Estamos vivendo tempos em que o que mais escutamos é: isolamento preventivo, fique em casa e home office. Tudo isso está mudando nossas vidas e fazendo com que, naturalmente e, em alguns casos, entremos em contato com os espaços de silêncio, solidão e tédio.
Contudo, este momento pode ser de grande valia para fazer um exercício de si mesmo, quase como se, em cada lar, sob o barulho dos filhos gritando, da dificuldade em se concentrar no trabalho e das inúmeras séries e filmes assistidos, encontrássemos um espaço vital, no qual podemos lançar novas luzes sobre a nossa vida e fazer a experiência de arejar a nossa existência. Mas, calma, isso não é necessariamente fácil, por isso, sugerimos algumas dicas daquilo que durante séculos, a história do pensamento filosófico vem construindo.
1º entretenha-se consigo mesmo. Revisite a sua história, os seus sonhos, esperanças e permita-se se revisitar como quem acaba de conhecer uma pessoa com uma história fantástica e pouco explorada. Faça de você o seu mais interessante interlocutor. Isso pode ser feito por meio de meditação, reflexão, diário, narrativas.
2º redescubra o que te dá brilhos nos olhos. Às vezes, a nossa rotina cheia de compromissos e informações nos impede de ver aquilo que realmente é importante para nós. A nossa vida cotidiana acelerada, na qual pensamos nos deveres, responsabilidades e maneiras de nos entretermos, nos impede de voltarmos o nosso olhar para aquilo que, de fato, nos encanta e nos dá um frio na barriga. Redescobrir o brilho nos olhos pode ser um caminho interessante para relembrarmos onde, de fato, colocamos o nosso coração e construímos a nossa morada interior.
3º não tenha pressa. Os dias de isolamento que virão nos darão a oportunidade de desfrutar do tempo necessário para cultivarmos perguntas importantes e deixar que as respostas cresçam e maturem lentamente em nós. Não há crescimento fast food. O processo de construção da morada interior é mais marcado por pausas do que por avanços.
4º acolha em si aqueles que te fazem bem. Ainda que a distância, seja por telefone ou videoconferência, redescubra aquelas pessoas que te ajudaram a ser quem você é. Amigos, família, entes queridos que, às vezes, pela rotina do dia a dia foram se afastando.
Dias de mobilidade reduzida virão. Então, é preciso redescobrir a interioridade como um grande espaço no qual podemos ser. Que o tédio decorrente do fato de não podermos sair, visitar lugares e pessoas não seja o maestro destes dias vindouros, mas que possamos redescobrir aquilo que nos motiva a sorrir e a ser melhor, isto é, nós mesmos.
Fonte: Doutor Gillianno Mazzetto - Filósofo, doutor em Psicologia e professor da UCDB