Um estudo recente realizado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) aponta nove incêndios recentes na cidade de São Paulo que aconteceram em locais de grande valorização imobiliária. Além dos incêndios, estamos vivenciando uma onda de reintegração de posses, despejos e remoções de favelas e de áreas debaixo de viadutos, principalmente, nos locais que estão passando por um “boom imobiliário”.
Temos em São Paulo cerca de 3,5 milhões de pessoas que sobrevivem, em condições precárias, em favelas, cortiços e loteamentos irregulares. No entanto, em vez de constituir um projeto de planejamento urbano participativo e assegurar o direito à moradia, o processo de verticalização, em São Paulo, avança sem o mínimo de planejamento urbano, sendo que há suspeita de que vários empreendimentos imobiliários foram aprovados mediante corrupção.
A falta de compromisso político com a população mais carente da cidade está evidenciada na falta de projetos e de investimentos em habitação popular e explica o fenômeno dos incêndios nas favelas de São Paulo.
Testemunho de irmã Maria Genoveva Corrêa sobre o incêndio do dia 23 de agosto:
“Acompanho de perto as famílias atingidas pelo fogo. Foram muitas as que tiveram de se abrigar em casas de parentes nas favelas mais próximas. É impossível descrever o ‘aperto’ em que ainda estão vivendo. Algumas famílias foram obrigadas a mudar para bairros mais distantes, pois, somente lá encontraram possibilidade de alugar moradia compatível com seus escassos rendimentos. Há pessoas que ganharam geladeira, fogão, cama dos próprios patrões, mas não puderam aceitar porque não têm onde colocar os preciosos presentes.
Grande foi a evasão de crianças participantes dos projetos do Centro Cultural, da catequese e outras atividades.
Logo após o incêndio, 28 famílias foram abrigadas, temporariamente, em um barracão de Escola de Samba, localizada debaixo de um Viaduto, próximo à favela queimada. O local oferecido não possui nenhuma infraestrutura, sendo apenas um barracão com dois banheiros. Durante, mais de um mês, todos os desabrigados foram acolhidos no local, pois não tinham condições para encontrar outra moradia. Algumas destas famílias não tiveram a casa destruída com o incêndio, porque são de alvenaria, mas, estavam proibidas de retornar devido ao abalo que sofreram.
O combinado era ninguém assinar o auxílio aluguel, pois isso significava deixar o local em definitivo. Mas... alguns não resistiram e assinaram. Agora, todos, estão obrigados a sair. É muito triste ver estas pessoas desoladas e se sentindo entregues à própria sorte...
Ao lado de tudo isso, pudemos vivenciar a força da generosidade de tanta gente. Não faltaram alimentos, roupas, assistência à saúde. Foi muito bonita esta participação fraterna!
Revendo toda esta situação, é impossível não lamentar a situação do nosso povo. O Povo de Deus, vivendo, hoje, tão subjugado, como no tempo de Jesus”.
Texto originalmente publicado no Em Família, periódico da Inspetoria Santa Catarina de Sena (FMA-SP), edição de agosto-setembro de 2012. Veja a revista completa: http://issuu.com/salesianas/docs/32_emfamilia_web