O coração de Jesus como escola do amor!

Domingo, 26 Junho 2022 16:54 Escrito por  Pe. Tarcizio Paulo Odelli, SDB
O mês de junho é dedicado à devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Muitos santos dos tempos modernos procuraram difundir esta devoção. São Francisco de Sales também a difundiu, principalmente através do “Tratado do Amor de Deus”.    

São Francisco de Sales, infelizmente, não é muito reconhecido por difundir a devoção ao Coração de Jesus. Porém, foi a uma sua filha visitandina, Santa Margarida Maria Alacoque, que o Sagrado Coração de Jesus apareceu e, por meio dela, se propagou esta devoção. Dom Bosco também sempre cultivou a devoção ao Coração de Jesus, e a propagou através do “Jovem instruído”. Também é uma tradição que os noviciados salesianos tenham como padroeiro o Sagrado Coração de Jesus.

 

Para São Francisco de Sales existe uma escola onde todos, santos e pecadores, podem se matricular. O programa desta escola consiste em aprender e conhecer o amor apaixonado de Deus por nós e nos apaixonarmos por Ele. E a “academia da dileção”, como ele a chama, tem sua sede no monte calvário.

 

Ele escreve no último capítulo do “Tratado do Amor de Deus”: “Teótimo, o monte Calvário é o monte dos amantes. Todo o amor que não tiver por origem a Paixão do Salvador é frívolo e perigoso. Desditosa é a morte sem o amor do Salvador; desditoso é o amor sem a morte do Salvador. O amor e a morte estão de tal modo confundidos na Paixão do Salvador, que não pode ter-se no coração um sem o outro. No Calvário não pode ter-se a vida sem o amor, nem o amor sem a morte do Redentor; mas, fora daí, ou bem morte eterna, ou bem amor eterno e toda a sabedoria cristã consiste em escolher bem”.

 

O Salvador no coração do discípulo

No tempo de São Francisco de Sales estavam se iniciando os estudos anatômicos. Ele vivenciou isso quando estudou em Pádua. Começaram a estudar o corpo humano e descobriram que o coração era um órgão vital. Em seguida veio a descoberta da circulação do sangue. Por isso, a palavra “coração” é muito usada por Francisco de Sales como um recurso à sensibilidade e à emoção, pela necessidade de enfrentar a aridez calvinista e pela pastoral da vivência cristã, na esperança e no amor.

 

Sales escreveu à Senhora Bourgeois: “Deus fez o nosso coração para que fosse o seu paraíso”. Por isso a espiritualidade salesiana dá um destaque todo especial ao coração. Deriva do uso comum e universal de coração que tem como finalidade delinear a sensibilidade e a interioridade da pessoa. Mas, também, da tradição bíblica, pois o coração é a sede das faculdades, especialmente do amor, da vontade e da inteligência.

 

Para Francisco, o coração tem uma simbologia muito rica, pois representa a busca amorosa de Deus pela família humana e, ao mesmo tempo, o desejo de cada pessoa à união amorosa com Deus. Para ele, a “encarnação é como que o beijo de Deus para a criação”. É o momento da história em que, finalmente, os corações divino e humano se encontram. Por isso a mística salesiana tem três elementos: a união com Cristo, a transformação interior em outro Cristo e o fiel cumprimento do amor. Esta união com Cristo coloca o Salvador no coração do discípulo.

 

Aí está a devoção ao Sagrado Coração de Jesus para São Francisco de Sales. Assim, o coração de Jesus é considerado como a morada, o refúgio, o ninho da alma unida. Escrevendo sobre isso a Santa Joana de Chantal ele diz: “Ó Deus, minha querida Mãe, você deve colocar seu coração em Deus e nunca tirá-lo. Só ele é a nossa paz, a nossa consolação e a nossa glória: o que resta senão que nos unamos mais e mais a este Salvador, para darmos bons frutos? Não estamos muito felizes, minha querida Madre, de poder colocar nosso coração no do Salvador que é enxertado na Divindade? Pois assim, essa Essência infinitamente soberana é a raiz da árvore, da qual somos os ramos, e nossos amores os frutos”.

 

A espiritualidade da cruz

O amor supremo do Coração de Jesus para conosco acontece, como já vimos, no monte Calvário. Sales pergunta: o que acontecia no coração e na mente de Jesus durante a agonia na cruz? E ele responde: Jesus estava levantando cada um de nós “pelo nome e sobrenome” ao trono da misericórdia de Deus. Amar a Cristo é, então, amar seu Coração, unir-se, fundir-se com seu Coração. Comunga-se no “Corpo” de Cristo “entregue por nós”, no Coração de Cristo agonizando por nós e no Coração de Cristo traspassado por nós. A espiritualidade do coração leva, portanto, à espiritualidade da cruz: “Completo em minha carne o que falta à paixão de Cristo, por seu Corpo, que é a Igreja”. É amor que sofre! Enquanto o amor não seja todo de seu Bem, todo de seu Deus, não pode senão sofrer.

