Professores da RSE retornam ao Brasil depois de realizarem missão no Haiti

Quinta, 24 Outubro 2013 14:59 Escrito por 
Educadores compartilham as experiências que viveram no Haiti como participantes do projeto da Rede Salesiana de Escolas “Professores sem Fronteiras”.   “Uma missão mais do que especial com crianças e jovens inesquecíveis que farão parte de toda minha vida”, relatou o professor Renato de Castro, sobre a experiência que ele viveu no Haiti ao lado de outros três educadores da Rede Salesiana de Escolas (RSE): Guilherme Brondi, Corjesus Costa e Rogério Batista. Formados em Educação Física, esses professores viajaram para o Haiti, no mês de julho, com o compromisso de desenvolver práticas esportivas com os alunos dos colégios e oratórios salesianos. A missão, que ganhou o nome de “Professores sem Fronteiras”, durou 28 dias e ajudou a transformar, por meio do esporte, a rotina de crianças e jovens que vivem abaixo da linha de pobreza.

Foi nas cidades de Les Cayes e Fort-Liberté, na costa nordeste do Haiti, que os professores realizaram as atividades previstas no projeto “Professores sem Fronteiras”. Nessas regiões, eles desenvolveram um trabalho diário com cerca de 450 crianças e jovens que incluiu exercícios de alongamento, atividades de postura corporal, danças, brincadeiras e o ensino das técnicas e regras de várias modalidades esportivas, como o voleibol, o badminton e o futebol de campo. Cientes da escassez de recursos que encontrariam por lá, os educadores levaram na bagagem bolas, cones, camisetas, coletes, apitos e outros artigos esportivos para auxiliá-los nas atividades com as crianças e para serem deixados como legado do projeto.

Os adultos que trabalham junto aos jovens na cidade de Fort-Liberté também receberam a atenção dos educadores por meio de umcurso de formação para os técnicos de futebol. Sugerido por um dos padres da casa salesiana da região norte, o curso teve duração de oito dias e contou com a participação de mais de 18 técnicos de futebol.“Deixamos também como legado o conhecimento passado aos técnicos de futebol, para a continuidade do trabalho com as crianças e jovens e a quantidade significativa de material que levamos”, explica o professor Corjesus Costa.

 

Diário de Bordo

Assim que chegaram ao Haiti, todos os professores se instalaram na cidade de Les Cayes, onde permaneceram por uma semana desenvolvendo atividades esportivas com as crianças e jovens das escolas e oratórios. Na semana seguinte, dois educadores (Corjesus Costa e Rogério Batista ) se dirigiram para a cidade de Fort-Liberté, onde se dedicaram a uma rotina bem intensa que tinha início às 6 horas da manhã. “No norte a nossa rotina era bem puxada. Nossa primeira atividade iniciava com alongamentos e atividades de postura corporal. Às 7 horas começavam as atividades esportivas, com voleibol, badminton e basquetebol, que ocorriam até as 9 horas. Às 10 horas iniciava-se o treino de futebol que se estendia até às 11h30”, relata o educador Corjesus Costa. No período da tarde, segundo o professor, eles ministravam aulas de dança para mostrar um pouco da cultura musical do Brasil, sendo que um dos ritmos trabalhados com as crianças foi o Forró de Pé de Serra. Terminadas as atividades, os educadores ainda permaneciam no colégio para brincar com as crianças, jogar futebol e assistir aos jogos do campeonato local.

 

Impressões

“Apesar da simplicidade e da escassez de recursos, a vontade, a garra e a luta, estampadas na face daquelas crianças, com certeza, serão as melhores lembranças que terei de lá". As recordações do professor Guilherme Brondi assemelham-se às lembranças dos demais educadores que atuaram com ele no Haiti ao longo do mês de julho. Conscientes da grande responsabilidade que os esperava no país - que hoje é tido com o mais pobre da América -, esses professores viajaram dispostos a enfrentar qualquer dificuldade que encontrassem por lá em prol da valorização da vida, por meio do esporte. “Aprendi que ser voluntário é ter o dom de se doar. É em algum momento sentir-se chamado a desenvolver o melhor do meu trabalho”, afirma o educador Guilherme.

Para ele, assim como para os demais educadores, a experiência vivida no Haiti foi uma lição de vida que mostrou que as diferenças culturais, o idioma e mesmo a falta de recursos se tornam pequenas perto da vontade de se dedicar ao próximo. “Independente de sua cor, raça, sexo, religião, origem social ou nacionalidade, todos são iguais e necessitam de amor, carinho e uma vida digna... Acredito ter feito algo. Sei que só isso não é o suficiente para mudar o mundo, mas acredito que se cada um de nós for mais solidário com aqueles que mais necessitam, aí sim mudaremos esta realidade tão triste”, afirmou o professor Renato de Castro.

