar impressionado naquele momento? Como eu poderia esquecer aquele rosto e aqueles olhos cheios de vida? Como podia não me perguntar o que se teria passado no coração e na mente daquele rapaz para lhe fazer sentir que devia dar alguma coisa àquele homem estrangeiro que era eu e que tinha vindo de tão longe para visitá-los? E tantas outras perguntas como essas.

 

A verdade é que tudo o que aconteceu me fez pensar muito. Recordou-me a cena do Evangelho em que o Senhor Jesus louva a pobre velhinha que faz tilintar apenas duas moedinhas na caixa das esmolas do Templo de Jerusalém, mas era tudo o que tinha. E, como educador, fez-me pensar muito seriamente na ação educativa de todos os dias, de todos e em todas as casas salesianas. O mesmo se pode dizer de cada gesto, de cada palavra, de cada carícia, nas casas, nas famílias.

 

Com efeito, a minha “moral”, aquela que procuro aplicar a mim mesmo, é que nunca se pode adivinhar até que ponto uma palavra, um sorriso, um cumprimento, um olhar podem tocar o coração de um jovem, de uma menina ou de um adolescente, e o que pode significar na sua vida. Aquilo que para vocês é quase nada, pode ser tudo para a pessoa que o recebe.

 

A vida de Dom Bosco está cheia de encontros significativos, de palavras ditas ao ouvido, de olhares que trespassaram o coração e a alma. Por exemplo os do jovem Albera (que foi o segundo sucessor de Dom Bosco), ou de Luís Variara (que prometeu naquele momento, naquela troca de olhares de rapazinho de 10 manos, que nunca mais se separaria de Dom Bosco). E tornou-se salesiano, missionário, fundador de uma congregação para a caridade e para o cuidado dos leprosos e já foi beatificado.

 

Veio-me à mente também aquele garoto que não conseguia compreender como Dom Bosco, com quem havia se encontrado casualmente semanas antes no pátio, recordava ainda o seu nome. Encheu-se de coragem e perguntou-lhe: “Dom Bosco, como fez para se recordar do meu nome?”. “Os meus filhos nunca os esqueço”, respondeu-lhe.

 

Estes são alguns dos “milagres” que, como digo muitas vezes, se vivem diariamente nas casas salesianas de todo o mundo.

 

O meu amigo Sean deu-me uma grande lição e tocou o meu coração. E não esquecerei. Que o bom Deus o abençoe! Com a bênção que auguro a todos vocês. 

 

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