 

Francisco de Sales ensinou seu discípulo a sacrificar tudo a este perfeito amor, chegando até “a morte da própria vontade” e a imolar todo beneplácito pessoal diante do beneplácito do Pai. Este amor o levará junto a Jesus, no horto da agonia, para dizer com Ele seu Fiat. Também Sales nos ensina que não temos dois corações: um para amar a Deus e outro para amar os irmãos. Temos um só coração e precisamos aprender a amar, ao mesmo tempo, Deus e o próximo.

 

Cristo vive em mim!

São Francisco, escrevendo a Chantal, diz que o nosso coração pertence ao Senhor: “Se houvesse em nosso coração um só fio de afeto que não fosse para Ele e d’Ele, oh Deus! O arrancaríamos imediatamente... Sim queridíssima filha, se houvesse em nosso coração uma grama que não tivesse o sinal do crucifixo, não a manteríamos um só momento, posto que Deus é meu Deus e meu coração é todo seu”.

 

Na “Introdução à Vida Devota”, Sales afirma que precisamos abrir o nosso coração para Jesus, para que sua mensagem de amor possa entrar em nós e influenciar nossas palavras e ações. É um texto muito bonito que diz o seguinte: “Sim, porque aquele que leva Cristo em seu coração, em seguida o manifestará em todos os seus atos exteriores. Por isso, amada Filoteia, quis, antes de tudo, gravar sobre o teu coração esta frase santa e sagrada: Jesus Vive! Estou seguro de que depois a tua vida, que brota do coração como a amendoeira de sua semente, produzirá obras, que são os frutos, levando escrita a mesma palavra da salvação; e como este mesmo Jesus quer viver dentro do teu coração, também viverá em todos os teus atos, manifestando-se em teus olhos, em tua boca, em tuas mãos e até em teus cabelos; e poderás dizer, à imitação de São Paulo: Eu vivo, mas não eu; é Cristo quem vive em mim”.

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O coração de Jesus como escola do amor!

Domingo, 26 Junho 2022 16:54 Escrito por  Pe. Tarcizio Paulo Odelli, SDB
O mês de junho é dedicado à devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Muitos santos dos tempos modernos procuraram difundir esta devoção. São Francisco de Sales também a difundiu, principalmente através do “Tratado do Amor de Deus”.    

São Francisco de Sales, infelizmente, não é muito reconhecido por difundir a devoção ao Coração de Jesus. Porém, foi a uma sua filha visitandina, Santa Margarida Maria Alacoque, que o Sagrado Coração de Jesus apareceu e, por meio dela, se propagou esta devoção. Dom Bosco também sempre cultivou a devoção ao Coração de Jesus, e a propagou através do “Jovem instruído”. Também é uma tradição que os noviciados salesianos tenham como padroeiro o Sagrado Coração de Jesus.

 

Para São Francisco de Sales existe uma escola onde todos, santos e pecadores, podem se matricular. O programa desta escola consiste em aprender e conhecer o amor apaixonado de Deus por nós e nos apaixonarmos por Ele. E a “academia da dileção”, como ele a chama, tem sua sede no monte calvário.

 

Ele escreve no último capítulo do “Tratado do Amor de Deus”: “Teótimo, o monte Calvário é o monte dos amantes. Todo o amor que não tiver por origem a Paixão do Salvador é frívolo e perigoso. Desditosa é a morte sem o amor do Salvador; desditoso é o amor sem a morte do Salvador. O amor e a morte estão de tal modo confundidos na Paixão do Salvador, que não pode ter-se no coração um sem o outro. No Calvário não pode ter-se a vida sem o amor, nem o amor sem a morte do Redentor; mas, fora daí, ou bem morte eterna, ou bem amor eterno e toda a sabedoria cristã consiste em escolher bem”.

 

O Salvador no coração do discípulo

No tempo de São Francisco de Sales estavam se iniciando os estudos anatômicos. Ele vivenciou isso quando estudou em Pádua. Começaram a estudar o corpo humano e descobriram que o coração era um órgão vital. Em seguida veio a descoberta da circulação do sangue. Por isso, a palavra “coração” é muito usada por Francisco de Sales como um recurso à sensibilidade e à emoção, pela necessidade de enfrentar a aridez calvinista e pela pastoral da vivência cristã, na esperança e no amor.