 

Experiência de vida e solidariedade

O educador Corjesus Costa enviou um belo relato sobre uma das experiências vividas durante sua missão no Haiti. Confira a mensagem em que Corjesus, educador do Instituto Madre Mazzarello de São Paulo, SP, conta a emoção de assistir a uma partida de futebol disputada entre alunos do Haiti:

“Hoje, pela manhã, o coordenador de esportes bateu na porta de meu quarto e me convidou para assistir a um jogo com ele. Prontamente aceitei seu pedido. Chegando ao local, me surpreendi. O campo era no meio da rua. Detalhe: a árvore faz parte do campo, que tem, ao lado direito, a base de uma casa, e, ao lado esquerdo, a casa branca também faz parte do campo. Se a bola tocar em qualquer parte da árvore, ou subir no cimento, ou bater na casa, o jogo continua.

Não bastasse isso tudo, o terreno é cheio de buracos e irregular. Para continuar a minha surpresa, tiveram o cuidado de separar três cadeiras, como se fosse um camarote, para o coordenador de esportes, para o outro professor que está comigo e para mim.

Durante a partida o coordenador me informou que um time estava todo de vermelho para representar o Bayern de Munique, o outro, de amarelo, para representar o Borússia Dortmund. Todos com camisetas diferentes, mas o que importava era a cor. Seguindo o jogo, a vontade pela vitória era aparente, todos muito compenetrados na partida.

A essa altura meus olhos estavam cheios de lágrimas... Foi de longe a imagem que mais me chocou até agora. Mais que a fome, mais que a pobreza, mais que a miséria. Vocês devem estar a se perguntar, por que um jogo de futebol me chocou tanto?

Aos meus olhos, não foi somente um jogo de futebol. Apesar da simplicidade, foi a doação do que cada envolvido tinha de melhor. A vontade, a garra, a luta, o campo totalmente inadequado, as camisetas diferentes, a bola toda rasgada, a receptividade comigo e, principalmente, o amor pelo esporte e o espírito esportivo, tudo isso era o melhor que eles tinham.

Por isso escolhi fazer o que faço! Serei tão abastado quanto um engenheiro, um médico ou alguém do tipo? Provavelmente não. Mas serei feliz, pois sei do poder das ferramentas que tenho em minhas mãos: o esporte e a educação!”

Corjesus de Jesus Costa, 20 de julho de 2013.

 

 

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Professores da RSE retornam ao Brasil depois de realizarem missão no Haiti

Quinta, 24 Outubro 2013 14:59 Escrito por 
Educadores compartilham as experiências que viveram no Haiti como participantes do projeto da Rede Salesiana de Escolas “Professores sem Fronteiras”.   “Uma missão mais do que especial com crianças e jovens inesquecíveis que farão parte de toda minha vida”, relatou o professor Renato de Castro, sobre a experiência que ele viveu no Haiti ao lado de outros três educadores da Rede Salesiana de Escolas (RSE): Guilherme Brondi, Corjesus Costa e Rogério Batista. Formados em Educação Física, esses professores viajaram para o Haiti, no mês de julho, com o compromisso de desenvolver práticas esportivas com os alunos dos colégios e oratórios salesianos. A missão, que ganhou o nome de “Professores sem Fronteiras”, durou 28 dias e ajudou a transformar, por meio do esporte, a rotina de crianças e jovens que vivem abaixo da linha de pobreza.

Foi nas cidades de Les Cayes e Fort-Liberté, na costa nordeste do Haiti, que os professores realizaram as atividades previstas no projeto “Professores sem Fronteiras”. Nessas regiões, eles desenvolveram um trabalho diário com cerca de 450 crianças e jovens que incluiu exercícios de alongamento, atividades de postura corporal, danças, brincadeiras e o ensino das técnicas e regras de várias modalidades esportivas, como o voleibol, o badminton e o futebol de campo. Cientes da escassez de recursos que encontrariam por lá, os educadores levaram na bagagem bolas, cones, camisetas, coletes, apitos e outros artigos esportivos para auxiliá-los nas atividades com as crianças e para serem deixados como legado do projeto.

Os adultos que trabalham junto aos jovens na cidade de Fort-Liberté também receberam a atenção dos educadores por meio de umcurso de formação para os técnicos de futebol. Sugerido por um dos padres da casa salesiana da região norte, o curso teve duração de oito dias e contou com a participação de mais de 18 técnicos de futebol.“Deixamos também como legado o conhecimento passado aos técnicos de futebol, para a continuidade do trabalho com as crianças e jovens e a quantidade significativa de material que levamos”, explica o professor Corjesus Costa.

