Denis Mukwege, o homem que "reconstrói" as mulheres

Segunda, 26 Novembro 2018 11:20 Escrito por  ANS
Para marcar o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, celebrado ontem, 25 de novembro, a Agência InfoSalesiana – ANS – realizou uma entrevista com o médico congolês Denis Mukwege, Prêmio Nobel da Paz de 2018, que dedica a vida a tratar vítimas de abusos terríveis.  

Nascido em 1º de março de 1955 em Bukavu, Kivu do Sul (província da República Democrática do Congo), desde criança Denis Mukwege percebeu as condições de inferioridade nas quais vivem as mulheres. "Quando acompanhava meu pai ao hospital para visitar os doentes, percebia que as pacientes recebiam cuidados insuficientes e muitas vezes morriam após o parto. Eu me perguntava o que eu poderia fazer por elas".

 

Depois de terminar a escola, estudou Medicina e especializou-se em Ginecologia e Obstetrícia. Recusou-se a fazer carreira acadêmica, preferindo retornar a Bukavu para combater a violência contra as mulheres. "A parte oriental do Congo - explica ele - poderia transformar o país em um dos mais ricos do mundo. Todavia, há décadas é atravessada por conflitos e violência que têm entre as suas principais vítimas, mulheres e crianças... Os corpos das mulheres tornaram-se campos de batalha, e o estupro, uma arma de guerra que não apenas viola o corpo da vítima, mas a destrói psicologicamente e atinge toda a comunidade".

 

Na República Democrática do Congo, ao longo dos últimos vinte anos foram estupradas e marcadas profundamente mais de 1,8 milhões de mulheres, durante as duas guerras civis (1996-2003) e, em seguida, durante o conflito entre Norte e Sul (2004-2009) e até hoje, com as incursões contínuas realizadas por vários grupos armados.

 

"Para 'convencer' a comunidade a não resistir, os atacantes se voltam contra as mulheres: estuprando-as em público, muitas vezes na frente de seu marido ou filhos, e torturando quase sempre com objetos que causam lesões graves em seus genitais", conta Mukwege.

 

Em 1989, para cuidar e dar alívio às mulheres do Kivu do Sul, Mukwege criou uma ala de maternidade em Lemera, que foi destruída. Sem desanimar, ele construiu outra em Bukavu, sua cidade natal, mas esta também durou pouco. Com confiança e tenacidade ele construiu - sempre em Bukavu - o "Hospital Panzi" que, desde 1999, acolhe e cuida de mais de 50.000 mulheres vítimas de violência sexual.

 

"Elas são como um lenço rasgado: é preciso pegar os fios e costurá-los novamente um por um". É assim que Mukwege descreve as condições físicas e psicológicas das mulheres que ele cuida. E conclui: "Não sei quantas vezes, observando-as em seus leitos de dor, me desesperei e me perguntei: 'Como poderão se recuperar?'. E, a cada vez, me surpreendo, descubro que elas se erguem de novo, não por si, mas por suas famílias e por seus filhos. Eu acredito que nós homens temos realmente muito que aprender com elas”.

Fonte: ANS

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Denis Mukwege, o homem que "reconstrói" as mulheres

Segunda, 26 Novembro 2018 11:20 Escrito por  ANS
Para marcar o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, celebrado ontem, 25 de novembro, a Agência InfoSalesiana – ANS – realizou uma entrevista com o médico congolês Denis Mukwege, Prêmio Nobel da Paz de 2018, que dedica a vida a tratar vítimas de abusos terríveis.  

Nascido em 1º de março de 1955 em Bukavu, Kivu do Sul (província da República Democrática do Congo), desde criança Denis Mukwege percebeu as condições de inferioridade nas quais vivem as mulheres. "Quando acompanhava meu pai ao hospital para visitar os doentes, percebia que as pacientes recebiam cuidados insuficientes e muitas vezes morriam após o parto. Eu me perguntava o que eu poderia fazer por elas".

 

Depois de terminar a escola, estudou Medicina e especializou-se em Ginecologia e Obstetrícia. Recusou-se a fazer carreira acadêmica, preferindo retornar a Bukavu para combater a violência contra as mulheres. "A parte oriental do Congo - explica ele - poderia transformar o país em um dos mais ricos do mundo. Todavia, há décadas é atravessada por conflitos e violência que têm entre as suas principais vítimas, mulheres e crianças... Os corpos das mulheres tornaram-se campos de batalha, e o estupro, uma arma de guerra que não apenas viola o corpo da vítima, mas a destrói psicologicamente e atinge toda a comunidade".

 

Na República Democrática do Congo, ao longo dos últimos vinte anos foram estupradas e marcadas profundamente mais de 1,8 milhões de mulheres, durante as duas guerras civis (1996-2003) e, em seguida, durante o conflito entre Norte e Sul (2004-2009) e até hoje, com as incursões contínuas realizadas por vários grupos armados.

 

"Para 'convencer' a comunidade a não resistir, os atacantes se voltam contra as mulheres: estuprando-as em público, muitas vezes na frente de seu marido ou filhos, e torturando quase sempre com objetos que causam lesões graves em seus genitais", conta Mukwege.

 

Em 1989, para cuidar e dar alívio às mulheres do Kivu do Sul, Mukwege criou uma ala de maternidade em Lemera, que foi destruída. Sem desanimar, ele construiu outra em Bukavu, sua cidade natal, mas esta também durou pouco. Com confiança e tenacidade ele construiu - sempre em Bukavu - o "Hospital Panzi" que, desde 1999, acolhe e cuida de mais de 50.000 mulheres vítimas de violência sexual.

 

"Elas são como um lenço rasgado: é preciso pegar os fios e costurá-los novamente um por um". É assim que Mukwege descreve as condições físicas e psicológicas das mulheres que ele cuida. E conclui: "Não sei quantas vezes, observando-as em seus leitos de dor, me desesperei e me perguntei: 'Como poderão se recuperar?'. E, a cada vez, me surpreendo, descubro que elas se erguem de novo, não por si, mas por suas famílias e por seus filhos. Eu acredito que nós homens temos realmente muito que aprender com elas”.

Fonte: ANS

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