 

Sales escreveu à Senhora Bourgeois: “Deus fez o nosso coração para que fosse o seu paraíso”. Por isso a espiritualidade salesiana dá um destaque todo especial ao coração. Deriva do uso comum e universal de coração que tem como finalidade delinear a sensibilidade e a interioridade da pessoa. Mas, também, da tradição bíblica, pois o coração é a sede das faculdades, especialmente do amor, da vontade e da inteligência.

 

Para Francisco, o coração tem uma simbologia muito rica, pois representa a busca amorosa de Deus pela família humana e, ao mesmo tempo, o desejo de cada pessoa à união amorosa com Deus. Para ele, a “encarnação é como que o beijo de Deus para a criação”. É o momento da história em que, finalmente, os corações divino e humano se encontram. Por isso a mística salesiana tem três elementos: a união com Cristo, a transformação interior em outro Cristo e o fiel cumprimento do amor. Esta união com Cristo coloca o Salvador no coração do discípulo.

 

Aí está a devoção ao Sagrado Coração de Jesus para São Francisco de Sales. Assim, o coração de Jesus é considerado como a morada, o refúgio, o ninho da alma unida. Escrevendo sobre isso a Santa Joana de Chantal ele diz: “Ó Deus, minha querida Mãe, você deve colocar seu coração em Deus e nunca tirá-lo. Só ele é a nossa paz, a nossa consolação e a nossa glória: o que resta senão que nos unamos mais e mais a este Salvador, para darmos bons frutos? Não estamos muito felizes, minha querida Madre, de poder colocar nosso coração no do Salvador que é enxertado na Divindade? Pois assim, essa Essência infinitamente soberana é a raiz da árvore, da qual somos os ramos, e nossos amores os frutos”.

 

A espiritualidade da cruz

O amor supremo do Coração de Jesus para conosco acontece, como já vimos, no monte Calvário. Sales pergunta: o que acontecia no coração e na mente de Jesus durante a agonia na cruz? E ele responde: Jesus estava levantando cada um de nós “pelo nome e sobrenome” ao trono da misericórdia de Deus. Amar a Cristo é, então, amar seu Coração, unir-se, fundir-se com seu Coração. Comunga-se no “Corpo” de Cristo “entregue por nós”, no Coração de Cristo agonizando por nós e no Coração de Cristo traspassado por nós. A espiritualidade do coração leva, portanto, à espiritualidade da cruz: “Completo em minha carne o que falta à paixão de Cristo, por seu Corpo, que é a Igreja”. É amor que sofre! Enquanto o amor não seja todo de seu Bem, todo de seu Deus, não pode senão sofrer.

 

Francisco de Sales ensinou seu discípulo a sacrificar tudo a este perfeito amor, chegando até “a morte da própria vontade” e a imolar todo beneplácito pessoal diante do beneplácito do Pai. Este amor o levará junto a Jesus, no horto da agonia, para dizer com Ele seu Fiat. Também Sales nos ensina que não temos dois corações: um para amar a Deus e outro para amar os irmãos. Temos um só coração e precisamos aprender a amar, ao mesmo tempo, Deus e o próximo.

 

Cristo vive em mim!

São Francisco, escrevendo a Chantal, diz que o nosso coração pertence ao Senhor: “Se houvesse em nosso coração um só fio de afeto que não fosse para Ele e d’Ele, oh Deus! O arrancaríamos imediatamente... Sim queridíssima filha, se houvesse em nosso coração uma grama que não tivesse o sinal do crucifixo, não a manteríamos um só momento, posto que Deus é meu Deus e meu coração é todo seu”.

 

Na “Introdução à Vida Devota”, Sales afirma que precisamos abrir o nosso coração para Jesus, para que sua mensagem de amor possa entrar em nós e influenciar nossas palavras e ações. É um texto muito bonito que diz o seguinte: “Sim, porque aquele que leva Cristo em seu coração, em seguida o manifestará em todos os seus atos exteriores. Por isso, amada Filoteia, quis, antes de tudo, gravar sobre o teu coração esta frase santa e sagrada: Jesus Vive! Estou seguro de que depois a tua vida, que brota do coração como a amendoeira de sua semente, produzirá obras, que são os frutos, levando escrita a mesma palavra da salvação; e como este mesmo Jesus quer viver dentro do teu coração, também viverá em todos os teus atos, manifestando-se em teus olhos, em tua boca, em tuas mãos e até em teus cabelos; e poderás dizer, à imitação de São Paulo: Eu vivo, mas não eu; é Cristo quem vive em mim”.

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