 

Diário de Bordo

Assim que chegaram ao Haiti, todos os professores se instalaram na cidade de Les Cayes, onde permaneceram por uma semana desenvolvendo atividades esportivas com as crianças e jovens das escolas e oratórios. Na semana seguinte, dois educadores (Corjesus Costa e Rogério Batista ) se dirigiram para a cidade de Fort-Liberté, onde se dedicaram a uma rotina bem intensa que tinha início às 6 horas da manhã. “No norte a nossa rotina era bem puxada. Nossa primeira atividade iniciava com alongamentos e atividades de postura corporal. Às 7 horas começavam as atividades esportivas, com voleibol, badminton e basquetebol, que ocorriam até as 9 horas. Às 10 horas iniciava-se o treino de futebol que se estendia até às 11h30”, relata o educador Corjesus Costa. No período da tarde, segundo o professor, eles ministravam aulas de dança para mostrar um pouco da cultura musical do Brasil, sendo que um dos ritmos trabalhados com as crianças foi o Forró de Pé de Serra. Terminadas as atividades, os educadores ainda permaneciam no colégio para brincar com as crianças, jogar futebol e assistir aos jogos do campeonato local.

 

Impressões

“Apesar da simplicidade e da escassez de recursos, a vontade, a garra e a luta, estampadas na face daquelas crianças, com certeza, serão as melhores lembranças que terei de lá". As recordações do professor Guilherme Brondi assemelham-se às lembranças dos demais educadores que atuaram com ele no Haiti ao longo do mês de julho. Conscientes da grande responsabilidade que os esperava no país - que hoje é tido com o mais pobre da América -, esses professores viajaram dispostos a enfrentar qualquer dificuldade que encontrassem por lá em prol da valorização da vida, por meio do esporte. “Aprendi que ser voluntário é ter o dom de se doar. É em algum momento sentir-se chamado a desenvolver o melhor do meu trabalho”, afirma o educador Guilherme.

Para ele, assim como para os demais educadores, a experiência vivida no Haiti foi uma lição de vida que mostrou que as diferenças culturais, o idioma e mesmo a falta de recursos se tornam pequenas perto da vontade de se dedicar ao próximo. “Independente de sua cor, raça, sexo, religião, origem social ou nacionalidade, todos são iguais e necessitam de amor, carinho e uma vida digna... Acredito ter feito algo. Sei que só isso não é o suficiente para mudar o mundo, mas acredito que se cada um de nós for mais solidário com aqueles que mais necessitam, aí sim mudaremos esta realidade tão triste”, afirmou o professor Renato de Castro.

 

Experiência de vida e solidariedade

O educador Corjesus Costa enviou um belo relato sobre uma das experiências vividas durante sua missão no Haiti. Confira a mensagem em que Corjesus, educador do Instituto Madre Mazzarello de São Paulo, SP, conta a emoção de assistir a uma partida de futebol disputada entre alunos do Haiti:

“Hoje, pela manhã, o coordenador de esportes bateu na porta de meu quarto e me convidou para assistir a um jogo com ele. Prontamente aceitei seu pedido. Chegando ao local, me surpreendi. O campo era no meio da rua. Detalhe: a árvore faz parte do campo, que tem, ao lado direito, a base de uma casa, e, ao lado esquerdo, a casa branca também faz parte do campo. Se a bola tocar em qualquer parte da árvore, ou subir no cimento, ou bater na casa, o jogo continua.

Não bastasse isso tudo, o terreno é cheio de buracos e irregular. Para continuar a minha surpresa, tiveram o cuidado de separar três cadeiras, como se fosse um camarote, para o coordenador de esportes, para o outro professor que está comigo e para mim.

Durante a partida o coordenador me informou que um time estava todo de vermelho para representar o Bayern de Munique, o outro, de amarelo, para representar o Borússia Dortmund. Todos com camisetas diferentes, mas o que importava era a cor. Seguindo o jogo, a vontade pela vitória era aparente, todos muito compenetrados na partida.

A essa altura meus olhos estavam cheios de lágrimas... Foi de longe a imagem que mais me chocou até agora. Mais que a fome, mais que a pobreza, mais que a miséria. Vocês devem estar a se perguntar, por que um jogo de futebol me chocou tanto?

Aos meus olhos, não foi somente um jogo de futebol. Apesar da simplicidade, foi a doação do que cada envolvido tinha de melhor. A vontade, a garra, a luta, o campo totalmente inadequado, as camisetas diferentes, a bola toda rasgada, a receptividade comigo e, principalmente, o amor pelo esporte e o espírito esportivo, tudo isso era o melhor que eles tinham.

Por isso escolhi fazer o que faço! Serei tão abastado quanto um engenheiro, um médico ou alguém do tipo? Provavelmente não. Mas serei feliz, pois sei do poder das ferramentas que tenho em minhas mãos: o esporte e a educação!”

Corjesus de Jesus Costa, 20 de julho de 2013.

 

 

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