O projeto surgiu como resposta aos problemas que afligem as aldeias Xavante e Bororo que são atendidas pelos salesianos em Mato Grosso. “O envolvimento com bebidas e até mesmo drogas está cada vez mais presente e acreditamos que, por meio da educação, os indígenas, sobretudo os jovens, terão condições de se firmar como cidadãos e de auxiliar suas comunidades”, lembra Teixeira.
Essa visão é compartilhada por Bergamim. Aluno do 1º semestre de Serviço Social, fez essa opção por acreditar que “precisamos conhecer melhor nossos direitos e também os deveres”. “Se fosse possível, queria fazer Engenharia Civil, mas acho que o que a minha comunidade precisa mesmo é conhecer seus direitos e deveres. Precisa de alguém que os ajude nisso. Quero conhecer os direitos de todos, não só dos indígenas, porque eu acho que isso pode ser muito útil”, aponta o jovem.
Adaptação a uma nova vida
A adaptação dos jovens Xavante e Bororo aos horários e rotinas da vida na cidade tem sido acompanhada pela Missão Salesiana. Quando receberam o convite para estudar na UCDB, todos foram conscientizados de que receberiam todo o apoio necessário, mas que também teriam de trabalhar para, gradativamente, garantir seu sustento.
“É um jeito de fazer com que a gente caminhe pelas próprias pernas”, diz Bergamim. Por causa de suas habilidades na lida com madeira, ele está trabalhando na marcenaria da Sede Inspetorial. Os demais foram contratados como auxiliares de serviços gerais, no Instituto São Vicente. O período de trabalho, nas primeiras semanas, era de segunda a sábado, sempre no contraturno do curso na UCDB. Logo foi percebida dificuldade no desempenho acadêmico, o que motivou alteração para três dias de trabalho por semana.
Outra dificuldade é a compreensão da Língua Portuguesa. Segundo Bergamim, esse obstáculo é encontrado por todos do grupo que veio das aldeias de Mato Grosso e também por outros indígenas que estudam na UCDB. “No meu curso existem outros indígenas (da etnia Terena) que também passaram e ainda passam pelas mesmas dificuldades. Eles me ajudam, me dão apoio para que eu não desanime”, afirma.
Para auxiliar na melhor compreensão das disciplinas e também na produção de texto, foi solicitado apoio dos monitores do Núcleo de Estudos e Pesquisas das Populações Indígenas (Neppi), da UCDB. Agora, os profissionais do Neppi vão oferecer a eles aulas regulares de Língua Portuguesa para que possam ter melhor desenvoltura, tanto na compreensão de textos quanto na apresentação de trabalhos em sala de aula.
Há ainda o desafio da organização das casas. As residências masculina e feminina têm coordenadores, sendo que essa coordenação é rotativa, pelo período de 30 dias, dando oportunidade para que todos possam assumir as responsabilidades relacionadas às despesas, à manutenção e ao bom relacionamento.
Superação
Mesmo com as dificuldades, Bergamim afirma que a vontade compartilhada por todos “é não desistir”. Ele se lembra do dia em que foi convidado a vir para Campo Grande. “Foi uma coisa muito boa. Eu tinha esse sonho de fazer uma faculdade. Fiquei muito feliz e agradeci a Deus”, diz o jovem. Além dele, completam o grupo de jovens acadêmicos indígenas: Daniela Kietaga, Felizardo Tsite Tserehite, Vera Lina Iwarare Eimejerago, Flaviana Retsiba Tserenhowamre, Carlos Orione Ra Wariro Tsimroparidi, Cleciane Pedata Tserehite, Gonçalo Marques Koetaro, Honorio Tserenhiroto Rewe Tswe, Virgilio Buruwaro Tserehite e Leosmar Tsimi’udo Tseretsu e Milton Bokoderegaru.