Como o Senhor vê a importância dos jovens na Igreja?
Dom Eduardo - Em sua missão de educadora e canal da Graça divina, a Igreja quer resignificar sua presença no meio das novas gerações, considerando sua realidade e favorecendo reflexões, projetos e mecanismos que contribuam com sua vida e participação na construção do Reino. Se a fase da juventude já se apresenta, naturalmente, como desafiadora para a integração adequada no corpo social, quanto mais nestes novos tempos caracterizados por uma revolução cultural com consequências revolucionárias na vida pessoal, eclesial e cultural. Em tempo de grandes, profundas e rápidas mudanças não se pode ignorar que os que mais sofrem o impacto de tudo isso são os jovens. Às vezes eles mesmos nem tomam consciência disso, mas imediatamente nos comunicam a urgência de considerá-los de maneira diferente e de proporcionar-lhes condições favoráveis e inovadoras para seu crescimento e amadurecimento.
De que forma fortalecer o desejo de evangelização dos jovens?
Dom Eduardo - Esta é a primeira condição para a evangelização entre os jovens. O documento 85, n. 205, é enfático aos adultos: “É preciso resgatar no coração de todos a paixão pela juventude”! Quem ama cria, se sacrifica, vê a fundo, encontra novas soluções, não se cansa... Para “fortalecer este desejo” somos chamados a olhar os jovens com os olhos cheios de amor do Mestre que foi abordado por aquele que queria fazer algo a mais para ser feliz. Ao serem alimentados pela Palavra e pelo Pão, nossos jovens esperam ser convocados para, eles também, distribuírem o alimento da vida a seus irmãos: após a multiplicação dos pães, Jesus, acreditando em seus discípulos, convoca-os para prestarem este serviço da partilha. É preciso aprender a abraçar as novas gerações com a alegria daquele pai misericordioso do Evangelho que jamais perdeu as esperanças e aguardava ansioso o seu filho aventureiro. “Com” e “como” o Bom Pastor, os adultos são enviados por Deus a cuidar daqueles jovens mais violentados em sua dignidade e a curar suas feridas, como se pode e com aquilo que se tem, como fez o bom Samaritano. Os sentimentos e as atitudes de Jesus são essenciais para que possamos ser eficientes em nossa vocação de evangelizadores. Para tanto, necessitamos viver em profunda união com o Mestre que nos convoca e nos envia, com a Igreja que nos capacita, com a juventude que nos aguarda.
Qual é o principal desafio da Igreja na evangelização dos jovens?
Dom Eduardo - É claro que os jovens, dependendo de sua realidade, apresentam seus desafios específicos e isto precisa ser observado e considerado por aqueles que recebem uma missão especial de evangelização junto a eles. Em outras palavras, “conhecer os jovens é condição prévia para evangelizá-los!” (Documento 85, 10) e isso se torna mais urgente nestes tempos de “mudança de época”. Em todos os casos, o texto-base da Campanha da Fraternidade nos apresenta alguns principais desafios. Por exemplo: compreender o jovem neste contexto atual, principalmente impactado por uma cultura midiática que, apesar de importante e atraente, carrega consigo certos perigos comprometedores da vida pessoal e coletiva. Os três “objetivos específicos” da CF 2013 nos deixam claros os principais desafios que precisamos considerar:
- em âmbito pessoal: contribuir com a relação profunda e afetiva de amizade com Jesus Cristo capaz de amadurecer sua vocação num consistente projeto pessoal de vida;
- em âmbito eclesial: favorecer acolhida e espaços de participação dos jovens em nossas Comunidades, chamadas a valorizar sua presença, reflexão, criatividade, dons;
- em âmbito social: sensibilizar os jovens para as questões sociais e as dores humanas, provocando-lhes iniciativas e amadurecimento de seu protagonismo.
Por que a CNBB escolheu o tema: “Fraternidade e Juventude”?
Dom Eduardo - A Igreja do Brasil, consciente da beleza e do valor da juventude, decidiu, mais uma vez, dedicar a Campanha da Fraternidade a este tema. Entre tantos sinais visíveis de opção afetiva e efetiva pelos jovens, a Igreja do Brasil, motivada pelo contexto da Jornada Mundial da Juventude em nossas terras, oferece a todos seus filhos e filhas, jovens e adultos, mais esta rica oportunidade que, se bem vivenciada, trará benefícios, inclusive imediatos, a todas as gerações. O jovem carrega em si a novidade de que a sociedade e a Igreja tanto necessitam para dar passos significativos na história.
Que mensagem o senhor deixa para a Igreja para fortalecer a evangelização dos jovens?
Dom Eduardo - O tempo e a experiência têm me revelado que os jovens do Brasil estão bem mais próximos de Deus e, inclusive, perto do dinamismo de nossas Comunidades eclesiais do que nós imaginamos. Estamos carentes, sim, de uma verdadeira conversão pastoral que “aposte” mais nos jovens, a eles sejam reconhecidas suas capacidades de contribuição e favorecidas muitas oportunidades. Vamos renovar nossa mentalidade e acreditar na força de transformação que os jovens carregam consigo; vamos investir em propostas mais convincentes e profundas, potencializar adultos para se dedicarem mais à causa juvenil; criar espaços dinâmicos e privilegiados aos jovens; convocá-los e capacitá-los a se tornarem, cada vez mais, “apóstolos de outros jovens”; interferir nas decisões públicas favoráveis à vida digna e ao protagonismo juvenil.
A juventude, tanto aquela que se encontra em nossas comunidades quanto as outras que fazem parte da sociedade, merece nossa atenção, carinho, confiança e investimento. “Sem o rosto jovem a Igreja se apresentaria desfigurada”. É provocante, atual, forte e profunda essa frase de nosso papa Bento XVI em maio de 2007, no Brasil! Que a Campanha da Fraternidade deste ano seja um momento propício para renovarmos nosso apreço efetivo pelos jovens que Deus nos confia para amar, servir e valorizar naquilo que somente eles poderão oferecer!
Missão Salesiana de Mato Grosso